Um dos aspectos mais chocantes da crise entre Estados Unidos e Brasil, desencadeada por Donald Trump com aumento de tarifas e sanções ao Supremo Tribunal Federal, foi o silêncio da comunidade internacional.
Daniel Gallas_Role,Da BBC News Brasil em Londres
A avaliação é de Christopher Sabatini, pesquisador sênior do Programa América Latina, EUA e Américas da Chatham House, um dos principais think tank britânicos, com sede em Londres.
Não houve nenhuma manifestação de países da União Europeia ou de instituições multilaterais como as Nações Unidas e a Organização dos Estados Americanos (OEA) enquanto Trump usava ferramentas econômicas para realizar ataques à soberania e às instituições brasileiras.
“A gravidade do que está acontecendo não é apenas sem precedentes, mas muito séria”, disse Sabatini à BBC News Brasil.
Esse silêncio internacional reforça, na avaliação do analista, uma noção antiga de que os EUA conseguem bloquear a interferência do Hemisfério Ocidental na América do Sul e no Brasil, mantendo sua hegemonia — o que ficou conhecido nos séculos passados como Doutrina Monroe.
“Isso reforça aquele tema muito perigoso de que a América Latina é o quintal dos EUA. E isso é lamentável, porque isso é algo que exige uma reação internacional mais ampla”, diz Sabatini.
Muitos países e organismos estão quietos, segundo ele, por estarem eles próprios envolvidos em disputas com os EUA e Trump. O presidente americano conseguiu criar um clima de “cada um por si” — em que não existe cooperação internacional contra medidas abusivas do governo americano.
E o fato de esta intervenção estar acontecendo não em um pequeno país da região, mas na maior economia da América Latina é um sinal da força do governo Trump diante dos demais governos.

O pesquisador conversou com a BBC News Brasil após o ministro do STF Alexandre de Moraes decretar a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro na segunda-feira (4/8).
Para Sabatini, mesmo que o bolsonarismo ganhe algum impulso com a ajuda de Trump, ele acredita que parte da opinião pública brasileira deve se voltar contra Jair e Eduardo Bolsonaro quando o impacto econômico das tarifas de Trump começar a ser sentido na economia.

Para ele, isso favoreceria não só o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como o surgimento de uma nova liderança dentro do movimento bolsonarista — como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
E a pior crise na história das relações entre EUA e Brasil pode piorar ainda mais nos próximos meses segundo o analista — quando houver o julgamento definitivo de Bolsonaro no STF e as eleições presidenciais de 2026.
Sabatini acredita que caso Bolsonaro venha a ser condenado no STF, os EUA poderiam aumentar ainda mais sua pressão contra o Brasil, usando ferramentas como sanções individuais a integrantes do governo Lula.
A saída mais provável para a crise, segundo o analista, não viria de negociações — já que nem Brasil e nem EUA poderia recuar neste momento, pois teriam perdas políticas enormes.
Nesta terça-feira (5/8), Lula afirmou que não vai ligar para Trump para falar sobre o tarifaço porque o norte-americano não está interessado.
“Não vou ligar para Trump para convencer de nada não porque ele não quer falar”, afirmou. O presidente disse que deve falar com Trump sobre a COP30, marcada para novembro em Belém.
“Vou ligar para o Trump convidá-lo para vir para COP porque quero saber o que ele pensa da questão climática. Vou ter a gentileza de ligar”, disse Lula na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o Conselhão.
Para Sabatini, a solução mais provável aconteceria se senadores democratas conseguissem impedir no Congresso americano a guerra comercial travada por Trump, retirando poderes do presidente dos EUA.
Além de atuar na Chatham House, Christopher Sabatini faz parte de conselhos consultivos na Universidade de Harvard e na Divisão das Américas da Human Rights Watch. Ele tem doutorado em políticas de governo pela universidade de Virginia.
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Jornalista com experiência sobretudo em redação de textos variados - de meio ambiente à saúde; de temas sociais à política e urbanismo. Experiência no mercado editorial: pesquisa e redação de livros com focos diversos; acompanhamento do processo editorial (preparação de textos, revisão etc.); Assistência editorial free lancer. Revisora Free Lancer das editoras Planeta; Universo dos Livros e Alta Books. Semifinalista do Prêmio Oceanos 2020.