6 em cada 10 brasileiros conhecem uma mulher que foi estuprada quando menina, segundo pesquisa do Instituto Patrícia Galvão em conjunto com o Instituto Locomotiva. Uma realidade alarmante:
Uma pesquisa do Instituto Patrícia Galvão em parceria com o Instituto Locomotiva revela que 15% das mulheres brasileiras afirmam ter sido vítimas de estupro. Entre elas, 12% relatam que a violência ocorreu antes dos 13 anos e 57% nunca contaram a ninguém. O levantamento mostra ainda que 8% dessas mulheres engravidaram em decorrência do abuso.
15% das mulheres entrevistadas já foram vítimas de estupro; destas, 12% foram estupradas quando tinham até 13 anos
Entre as mulheres entrevistadas, 15% declaram que já foram vítimas de estupro. Considerando a população feminina no Brasil, são 12,9 milhões de mulheres. Dentro desse total de vítimas, a maioria sofreu a violência até os 13 anos: esse grupo corresponde a 12% de todas as mulheres brasileiras, o equivalente a 10,4 milhões.
6 em cada 10 mulheres que foram estupradas quando meninas não falaram para ninguém
“Na época, não entendi o que tinha ocorrido e não conseguia lembrar com clareza, achava que era coisa da minha cabeça, porque as imagens vinham como flashes. Anos depois, passei a tomar ciência do que realmente ocorreu e que não foi minha culpa e sim que tinha sido vítima.”
Mulher, moradora da região Nordeste, parda e com 45 anos ou mais
“Na época, não tinha a cabeça das adolescentes de hoje, nem sabia que o que aconteceu era considerado estupro, só depois de adulta fui entender a gravidade do acontecido.”
Mulher, moradora da região Sudeste, parda e com idade entre 25 a 44 anos
“Eu tinha 4 anos e, na época, não fazia ideia do que significava. Só depois de adulta fui saber o que passei.”
Mulher, moradora da região Nordeste, parda e com idade entre 25 a 44 anos
“Só descobri que a situação era um estupro quando eu estava adulta, os homens ficaram impunes.”
Mulher, moradora da região Norte, parda e com mais de 45 anos
Além de enfrentarem sozinhas o drama do estupro, a maioria das vítimas não procurou nem foi levada a nenhum serviço de atendimento após a violência. Apenas 15% das vítimas estupradas quando menores de 13 anos e 11% das que foram vítimas quando maiores de 14 anos foram atendidas na polícia e 9% e 14%, respectivamente, tiveram atendimento na saúde.
22% da população conhecem uma vítima que engravidou após um estupro
Como resultado da falta de atendimento na saúde, entre quem conhece vítimas de estupro, 30% sabem de uma menina que engravidou em decorrência da violência sexual e 26% conhecem uma mulher (com 14 anos ou mais) que passou pela mesma situação.
Metade das meninas que engravidaram depois do estupro não interrompeu a gestação
Entre quem conhece alguma vítima que engravidou em decorrência de estupro:
- 52% conhecem um caso de menina de até 13 anos que teve uma gestação decorrente de estupro que não foi interrompida
- 38% conhecem um caso de menina de até 13 anos que teve uma gestação decorrente de estupro que foi interrompida
- 40% conhecem um caso de uma mulher (14 anos ou mais) que teve uma gestação decorrente de estupro que não foi interrompida
- 51% conhecem um caso de uma mulher (14 anos ou mais) que teve uma gestação decorrente de estupro que foi interrompida
Entre as entrevistadas vítimas de estupro, 8% engravidaram
15% das mulheres declaram já terem sido vítimas de estupro. Destas, 8% engravidaram. São 1 milhão de mulheres que ficaram grávidas após sofrer uma violência sexual.
O que a população pensa sobre o estupro?
Maioria dos brasileiros sabe reconhecer quando uma situação configura estupro
95% reconhecem ao menos uma das situações como estupro. Porém, cai para pouco mais da metade (57%) o total que reconhece todas as situações apresentadas como estupro.
Quem são as vítimas mais frequentes de estupro: por faixa etária e por raça/cor
Na percepção dos entrevistados, as vítimas mais frequentes de estupro são as meninas com até 13 anos e, considerando-se a raça/cor, as meninas e mulheres negras.
Percepção da população é que o estupro de meninas costuma acontecer em casa e o agressor é um parente
“Comecei a ser abusada criança, com 6 anos, sem nem entender o que acontecia e o abusador me fazia acreditar que eu era culpada e que, se eu contasse para alguém, ninguém acreditaria em mim. Meu abusador era o meu pai.”
Mulher, parda, moradora do Sudeste, com 25 a 44 anos
Jornalista com experiência sobretudo em redação de textos variados - de meio ambiente à saúde; de temas sociais à política e urbanismo. Experiência no mercado editorial: pesquisa e redação de livros com focos diversos; acompanhamento do processo editorial (preparação de textos, revisão etc.); Assistência editorial free lancer. Revisora Free Lancer das editoras Planeta; Universo dos Livros e Alta Books. Semifinalista do Prêmio Oceanos 2020.