Por Renê Gardim (*)
Uma pesquisa encomendada pelo Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo (Sincovaga) à JFP Consultoria aponta que 73,1% dos consumidores deixaram de comer carne nos últimos tempos, 6% expurgaram de seus carrinhos de compras biscoito e feijão, alimento básico na mesa do brasileiro, juntamente com o arroz, e 10% já não passam pelas gôndolas e geladeiras de bebidas alcoólicas, iogurte, queijos e demais laticínios.
Os números foram divulgados por vários veículos de comunicação no sábado, dia 14 de abril de 2022, e mostram em porcentagem o fosso da economia brasileira, afogada pela inflação estratosférica que já consome os parcos ganhos da população nacional, principalmente a de baixa renda, mas também que já mina as vantagens financeiras da classe média.
A inflação já flerta com os 12% anuais depois de fechar março em 1,62% de alta, a maior em 28 anos. Ou seja, a maioria dos jovens, os adolescentes e as crianças não tinham nascido quando o Brasil amargou uma elevação de preços igual.
Nos últimos 12 meses a carestia sofreu com o incremento de 11,30% na inflação oficial.
De acordo com a pesquisa, praticamente um sexto da população (14,3%) já corta itens básicos de alimentação, 44,2% diminuiu a quantidade de produtos comprados, e dois terços cortam supérfluos (63,6%) e caçam promoções (61%).
Também na faixa de 60% estão aqueles que estão trocando as marcas preferidas pelas mais acessíveis.
Se o varejo não vende
Mas estas estratégias não são capazes de melhorar as vendas no varejo nacional. Em meio às pressões inflacionárias, salários mais baixos, desemprego elevado, informalidade e crédito mais caro, o consumo de bens permanece, insistentemente, abaixo dos níveis pré-pandemia.
É o que mostram os dados desagregados do Monitor do PIB (Produto Interno Bruto da Fundação Getúlio Vargas) divulgados no dia 11 de abril.
Se o varejo não vende, o atacado também fica às moscas. As fábricas não têm para quem repassar suas produções, que também diminuem o ritmo ou mesmo param. E esse é um caminho perigoso que estamos trilhando sem que absolutamente nada seja feito para conter o abismo da estagnação.
Vemos um governo sem ação, fazendo promessas e promovendo passeios de motos, mas sem ter nada de efetivo que possa ao menos gerar uma expectativa de melhorar. Ao contrário. Vemos medidas, como a troca do presidente da Petrobras, que não têm efeitos práticos algum. Estamos à deriva e sem timoneiro.
(*) Jornalista há 36 anos, atuou na Folha de Londrina, Jornal de Londrina e RBS. Foi editor de economia e agronegócio no DCI. Contato pelo e-mail
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