Palmirinha Onofre se foi hoje aos 91 anos. Em 2016, ela nos concedeu a entrevista que você acompanha a seguir…
Ana Claudia Vargas
‘Acreditem em vocês como sempre acreditaram, pois a idade não pode ser um empecilho para realizar sonhos. Sonhe com 60, 70, 80 e quanto mais puderem. Comecei a ter reconhecimento profissional aos 60 e o meu sucesso veio com a terceira idade’.
Não há quem não se encante com a culinarista e apresentadora de TV Palmirinha Onofre. Primeiro, porque ela tem aquele jeito interiorano que prima pela simplicidade e pela simpatia. Quando a vemos, logo nos lembramos de tardes agradáveis, daquela comidinha deliciosa feita por alguém especial e, mesmo que não tenhamos em casa livros de receitas antigos ou coisas do gênero, todos nós temos a chamada ‘memória olfativa’ (e isso é comprovado cientificamente) e podemos, sim, ter boas lembranças ao sentirmos ‘aquele’ aroma que pode
nos remeter à certa recordação da infância, da juventude ou de um tempo bom, enfim. O fato é que emoções podem ser facilmente despertadas, por exemplo, pelo aroma de um bolo que acabou de ser tirado do forno ou pelo sabor verdadeiramente esplêndido daquele pudim que só ‘aquela’ pessoa sabe fazer. Aliás, quando dizemos (e dizemos muitas vezes, não é mesmo?) ‘ até hoje me lembro do assado que minha avó fazia’ ou ‘ninguém fazia bolo de nata
como a fulana’; estamos conferindo àquela lembrança um status significativo em nossa vasta memória e isso é importantíssimo.
Outra coisa: você percebe o quanto nossas recordações mais caras e reveladoras estão quase sempre ligadas à comida? Talvez isso explique o fato de que os programas culinários da tevê são vistos por cada vez mais pessoas de faixas etárias e classes sociais extremamente diversas.
Mas ainda que haja inúmeros programas de gastronomia para todos os gostos, ainda que possamos assistir programas feitos em qualquer país com apresentadores muito sérios, muito modernos, tradicionais ou alternativos… É certo que quando queremos simplesmente aprender uma receita descomplicada e que tenha um aroma de nossas melhores recordações, não há como não nos lembrarmos da Palmirinha. Com seu jeito de avó acolhedora e compreensiva, daquelas que moram em uma casa com jardim na frente e que gostam de fazer comidinhas saborosas para quem chega, ela se tornou uma celebridade querida por todos nós.
O começo intuitivo
Mas a Palmirinha que você vê cozinhando pratos deliciosos na tevê com seu jeito de avó interiorana, é também uma pessoa determinada que enfrentou muitos problemas, criou as filhas sozinha em um tempo no qual havia bastante preconceito e resistiu a tudo isso porque acreditou (acredita) no seu talento.
Nessa grata entrevista, Palmirinha Onofre nos conta que chegou à tevê porque seguiu sua intuição ao levar uma cesta de salgadinhos para certa apresentadora de tevê. Ao ser convidada para o tal programa, ela _ sem pensar
profundamente no seu gesto – resolveu agradecer levando o tal mimo e o resto da história você já sabe: se tornou conhecida em todo o Brasil e quando nos referimos a ela, é certo que ouviremos elogios e palavras afetuosas. Na entrevista abaixo, Palmirinha também nos conta fatos de sua vida que explicam a origem
de sua simpatia e força de vontade. Para além da carinha de ‘avó boazinha’ você verá que sua coragem e determinação fizeram com que se tornasse uma pessoa reconhecida, sobretudo, por seu talento. Também vale destacar que Palmira Nery da Silva Onofre que nasceu em 1931, em Bauru, interior de São Paulo; deixa um recado importante para as mulheres e para os idosos. Mesmo sendo um clichê, podemos sim, dizer que a história de Palmirinha é um exemplo de esperança e fé na vida, basta ver a frase que ela registra aqui no Plena para todas
as mulheres: Acreditem em vocês como sempre acreditaram, pois a idade não pode ser um empecilho para realizar sonhos. Sonhe com 60, 70, 80 e quanto mais puderem. Comecei a ter reconhecimento profissional aos 60 e o meu sucesso veio com a terceira idade.
Acompanhe a conversa que tivemos com ela:
Palmirinha, a ideia de presentear a Silvia Poppovic com salgadinhos foi intuitiva?
Fui ao programa da Silvia Poppovic, porque uma das minhas clientes era produtora do programa dela e, para agradecer o convite e sem avaliar direito as repercussões, levei uma cesta feita de massa cheia de salgadinhos. A Silvia gostou tanto que até colocou meu telefone no ar, daí choveram encomendas.
Ao receber o primeiro convite para trabalhar na TV não ficou com um ‘frio na barriga’?
Todo desafio causa frio na barriga, mas é isso que motiva a fazer. Esta era a minha chance de conseguir divulgar muito mais o meu trabalho, por isso não pensei duas vezes.
Como foi se separar e criar as filhas sozinha em um tempo em que isso era algo visto como um tabu?
Foi difícil, mas com muito amor e trabalhando duro dei conta do recado. Hoje tenho minha família do jeito que imaginei, todos muitos dignos e trabalhadores. Penso que o meu exemplo prevaleceu e isso me deixa feliz.
Você enfrentou algum tipo de preconceito? Se sim, poderia nos contar aquele que mais a marcou?
Se teve, confesso que não percebi. Sempre fui muito bem tratada e respeitada em todos os lugares que trabalhei.
Você sempre gostou de cozinhar? Prefere fazer doces ou salgados?
Sempre gostei, desde pequena já acompanhava a minha mãe na cozinha do hotel que tínhamos lá no interior. Depois, quando fui morar com Madame Georgette, uma senhora francesa que cuidou de mim dos 7 aos 14 anos e com quem iniciei meus conhecimentos em culinária. Assim, desenvolvi um aprendizado na área que, misturado ao fato de que diziam que eu tinha talento, me transformei em uma cozinheira de destaque por onde passava. Prefiro fazer os dois, gosto tanto de doce como de salgado.
Qual o prato predileto (para saborear e cozinhar)?
Melhor receita rápida – BOLINHO DE CHUVA
Melhor sobremesa para ocasiões especiais – TORTA DE LIMÃO
Melhor receita para receber as amigas – PUDIM DE LEITE CONDENSADO
Melhor pedida para os netos – TORTA HOLANDESA
Melhor prato para levar em uma festinha – QUEIJADINHA
Meu prato preferido – FRANGO ENSOPADO COM POLENTA
Como você lidou com os primeiros sinais do envelhecimento? Com naturalidade ou sentindo saudade da juventude?
Com muita naturalidade. A idade nos traz sabedoria, hoje tenho outra visão da vida, bem diferente do que tinha há anos atrás. Acho natural lembrar de coisas do passado, da juventude e sentir saudades, acho saudável; mas não é nada que me deixa triste. Gosto de aproveitar a idade que ELE me deixa ter.
Como vive esta fase de sua vida?
Trabalhando bastante. Ainda tenho muita força e vontade de trabalhar. Gosto de me manter ativa e graças a Deus tenho saúde para isso.
Conte-nos qual foi a lembrança mais marcante das fases abaixo:
Infância: foi quando aos sete anos saí de casa para vir morar em São Paulo com uma senhora francesa.
Adolescência e/ou juventude: ficar apaixonada pelo primeiro namorado que, posteriormente,veio a ser meu marido.
Aos 40 anos você estava ….
Prefiro não falar nada, pois foi nessa época que comecei a ter problemas no casamento.
De que época você mais sente saudade…
Meu pai foi um homem muito bom e, às vezes, sinto saudades da época de sua convivência e dos tempos felizes que passamos.
Quem foi (ou é) a pessoa da qual você se recorda com carinho?
Madame Georgette, que cuidou de mim em uma fase muito importante da minha criação; sou muito grata a ela.
Diga: uma palavra/frase que define o presente para você:
O presente para mim se resume à minha família. Adoro ficar com eles e sempre procuramos nos reunir, ainda que não seja fácil.
Tem projetos para o futuro? Poderia nos contar quais são eles ou ao menos um?
Sim, tenho muitos projetos… Não paro, mas o que eu gostaria mesmo era ter um programa semanal para poder continuar passando minhas receitas e dicas para as amiguinhas e amiguinhos.
Para você a vida é …
Família, trabalho, lazer e amor a todos.
Alguns conselhos da Palmirinha
Você faz alguma dieta especial ou come ‘de tudo’?
Como de tudo, mas tomo cuidado para não exagerar em algo que possa ser
nocivo à minha saúde. Ah! Muito importante: nunca bebi e nem fumei.
– Pratica alguma atividade física?
Atividade esportiva nunca pratiquei, mas já fiz de tudo na vida _ fui doméstica,
lavadora de carros, funcionária de indústria etc. _ e posso assegurar que
sempre foram atividades de muito esforço físico.
É adepta de alguma religião?
Sou católica, porém, respeito a religião de cada um. Acredito que o amor de
Deus é muito maior que divisões religiosas.
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