Pessoas jovens e sem deficiência podem ser pessoas com deficiência na velhice

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Todos os dias recebemos notícias de que o mundo está envelhecendo, no entanto há quem acredite que será para sempre jovem ou que não está suscetível à eventualidades que resultem em uma deficiência.

Por Olga Kos*

Segundo o relatório The World Population Prospects publicado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2019, o aumento da expectativa de vida e a queda dos níveis de fertilidade são as principais razões disso. De acordo com este documento, até 2050 uma em cada seis pessoas do planeta terá acima
de 65 anos. Já no Brasil, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), está em curso uma inversão na pirâmide etária, pois se em 2010 os
brasileiros com mais de 65 anos representavam 7,32% da população; a previsão é de  que, em 2060, este índice alcance 25,49% da população.

Contudo, para além dos dados obtidos através de pesquisas idôneas, uma questão raramente é debatida quando ‘falamos’ sobre a velhice: o fato de que, nesta etapa da vida, as limitações adquiridas por razões várias (problemas de saúde negligenciados ou sequer descobertos) podem se transformar em deficiências físicas depois dos 60 anos ou até antes.

Abordando o assunto de forma mais simples a intenção desse artigo é discutir o
seguinte: mesmo pessoas aparentemente saudáveis durante a juventude podem, com o correr dos anos e o avanço da maturidade, adquirir deficiências físicas relacionadas a diversos aspectos biológicos. Alguém que sofre um AVC, por exemplo, por ser fumante ou sedentário ou ambos, pode envelhecer tendo que lidar com as sequelas desta situação e, assim, se tornar um deficiente físico com problemas de audição, locomoção etc.

Ampliando ainda mais este debate, é preciso lembrar que, no Brasil, o acesso amplo aos cuidados com a saúde via rede pública (SUS) ainda não ocorrem de forma integral em todas as regiões, ou seja, a maioria dos brasileiros não possui sequer o hábito de fazer, ao longo da vida, o acompanhamento de doenças comuns que podem se agravar na fase da maturidade como hipertensão ou diabetes. Lembrando que estas duas doenças são grandes responsáveis por episódios de incapacitação física.

Ressaltando a questão da falta de acompanhamento da saúde ao longo da vida, temos acompanhado um dado preocupante relacionado à vida moderna: o número de pessoas obesas têm aumentado a cada ano, e embora este dado seja aparentemente ‘normal’ (quando pensamos na  equação sedentarismo + consumo de fast food + vida moderna) também precisa ser incluído neste debate, pois os problemas causados pela obesidade vão muito além dos estéticos, como geralmente se apregoa.

Olga Kos – crédito imagem UP

O que se constata é que, sob qualquer abordagem, a manutenção da saúde, a frequência de exames regulares, a prática de atividades físicas, a boa alimentação (etc.) são, desde sempre, atitudes preventivas que podem fazer com que tenhamos uma velhice saudável e sem limitações físicas que nos impeçam de (por exemplo) ter boa memória, boa audição, mobilidade etc.

Mas em um país como o Brasil, no qual as políticas públicas ainda costumam ser falhas quando se trata da saúde da população, o problema do envelhecimento populacional cria demandas mais sérias, pois esta pode se tornar também uma etapa na qual teremos que lidar com deficiências físicas resultantes tanto de nossa própria negligência, quanto daquela vinda do Estado que falha em seu dever de proporcionar aos cidadãos acesso aos recursos que poderiam prevenir a incidência de doenças. Doenças que, como dito, podem se tornar fatores que contribuem para uma velhice limitada pelas deficiências físicas.

Também não podemos esquecer dos acidentes, principalmente, os domésticos que acarretam  deficiências graves. Mas, para além de toda a discussão que envolve dados e demais aspectos ligados à saúde, a questão mais ampla deste debate  está relacionada ao seguinte: se você é jovem, cuide bem de sua saúde, mas, sobretudo, respeite as pessoas mais velhas que apresentam deficiências físicas.

Sempre é bom lembrar que a velhice chega para todos, amanhã você poderá estar na mesma condição e, nesta hora, o cuidado e o carinho do outro, em relação a você, fará toda diferença. Acredito que a maioria de nós já leu o
slogan: “cuidar do idoso, é cuidar de si mesmo”, acrescento que cuidar da pessoa com deficiência também é cuidar de si mesmo, afinal, nunca sabemos como será o amanhã.

Por fim, é fundamental ter em mente que ao adotar alguns cuidados  escolhemos a velhice que  queremos ter.

*Olga Kos é médica pediatra e fundadora do Instituto Olga Kos.

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