Sistema de saúde não está preparado para revolução da longevidade

Especialista cita projeto da USP sobre envelhecimento nos centros urbanos da América Latina e Caribe

José Carlos Ferreira – Jornal da USP

Entre os anos de 2000 e 2016, a expectativa de vida global aumentou em 5,5 anos; de 66,5 para 72 anos, de acordo com um relatório de estatísticas da Organização Mundial da Saúde. Segundo a OMS, a expectativa de vida continua sendo fortemente afetada pela renda. O relatório analisa países em grupos de renda, conforme a classificação do Banco Mundial. Em países em que a renda é menor, a expectativa de vida é 18,1 anos mais baixa do que a de países mais ricos. O relatório aponta ainda que a expectativa de vida das mulheres é maior do que a dos homens em todo o mundo.

Jornal da USP no Ar conversa com a professora Marília Cristina Prado Louvison, do Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, para entender quais os desafios que a longevidade traz para o poder público.

O envelhecimento populacional não poder ser visto como um problema, mas sim como um triunfo, destaca a professora Marília. O aumento na expectativa de vida é resultante do sucesso de várias políticas públicas empregadas ao longo de décadas. No entanto, uma população mais velha implica maiores desafios para o poder público. “O sistema de saúde tem que se preparar para a revolução da longevidade”, diz a especialista sobre as demandas que a terceira idade já está exigindo.

Houve uma diminuição da mortalidade, mas não da mortalidade sem incapacidade. Ou seja, se está vivendo mais, porém com maior tempo de dependência, pontua Marília. “Não estou dizendo que a velhice traz doenças necessariamente”, comenta a professora da Faculdade de Saúde Pública, e completa:

“Precisamos de políticas de promoção de saúde que nos façam envelhecer melhor, de maneira saudável”.

A professora Marília explica que a FSP segue um norteamento mundial da chamada “universidade mais amigável ao idoso”. Em resumo, trata-se de um movimento que busca formular uma cultura que possa olhar melhor para o idoso, “trazendo benefícios para a sociedade no sentido de conhecer, compreender e possibilitar que as políticas públicas possam responder às nossas necessidades (envelhecimento da população)”, discorre.

O inquérito Sabe ( Saúde, Bem-estar e Envelhecimento), coordenado pela FSP, investigou a saúde e o bem-estar de pessoas idosas em sete centros urbanos da América Latina e Caribe, dentre eles a cidade São Paulo. A professora Marília expõe que há outras iniciativas na faculdade a fim de compreender a relação idoso-cidade. Uma grande preocupação dessa população é a mobilidade. Os centros urbanos não estão preparados para comportar o idoso: quedas nas calçadas e nos ônibus são recorrentes.

Os governantes precisam estar atentos para questões como seguridade social e o sistema de saúde. É necessário “produzir aquilo que temos chamado de cuidados de longa duração, ou cuidados de dependência”, enfatiza Marília. Trata-se da consolidação de um sistema que garanta: primeiro, um envelhecimento saudável; segundo, dignidade para a pessoa idosa.

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