Microsoft, Amazon, Meta, Alphabet (controladora do Google), Nvidia e tantas outras. As empresas mais valiosas do mundo foram em sua grande maioria fundadas por homens e são lideradas por homens.
Não faltam mulheres talentosas capazes de serem CEOs, mas, quando decidem empreender, elas costumam esbarrar em uma sucessão de barreiras que muitas vezes as impede de chegar ao topo.
Foi essa avaliação que levou a brasileira Erica Fridman e a suíça Jaana Goeggel a uma empreitada que nos próximos anos vai investir R$ 25 milhões em empresas fundadas por mulheres.
Elas são gestoras do fundo de capital de risco (venture capital)* Sororitê – https://www.sororite.com.br/ – estabelecido no fim do ano passado com foco em empresas de tecnologia inovadoras (startups) que estejam em estágio inicial e que tenham pelo menos uma mulher entre os fundadores — o primeiro fundo desse tipo no Brasil.
Segundo Erica Fridman, nove das dez empresas de tecnologia que hoje são as maiores do mundo hoje receberam investimento de fundos de venture capital, um recurso fundamental para acelerar seu crescimento: Apple, Microsoft, Nvidia, Amazon, Alphabet, Meta, Tesla, Broadcom e Tencent.

A única exceção da lista é a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC).
“Eu vejo o poder dessa indústria de gerar impacto econômico e social, o poder que tem uma Meta, um Google… tem gente que escolheu colocar dinheiro ali atrás, e não fomos nós, mulheres, porque a gente não está jogando este jogo”, diz Fridman à BBC News Brasil.
As estatísticas mais recentes disponíveis na plataforma Pitchbook mostram que startups lideradas só por mulheres receberam apenas 0,04% do capital investido em 2020 no Brasil – se incluídas as empresas com homens e mulheres entre os fundadores, o índice é de 2,2%.
Fridman, que durante muito tempo trabalhou para as multinacionais americanas Johnson & Johnson e Procter & Gamble antes de entrar no mundo do venture capital, diz que a razão por trás dos números ficou clara quando começou a ouvir os relatos de mulheres empreendedoras decepcionadas depois das reuniões com possíveis investidores.
“A fundadora está lá fazendo o ‘pitch‘ [apresentação para vender o projeto], a pessoa vira e pergunta: ‘Seu marido trabalha?’, ‘Você tem filhos?’… Ou então fala: ‘Nossa, como você é bonita!'”, ela exemplifica.
“Eu falo com fundadoras o dia inteiro e não tem uma que não me traz uma história triste de perguntas inapropriadas ou perguntas em que o investidor, em vez de abordar o potencial do negócio, coloca empecilhos, fica tentando achar o furo”, conta Fridman, ao falar sobre os vieses conscientes e inconscientes que levam os gestores de recursos a achar que as mulheres não conseguem dar conta da pressão de empreender.
“Nunca alguém achou que eu era menos capaz do que um homem dentro de nenhuma das empresas em que trabalhei. Eu me deparei com isso quando fui pra indústria do venture“, acrescenta a investidora.
“É uma dúvida de competência e uma dúvida de resiliência. Será que ela vai conseguir enfrentar essa jornada tão dura e árdua? E, se ela é mulher, vai ser uma boa líder?”
Curiosamente, os números, segundo ela, mostram que as empresas lideradas por mulheres são, na verdade, mais lucrativas.
Informações reunidas pelo Pitchbook apontam que elas consomem 25% menos caixa por mês, e dados da Ewing Marion Kauffman Foundation apontam que dão retorno 35% maior sobre o investimento feito no negócio.
Fridman diz que são muitas as pesquisas nesse sentido, mas elas também são olhadas com ceticismo por quem toma a decisão sobre quem recebe investimento.
“Tem gente que não acredita. Como que a gente resolve isso? Eu não consigo resolver imediatamente, mas, a partir do momento em que o fundo começa a trazer liquidez, eu posso ir para o mercado e falar: ‘Gente, eu investi em 22 startups lideradas por mulheres e fiz sete vezes o investimento’. Essa é a melhor forma de provar”, ela argumenta.
“‘Oh, essa daqui tá com um valuation [avaliação do valor da empresa] de US$ 1 bilhão’. Não tem o que questionar se ela tem filhos, se tem marido, se ela teve tempo. Então é isso que a gente quer fazer.”
No momento, o fundo está em fase de captação, ou seja, está aberto àqueles que quiserem aportar dinheiro na expectativa de que ele traga retorno quando as empresas que receberem o recurso crescerem e multiplicarem seu valor. Até agora o Sororitê tem 43 cotistas, sendo 40 mulheres e três homens, e levantou R$ 13 milhões.
Mesmo antes de fechar os R$ 25 milhões, o fundo investiu em duas empresas no ano passado, uma de tecnologia do setor imobiliário (proptech) e outra de cibersegurança ligada ao Pix, e neste ano pretende investir em mais seis.
(*) – Um fundo de capital de risco (FCR) é uma forma de investimento que injeta capital em empresas jovens e com alto potencial de crescimento, geralmente empresas de tecnologia ou startups, em troca de participação acionária. O objetivo é obter um retorno financeiro significativo através da valorização dessas empresas, que pode ocorrer com sua venda ou abertura de capital.
Foto de abertura: Rede de investidoras-anjo e mentoras da Sororitê – Divulgação
Fonte: Camilla Veras Mota – Role,Da BBC News Brasil em São Paulo
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