País concentra 76% das áreas afetadas pelo fogo na América do Sul
Agência Brasil*
O Brasil registrou, nas últimas 24 horas, mais de cinco mil focos de incêndio. O país concentra 76% das áreas afetadas pelo fogo em toda a América do Sul. A informação vem da base de dados do Programa Queimadas, do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
O aumento no número de focos se deu no bioma cerrado, que ultrapassou a Amazônia nas frentes de fogo e registrou 2.489 focos entre esta segunda (9) e terça-feira. Nas últimas semanas, a alta incidência desses incêndios florestais, as altas temperaturas, o tempo seco e a baixa umidade têm deixado a qualidade do ar insalubre em várias cidades brasileiras.
Nestes primeiros dias de setembro, os focos distribuídos pelo país superam o dobro do que foi observado em 2023. Em apenas dez dias são 37.492 focos registrados, enquanto que no mesmo período do ano anterior haviam sido 15.613.
Especialista em fogo há 30 anos, a geógrafa Ane Alencar alerta que o crescimento dos incêndios em grande parte do país é consequência da situação climática crítica do Brasil.
Diretora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, ela afirma que além do agravamento climático, e do tempo extremamente seco, típico dos meses de agosto e setembro, as ações criminosas com fogo em vários biomas brasileiros ajudaram a agravar os incêndios.
“2024 tem sido um ano muito difícil do ponto de vista das queimadas e dos incêndios florestais. Um ponto com certeza fora da curva, no que diz respeito ao que queima no Brasil. Estamos vendo que, não só a Amazônia, e o cerrado, que são os principais biomas brasileiros que queimam nesse período. E, infelizmente, o que temos visto é que as condições climáticas muito severas têm feito com que a paisagem fique mais inflamável”.
A fumaça causada pelos incêndios florestais no Brasil tem chegado em comunidades indígenas na margem do Rio Abacaxis, na região amazônica. O escritor Yaguarê Yamã, do povo Maraguá, faz o relato de como está a situação por lá.
“A gente não conseguia ver um palmo de distância da gente, por conta da fumaça. Era muito grande mesmo. E é criança com problema de respiração ali na aldeia… tem muita dificuldade também com relação à visão porque não se enxerga mais nada. Quando chega a noite é uma dificuldade muito grande. E é um cheiro insuportável de fogo, de fumaça”.
De Manaus até o município de Nova Olinda, onde Yaguarê vive, são 12 horas de viagem de barco e mais cinco de lancha pequena. Madeireiros e garimpeiros ilegais são apontados pelos habitantes como dois dos principais causadores dos focos de incêndio dessa área da região amazônica.
Para Ane Alencar, a geógrafa especialista em fogo, combater o crescimento dos focos de incêndio passa tanto pela conscientização da população, quanto por uma ação governamental mais efetiva.
“A gente espera um engajamento da população como um todo, que tenha mais responsabilidade com o uso do fogo. Que, se puder, não use o fogo nesse período. E espera muito das autoridades que, realmente, combatam o crime, porque ainda tem muita gente usando o fogo de forma criminosa no Brasil”.
No Cerrado, duas importantes unidades de conservação também são alcançadas pelo fogo. Mato Grosso lidera o número de focos. Em Goiás, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros teve 10 mil hectares atingidos pelos incêndios.
*Edição: Roberta Lopes / Fran de Paula
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