Tem gente que passa uma vida criticando quem interna pai ou mãe num lar especializado, principalmente porque pode parecer falta de gratidão para com os idosos que tanto já fizeram pela família.
Especialista da Sobramfa – Educação Médica & Humanismo destaca prós e contras
Mas será que em casa o paciente idoso vai contar com toda infraestrutura necessária para sua recuperação? Certamente, nem todo mundo tem opção.
Na opinião da médica Graziela Moreto, diretora da Sobramfa – Educação Médica & Humanismo, para tomar a melhor decisão possível é necessário levar em conta vários fatores – pensando sempre no bem do paciente e na conjuntura familiar que o cerca. “Nenhuma decisão deve ser tomada sem muita reflexão e conversa entre médico, paciente e familiares próximos. A bem da verdade, há pelo menos três opções: lares para idosos com supervisão médica integral, residenciais para idosos que necessitam de pouca assistência médica, e tratamento especializado em casa – com cuidadores dedicados 24 horas por dia. Quem depende de cadeira de rodas para se locomover ou quem tem sérios problemas cognitivos ou comportamentais certamente precisa de mais atenção e o melhor seria adaptar a casa e o núcleo familiar para prover esses cuidados”.
Graziela explica que os residenciais permitem que o paciente tenha o máximo de autonomia possível, sem comprometer sua segurança. Eles são encorajados a socializar com a família, amigos externos e internos. “São pessoas que precisam de alguma ajuda para se organizar e tomar os medicamentos na hora certa, além de uma alimentação regrada e atividades físicas e sociais que ajudarão na sua recuperação. Apesar de estar aumentando bastante o número de serviços como esse, também a figura do cuidador vem ganhando mais destaque. São profissionais que facilitam a rotina do idoso, estando muitas vezes encarregados de dar os medicamentos, dar banho e ajudar a vestir, garantir que o idoso se alimente como recomendado por seu médico, além de fazer passeios curtos, acompanhar nas consultas ou fisioterapia. Neste caso, também, nenhum tratamento mais intenso é necessário. Já quando o paciente está tratando uma doença grave, que exige visita médica regular e cuidados permanentes, o ideal é contar com um ambiente equipado e profissionais preparados para todo tipo de emergência. Sendo assim, quando esse paciente deixa o hospital, muitas vezes o ideal é ser internado numa casa de saúde especializada, com cuidados intensivos. Apesar de muita gente não poder recorrer a esse tipo de serviço, ainda assim seria o ideal”.
Na opinião da médica, é sempre importante analisar prós e contras. A primeira coisa a fazer é avaliar que tipo de cuidado o paciente vai precisar. A partir desse ponto, os membros mais próximos da família, que normalmente ajudariam na sua recuperação, precisam avaliar se têm condições de prover o melhor ambiente para o paciente, se têm tempo de sobra para se dedicar aos cuidados que envolvem medicamentos, higiene e alimentação. Isso sem mencionar o principal: atenção. Esse tipo de análise deve ser feito com base no longo prazo, já que algumas doenças exigem cuidados permanentes, por longos períodos, às vezes anos.
“O lado bom de ser cuidado em casa, além de estar familiarizado com o ambiente e os entes queridos, é que o tratamento vai levar em conta todas as preferências e necessidades do paciente. Além disso, algumas pessoas sentem-se mais confiantes em receber atenção de um único cuidador. Em determinadas situações, essa é também a saída menos dispendiosa – já que o idoso poderá contar até mesmo com um parente próximo que esteja disponível no período. Por outro lado, um lar para idosos com assistência médica 24 horas por dia, sete dias por semana, poderá ser a melhor alternativa para idosos que dependem de muitos cuidados. Neste caso, enquanto os familiares podem se dedicar apenas ao relacionamento com o paciente, uma equipe multidisciplinar de saúde cuidará de todo o resto”.
Entre os aspectos negativos de receber cuidados na própria casa, além dos altos custos de adaptações e de contar com pelo menos dois cuidadores para que o paciente receba atendimento 24 horas por dia, o risco de isolamento chama muita atenção.
De acordo com a especialista, é muito comum o idoso se isolar e, inclusive, enfrentar episódios de depressão ou ainda um declínio cognitivo. De outra parte, o lado ruim de se optar por uma casa de saúde especializada no atendimento ao paciente idoso é justamente a sensação de abandono que essa tomada de decisão pode suscitar. “Isso tem de ser bem trabalhado entre os membros da família, para que as reações individuais não acabem exacerbando esse sentimento por parte do paciente. Ele precisa saber que está ali para receber o melhor tratamento possível, durante um período determinado, e que será sempre bem acolhido junto à família assim que receber alta”, conclui a médica.
Sobre a SOBRAMFA
Inicialmente criada como Sociedade Brasileira de Medicina de Família, em 1992, a SOBRAMFA está sempre alinhada com as transformações na área da Saúde, principalmente no que se refere à “Medicina centrada no paciente”. Com o avanço da tecnologia voltada para diagnóstico e tratamento, cada vez menos estudantes e médicos conseguem desenvolver um olhar mais holístico sobre o paciente, conhecendo não apenas seu histórico completo de saúde, mas detalhes importantes de sua rotina e do envolvimento de seus familiares no processo.
Graziela Moreto é doutora em Ciências Médicas, diretora da Sobramfa – Educação Médica & Humanismo – Saiba mais em www.sobramfa.com.br.