A história todo mundo já conhece. Mas é preciso ressignificar o ocorrido.
Wanderley Parizotto**
A questão do aborto era um problema somente da família.
A criança grávida, depois dos vários abusos sexuais praticados pelo tio, carregava nos braços um brinquedo, uma girafa , durante as seis horas de viagem entre Vitória (ES) e Recife (PE).
Já no aeroporto de Guararapes, foi recepcionada por um bando aos gritos de ‘assassina”.
Retirada do aeroporto, foi para o hospital. Lá outro bando posicionava-se à porta principal para impedir sua entrada. A garota, de 10 anos, foi, então, colocada no porta malas do carro e entrou pelos fundos.
O bando enlouquecido gritava ‘assassina’ para a menina e ‘aborteiro’ para o médico que realizaria o procedimento cirúrgico.
Outras mulheres grávidas que tentavam entrar no hospital para realizar partos, também não conseguiram entrar pela porta principal.
O grupo de enlouquecidos era liderado por uma vereadora, um deputado estadual e um pastor evangélico. Não citarei nomes, pois não sou igual a eles, porém, é fácil encontrar na internet. O bando, formado por falsos católicos e evangélicos, tentou invadir o hospital. Mas foi impedido pela polícia.
Deveria ter sido preso.
Se essa menina fosse rica, ninguém teria sabido. Faria o aborto, clandestinamente, numa clínica chique aqui no Brasil ou na Europa, onde é permitido na maioria dos países e é gratuito em diversos.
Mas o procedimento teria sido feito aqui.
A Europa não está facilitando a entrada de brasileiros em razão do coronavírus. Não somos bem aceitos.
Mas ela é pobre. Não bastava o abuso do tio.
Quem mais estuprou a menina:
- Quem vazou a informação do seu drama e destino para uma desvairada em Brasília, que também não citarei o nome, pela mesma razão já apontada acima;
- A desvairada que colocou o destino da garota nas redes sociais e incitou as pessoas a irem para o aeroporto e o hospital;
- Os políticos e religiosos que organizaram e participaram dos atos covardes e criminosos;
- Todos os participantes de tais atos;
- Todas as autoridades que se calaram diante do drama e não fizeram nada para proteger a menina;
- Todos os líderes religiosos que emudeceram diante do risco que corria a menina;
- A ministra Damares Alves, que na qualidade de chefe da pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos deveria ter respeitado a decisão da família, prevista em lei, e protegido a menina; e não soltar uma nota dizendo que o ministério ajudaria a menina e o bebê.
Como pode alguém imaginar que uma garota de 10 anos pode ser mãe em razão de um estupro?
- Todos aqueles responsáveis pelos hospitais que se recusaram a realizar o procedimento;
- E, por fim, todo brasileiro que não ficou enfurecido com os atos praticados pelo bando acima.
São todos praticantes de crime hediondo.
E, se estes brasileiros se preocupam tanto com a vida, por que não fazem nada para:
– 47 mil crianças que vivem em orfanatos e abrigos;
– 5,5 milhões de crianças que não têm o nome do pai no registro de nascimento;
– quase 30 mil crianças que moram nas ruas do país?
** Economista, criador do PortalPlena.
imagem de abertura: foter/shumpei_sano_exp9
Parabéns, Wanderley Parizotto . Fiquei doente ao ler comentários sobre este massacre publico contra uma criança. Este é o resultado da agressão pregada pelo dirigente da nação. As pessoas que estavam nas portas do hospital não podem ser consideradas religiosas, pois TODA religião tem Deus como Mestre.