Milu Freitas: toda a plenitude de uma vida bem vivida

Milu Freitas tem 90 anos, mas isso é um mero detalhe que, no entanto, é importante  quando se observa que sua vida é vivida de forma criativa, autônoma e o mais importante: rodeada de amigos de todas as idades.

Ana Claudia Vargas

Alegria contagiante, sorriso iluminado, disposição a toda prova. De manhã, ela pode estar pintando mais uma de suas telas, à tarde pode estar almoçando com as pessoas que gosta e quem sabe, daqui a dois dias, ela poderá estar se preparando para uma viagem ao litoral. Nas fotografias postadas, ela está sempre rodeada de amigos de idades variadas, pessoas sorridentes que parecem celebrar cada momento da existência.

 Pois assim é Milu Freitas, uma adorável senhora que conheci aqui no Facebook e que chamou minha atenção pela qualidade das pinturas que posta. Seu talento é inegável, tanto que ela já ganhou prêmios em exposições na Bélgica e em Paris. Mas talvez o maior talento de  Milu seja sua alegria de viver, algo realmente raro quando lembramos que ela tem 90 anos.

Ora, e porque uma pessoa de 90 anos não pode gostar da vida, não pode pintar lindos quadros (realmente bonitos e não com aquela ‘cara’ de pintura amadora), escrever poesias,  tomar chocolate quente ou almoçar ‘fora’ com amigos e amigas de todas as idades?

Resposta: porque isso é tão incomum que se não fosse, Milu não estaria nessa matéria do Plena.

O comum é vermos idosos que vivem isolados ou em companhia de filhos que querem impor seus programas a eles. O comum é vermos idosos excluídos do convívio familiar porque são lentos (e etc.), porque eles mesmos vivem em um mundo à parte, feito de nostalgia e saudosismo, e não acham muita ‘graça’ nas atividades atuais.

O comum é lermos histórias de ‘velhinhos abandonados’ pelos filhos; histórias de pessoas que envelheceram sem autonomia por razões várias e que, agora, são literalmente, obrigadas a viver a vida conforme é imposta pelos familiares.

O que a história de Milu nos revela é que a forma de viver a velhice é, sobretudo, uma construção: vamos viver nossa velhice da mesma forma que vivemos as etapas anteriores.

Sim: não há nenhuma descoberta nisso, mas a maioria de nós acha que a velhice nunca chegará, não é mesmo?

Acontece que,  partir de certa idade, nós já vamos escolhendo como será nossa velhice e essa escolha pode ser consciente ou inconsciente. Se temos amigos de idades diversas porque isso deveria ser diferente quando envelhecemos? Porque a maioria dos idosos tem amizades restritas ao ambiente familiar?

Outra questão: porque grande parte dos idosos vai deixando a alegria e o prazer de lado, como se a existência se tornasse um fardo pesado demais para se carregar? É claro que aqui entram aspectos como (principalmente) as doenças causadas pelo envelhecimento, mas estas também são, muitas vezes, causadas pelo sedentarismo.

Poucas pessoas conseguem envelhecer mantendo os prazeres que tinham ao realizar atividades como cozinhar, escrever, pintar,  sair com os amigos, cuidar do jardim ou qualquer outra coisa que traga alegria.

É por tudo isso que Milu Freitas chama muita atenção com suas postagens, pois sua história nos mostra, sobretudo, o quanto a velhice pode (e deve) ser vivida de forma livre e  espontânea. O quanto a autonomia deve ser valorizada e incentivada na velhice por filhos, netos e cuidadores.

Funcionária pública aposentada, Milu, que mora em Lisboa, também é mestra em Reiki e escreve poesias como esta:

ABRAÇAR…. ABRAÇAR…..

É loucura, paixão, é um navegar em mar revolto,

com ondas gigantescas que me arrebatam de ternura

é um devorar a pessoa amada um desejo incontrolável uma festa proibida…..

um céu estrelado

outras vezes com relâmpagos que queimam meu ser de tanto amar

meus braços chamam por ti a toda a hora….

És o meu abraço de amor e paixão  – milufreitas 

 

 

Convidada pelo Portal Plena, ela respondeu o seguinte sobre alguns pontos de sua vida:

Infância

Tive uma infância feliz, era alegre faladora, atrevida, muito extrovertida, imaginativa, fazia histórias de tudo  e contavas às  minhas amigas que ficavam um pouco pasmadas com tantas histórias.

Fato mais marcante dessa época

A leitura de tudo que fosse ficção como histórias em quadrinhos mas que se tratasse de idas à lua, seres extraterrestres, e tudo que nessa altura era impensável, tudo o que uma criança não lia, eu adorava.

Fatos mais marcantes da adolescência e juventude

A descoberta da vida e da liberdade.

 A arte sempre este presente na sua vida?

Esteve sempre presente, desde muito nova que pinto; primeiro com aquarela,

depois em barro para cozer e sempre com cores fortes.

Pintores preferidos

Os impressionistas, especialmente, Van Gogh.

A arte ajuda a ter uma vida mais interessante, se sim por quê?

Acredito que a pintura ou qualquer outra forma de arte é uma maneira de enriquecer a nossa vida, e de nos fazer sentir mais felizes e completos.

Como lida com o envelhecimento?

Não me sinto velha, o meu corpo tem 90 anos,  mas a minha mente é jovem, escrevo pinto e vivo a vida intensamente.

Adoro olhar e cheirar tudo o que há a minha volta e há tanto ainda para ver…

Costuma ter saudades do passado ou vive o presente de forma intensa?

O passado passou, não volta, o futuro quando chega é o presente, portanto eu vivo o agora, ou seja, o presente.

A minha vida tem sido uma procura constante, de quê?

Nem eu sei, procuro e não encontro o meu caminho, continuo a procurar… numa busca constante.

Uma mensagem

Viva a vida intensamente no presente com as coisas boas ou más, MAS VIVA, VIVA, NÃO ADORMEÇA!

Imagens: arquivo pessoal.

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