Já mencionamos que a Doença de Alzheimer causa alterações comportamentais. Hoje, falaremos sobre distúrbios alimentares causados pela doença em sua fase moderada a grave.
Muitas vezes, nosso familiar com Alzheimer esquece que almoçou ou jantou. E quer comer novamente.
Se várias pessoas da família jantam em horários diferentes, devido ao trabalho e/ou a escola, o portador de DA quer jantar junto com cada um deles. Isso porque acha que não comeu ainda. Quando negada a comida, dizendo que já jantou, ficam bravos. Acusam a família de não quererem dar comida para ele. Se irritam e falam coisas que muitas vezes deixam o cuidador arrependido por não ter dado o que o doente quer.
Vários pacientes chegam a engordar até 10 a 15 quilos nessa fase. O que faz com que corram o risco de se tornarem diabéticos de piorarem sua hipertensão (pressão alta) ou dislipidemia (colesterol alto). Uma maneira prática para conter essa situação é não deixar a comida sobre a mesa. Porque com comida à vista, a repetição vai ser frequente. Faça o prato de acordo com a necessidade e os outros familiares, se quiserem repetir algum alimento, vão busca-lo sobre o fogão. Cuidado com alimentos expostos ou à vista. Enquanto não terminarem o que veem, não param de comer e chegam até a passar mal em algumas ocasiões.
Não sabemos a explicação exata, mas a banana é a fruta mais consumida pelos pacientes com DA. Se sobre a mesa, na fruteira, ficarem 6 bananas, elas serão consumidas em questão de minutos. Às vezes, chegam a vomitar de tanto que comeram. Bolachas, doces, balas e qualquer outro tipo de “belisco” devem ficar longe do alcance dos olhos.
Mas, o cuidador familiar tende a ficar com dó de negar o alimento. Porém é preciso regular a alimentação pelo bem estar do paciente.
O mesmo vai acontecer em festas familiares (como aniversários de netos ou bisnetos) em que os doces ficam expostos e com grande facilidade para serem consumidos.
Outra alteração importante é a mudança no paladar.
Os portadores de DA passam a comer com satisfação alimentos de que nunca gostaram. Não acontece o contrário, isto é, deixar de gostar de algum alimento. Todos os alimentos passam a ser muitos saborosos! Os portadores de DA comem com a mesma satisfação uma chicória refogada ou um camarão na moranga.
Mas o contrário também pode acontecer. Alguns pacientes acham que já almoçaram ou jantaram e não quererem mais comer.
Essa situação é mais preocupante e complexa de se lidar. Nestes casos, eles diminuem a ingestão de alimentos e perdem peso. Correm o risco de ficarem desnutridos. Com muita paciência do cuidador, poderão aceitar a refeição. Mas, na maior parte das vezes, o prato de comida tem que ser oferecida várias vezes. Alguma vezes, o cuidador tem que comer junto para que possam se alimentar.
Nas fases finais da doença, normalmente, os portadores da Doença de Alzheimer param de se alimentar porque o “centro da fome” fica comprometido na neurodegeneração. Quase 100% dos pacientes passam a se alimentar por sonda naso-enteral. Muitas vezes, queixas dos familiares com relação a alimentação é para o fato de deixarem de comer. Neste caso, a melhor orientação é o fracionamento das refeições. A paciência em oferecer os alimentos que, no seu preparo, devem ser carregados com temperos em razão da diminuição do paladar. Não abusar no sal, mas colocar mais alho, cheiro-verde, cebola e etc. Essas duas condições são fases da doença que vão desaparecer com o tempo, mas vão terminar em sonda naso-enteral.
Por José Eduardo Martinelli – Instituto Martinelli de Geriatria e Gerontologia.