Cresce o número de idosos usuários da internet, mas é preciso integrá-los ao processo tecnológico

Embora existam planos e ações voltadas à questão do letramento digital, projetos como cursos de informática para idosos são poucos

Jornal da USP_Henrique Giacomin*

O uso da internet alcançou a marca de 70% dos idosos brasileiros em 2024, mas eles sabem como usar a internet? Dados recém-publicados pelo IBGE indicam um aumento na população idosa que utiliza as redes, mas ao mesmo tempo, 66% desses usuários afirmam não saber utilizar os recursos disponíveis.

Isso levanta um alerta, trazendo à tona a necessidade de discussão de políticas públicas que permitam que os idosos entendam e acessem o potencial dessas tecnologias. Sobre o letramento digital na terceira idade, quem explica é a professora Meire Cachioni, do curso de Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo e coordenadora do programa USP 60+ na mesma unidade.

“Esse aumento, que aparece nos dados do IBGE, é reflexo ainda de um passado da pandemia. Principalmente em relação aos idosos, nós tivemos um aumento de conectividade e busca de informações e de contatos sociais por meio das redes. Então é um reflexo de um momento em que as pessoas ficaram isoladas. Para além dessa questão do isolamento, muitas pessoas perceberam que era importante fazer esse investimento”, explica Meire.

Segundo ela, com o aumento da institucionalização das tecnologias para realizar tarefas básicas como marcar exames médicos nos aplicativos do SUS, chamar carros de aplicativo ou fazer transações bancárias, “você precisa estar incluso digitalmente”.

Integração tecnológica para idosos

Para além dos usos da tecnologia é necessário pensar no processo de integração da terceira idade com a tecnologia. “Conforme nós vamos envelhecendo, nosso processamento de informação vai se modificando. Quando você vai apresentar para uma pessoa mais velha uma informação absolutamente nova, que ela nunca viu na vida, é importante que você apresente com um processo onde ela vai fazendo associações com outras informações já recebidas ou com questões já vividas, e, mais importante ainda, que tenha um aspecto de necessidade cotidiana”, comenta Meire.

A professora, que coordena o programa USP 60+ na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, diz que no começo dos cursos voltados ao letramento digital se utilizavam computadores. Hoje, o foco é no letramento digital por meio de celulares e tablets, principalmente considerando as aplicações diárias que essas tecnologias podem ocupar nas nossas vidas.

Meire ainda salienta que o letramento digital no Brasil é baixo em todas as idades. Mesmo sendo um país com o uso massivo de celulares, os brasileiros em geral não se encontram na condição de letrados digitais. Embora existam planos e ações voltadas à questão do letramento digital, projetos como cursos de informática para idosos são poucos. “As políticas, elas teriam que ir em um caminho principalmente de privacidade e de proteção. A universidade tem feito, tem cumprido bem este papel de trabalhar os processos educativos nas chamadas universidades da terceira idade, como os projetos que nós temos dentro da USP. No entanto, na história governamental, é preciso um investimento nesse tipo de política que nós ainda não temos.”

Benefícios da integração tecnológica

Para além do consumo de informações, possibilidades de pesquisa e acesso a direitos garantidos por lei (como assistência social e aposentadoria), a integração tecnológica da terceira idade é capaz de promover o bem-estar e o acesso a uma dimensão social que exclui essa faixa etária.

Daniel Abs, professor do Instituto de Psicologia da USP, pontua: “Na circulação dentro das redes, do mundo digital, a gente precisa de uma educação, e entender também as relações sociais que vamos fazer. É importantíssimo para a socialização, para a interação social e para o bem-estar, porque é uma condição de conexão com o mundo, uma possibilidade que não existia antes. É uma terceira idade em que é possível se conectar não só com seus familiares, mas também com novos amigos, amigos antigos e amigos novos, participar de cursos, participar de aulas, assistir materiais, estar se informando, estar se entretendo, estar namorando. Porque isso também é uma dimensão que acabava ficando também esquecida e que também está presente nas relações sociais”.

O psicólogo também comenta que a educação digital, não só para os idosos, é um meio de melhorar a relação humana com a tecnologia, promovendo uma maior consciência sobre as relações sociais e sobre perigos enfrentados nas redes, como fake news, compartilhamento de dados pessoais, golpes digitais etc. “Agora os idosos se concentram nos smartphones e nos tablets. A partir daí é que eles vão avançando para tecnologias mais avançadas. Mas se você não tem conhecimento básico de buscas e das redes sociais, você não consegue avançar. Por isso que é tão importante esse processo inicial”, completa Meire Cachioni.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo

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Jornalista com experiência sobretudo em redação de textos variados - de meio ambiente à saúde; de temas sociais à política e urbanismo. Experiência no mercado editorial: pesquisa e redação de livros com focos diversos; acompanhamento do processo editorial (preparação de textos, revisão etc.); Assistência editorial free lancer. Revisora Free Lancer das editoras Planeta; Universo dos Livros e Alta Books. Semifinalista do Prêmio Oceanos 2020.

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