Estudo com mais de 23 mil pacientes mostra que sofrimento emocional intenso não se restringe a uma faixa etária; especialista alerta para sinais de risco e importância do apoio
Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio, ganha novos dados para embasar o debate. Levantamento da Telavita, plataforma nacional de saúde mental, analisou mais de 23 mil pacientes e identificou que a ideação suicida está presente de forma consistente nas gerações Millennials (3,84%), Z (4,47%) e X (4,22%). Apesar das diferenças percentuais, não houve distinção estatística relevante entre os grupos – um indicativo de que o sofrimento emocional intenso atravessa fases da vida adulta e não se concentra em uma geração específica.
A análise também revelou aspectos importantes sobre diagnósticos e comportamentos.
A ansiedade se manteve como o transtorno mais frequente entre Millennials, Geração Z e Geração X, reforçando sua prevalência em todas as faixas etárias adultas. O consumo de drogas foi maior entre a Geração Z (1,70%), seguida pelos Millennials (1,49%), acendendo um alerta sobre fatores de risco associados. Além disso, as mulheres representaram 64,2% da amostra, dado que pode indicar tanto maior adesão ao cuidado psicológico quanto sobrecarga emocional mais frequentemente reportada.
“Esses dados reforçam que a prevenção do suicídio precisa considerar aspectos históricos, culturais e sociais de cada geração e que a saúde mental deve ser tratada como prioridade em todas as fases da vida”, afirma Aline Silva, psicóloga e head de psicologia da Telavita, empresa pioneira em soluções digitais de psicologia e psiquiatria.
Segundo a especialista, os sinais mais comuns que podem indicar risco de suicídio envolvem mudanças no comportamento e no discurso: falas sobre morte ou falta de sentido na vida, isolamento social, alterações no sono e no apetite, perda de interesse por atividades antes prazerosas, aumento do uso de álcool ou drogas e gestos de despedida. “Amigos, familiares e colegas também podem perceber alterações sutis, como irritabilidade frequente, queda de rendimento escolar ou profissional, retraimento e expressões de desesperança. Muitas vezes são mudanças pequenas, mas persistentes, que chamam atenção justamente por destoar do padrão habitual daquele indivíduo”, completa.
Fatores de proteção
Entre os fatores de proteção mais eficazes, Aline destaca vínculos afetivos sólidos, acesso a serviços de saúde mental, redes de apoio confiáveis e atividades que fortaleçam a autoestima e o senso de pertencimento. Empresas, escolas e comunidades, segundo ela, podem colaborar por meio de campanhas educativas, capacitação de profissionais, políticas de bem-estar e oferta de canais de apoio psicológico, reduzindo estigmas e criando uma cultura de acolhimento.
“A informação clara, baseada em evidências e transmitida de forma responsável desconstrói preconceitos e encoraja a busca por ajuda. Ao quebrar o tabu, criamos espaço para diálogo aberto sobre sofrimento emocional, favorecendo tanto a identificação precoce de riscos quanto a ampliação do acesso a recursos de cuidado”, reforça.
Suspeita de risco
Diante da suspeita de risco de suicídio, a especialista recomenda demonstrar presença e acolhimento, ouvir sem julgamentos e levar os sinais a sério. Caso o risco pareça iminente, segundo ela, é essencial buscar apoio profissional imediato ou acionar serviços de emergência.
Além dos serviços privados, existem atualmente opções gratuitas no Brasil, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os serviços de saúde pública e o CVV (Centro de Valorização da Vida), disponível 24 horas pelo número 188 ou pelo site www.cvv.org.br.
A psicóloga também destaca que alguns grupos estão mais expostos a fatores de risco sociais, emocionais e estruturais: jovens que enfrentam pressões escolares e identitárias; idosos que lidam com perdas e isolamento; pessoas LGBTQIA+ que sofrem discriminação e rejeição; e profissionais de saúde que convivem com alta carga de estresse. “A postura recomendada é de empatia, acolhimento e respeito ao tempo da pessoa. Perguntar diretamente sobre pensamentos suicidas não aumenta o risco; ao contrário, cria um espaço seguro para que a pessoa expresse sua dor”, orienta.
Apoio ao luto por suicídio
Quando se trata do luto por suicídio, Aline destaca que ele frequentemente vem acompanhado de sentimentos intensos de culpa, impotência, raiva e estigma social, tornando o processo de elaboração ainda mais doloroso.
“É fundamental oferecer apoio respeitando o tempo e o espaço do enlutado, evitando frases culpabilizadoras e, em vez disso, presenciando de forma acolhedora e sensível”, recomenda. Para ela, a psicoterapia individual ou em grupo e os grupos de apoio para enlutados são estratégias comprovadamente eficazes, assim como práticas integrativas, busca pela espiritualidade e atividades que preservem e reforcem os laços simbólicos com a pessoa que partiu, contribuindo para a ressignificação da perda e para o processo de reconstrução emocional.
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Jornalista com experiência sobretudo em redação de textos variados - de meio ambiente à saúde; de temas sociais à política e urbanismo. Experiência no mercado editorial: pesquisa e redação de livros com focos diversos; acompanhamento do processo editorial (preparação de textos, revisão etc.); Assistência editorial free lancer. Revisora Free Lancer das editoras Planeta; Universo dos Livros e Alta Books. Semifinalista do Prêmio Oceanos 2020.