Além da inflação e dos juros altos, aposentados enfrentam desafios como golpes virtuais, empréstimos para familiares e falta de educação financeira
Jornal da USP_Analice Candioto
Em um cenário de instabilidade econômica e crescente endividamento entre a população idosa, saber administrar a aposentadoria tornou-se mais do que uma necessidade: é uma questão de sobrevivência financeira. Entre 2020 e abril de 2025, o número de idosos inadimplentes subiu 43,16%, segundo os últimos dados da Serasa Experian. Atualmente, são mais de 14 milhões de pessoas com mais de 60 anos com dívidas em atraso, quase 5 milhões a mais que em 2020.
O professor Claudio de Souza Miranda, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, explica que uma das razões para o crescimento da inadimplência é o aumento do consumo dessa população.
“Quando a idade aumenta, os valores dos planos de saúde sobem. Os idosos começam a ter que tomar mais medicamentos e, com isso, o custo de vida aumenta”, aponta.
Para a consultora de crédito Vanessa Pereira Feitosa, a inadimplência envolve fatores econômicos, sociais e individuais. “Nota-se a alta da inflação, os juros estão bem elevados, e os idosos recebem um salário mínimo e gastam muito com medicamentos e mercados. Além disso, eles acabam emprestando seus nomes para filhos e netos por meio dos juros consignados. A partir disso, os valores vêm sendo descontados do pagamento e essas pessoas acabam não pagando esses aposentados e pensionistas.”
Segundo a consultora, a principal dificuldade desse público é a falta de educação financeira. “É um público bem limitado, falta conhecimento e tem dificuldade em acessar esse tipo de informação, pois muitos deles não têm alfabetização.”
Miranda diz que a educação financeira é viável, mas que deve ser implantada desde a juventude. “A educação financeira é um processo cultural e educacional do País, em que a sociedade vai sendo transformada aos poucos. O valor da aposentadoria é muito pequeno, por isso é necessário ter um planejamento financeiro”, afirma.
Outra medida, segundo o professor, é criar uma renda extra. “Hoje, tem-se criado muitas coisas ligadas à internet, como os motoristas de aplicativo. Porém, dependendo da idade do idoso, ele não tem mais capacidade de fazer isso, pode investir em atividades artesanais, intelectuais, de acordo com a sua experiência, e criar novas oportunidades de formação de renda.”
Crimes financeiros
Segundo o professor Alessandro Hirata, da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP, a população aposentada é um dos principais alvos e mais vulneráveis para os crimes financeiros. “Clonagem de cartão, golpes por meio de WhatsApp, mensagens falsas. Tudo isso tem levado a diversas situações, abusando dessa vulnerabilidade dos idosos em relação às informações, ao conhecimento desses meios digitais, que hoje são muito comuns e levam a diversas situações de crimes financeiros.”
Para se proteger desses golpes, Hirata diz que a melhor forma é a conscientização e entender como funcionam esses golpes. “Não se pode acreditar nessas mensagens de WhatsApp, mesmo que digam que é do banco desse idoso, que é o gerente desse banco falando. Isso não pode ser acreditado de forma automática, precisa ser checado e tomar muito cuidado, pois raramente essas mensagens são verdadeiras”, afirma o especialista.
*Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior e Gabriel Soares
Se você gosta do nosso trabalho compartilhe e comente nossas publicações! Você também nos fortalece quando curte o PortalPlenaGente+ nas redes sociais! A gente agradece!
Jornalista com experiência sobretudo em redação de textos variados - de meio ambiente à saúde; de temas sociais à política e urbanismo. Experiência no mercado editorial: pesquisa e redação de livros com focos diversos; acompanhamento do processo editorial (preparação de textos, revisão etc.); Assistência editorial free lancer. Revisora Free Lancer das editoras Planeta; Universo dos Livros e Alta Books. Semifinalista do Prêmio Oceanos 2020.