Discurso de ódio alimenta a exclusão dos diferentes

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Algumas pessoas são capazes de promover verdadeiros linchamentos virtuais, fazendo-se reféns de uma racionalidade binária que limita a capacidade de raciocínio

Thays Carvalho Cesar (*) / Crisbelli Domingos (*)

Em tempos de intensa intolerância, há quem se aproprie do discurso para promover o ódio e o adestramento moral da população, por meio da disseminação de uma cultura polarizada, de desprezo por pessoas ou grupos de pessoas com convicções diferentes. Desenvolver a alteridade e a aceitação da pluralidade democrática de ideias parece ter se tornado cada vez mais difícil, pois o lugar comum é olhar para o outro como estranho e não como o que, de fato, ele é: o outro.

O discurso de ódio tem origem nos preconceitos sociais contra determinados grupos construídos ao longo da história, ocorrendo quando um indivíduo se vale de seu direito à liberdade de expressão para inferiorizar ou discriminar gênero, características étnico-raciais, religião, orientação sexual ou quaisquer outros critérios. Dizer é fazer. E o que se evidencia nesse tipo de ato de fala é um conjunto de atitudes contra a existência desses grupos em nosso meio social. Travestir o ódio de liberdade de expressão significa afrontar os direitos e garantias fundamentais, tornando-se ilegítimo ao descumprir os preceitos constitucionais, incitar a violência e alimentar a exclusão.

Enquanto a opinião crítica é baseada em experiências individuais, o preconceito é um fenômeno social, resultado de situações de dominação ao longo da história, que vem à tona quando, mesmo sem perceber, o indivíduo despreza, deprecia, desdenha a existência ou a opinião do que considera “diferente”.

Na atual sociedade do espetáculo, a perpetuação do ódio se dá, em sua maioria, pelos meios de comunicação de massa e pelo fácil acesso à informação e aos recursos tecnológicos, que tornam difícil resistir ao impulso de ir às redes sociais para comentar uma notícia, uma reportagem policial, o resultado de um julgamento criminal, o comportamento de participantes de reality shows, a vastidão de arapucas de Fake News que, por parecerem verídicas, impactam terrivelmente o aumento da desinformação social.

Tornou-se comum na internet ver os ânimos exaltados daqueles que proferem opiniões sobre assuntos diversos a partir de uma interpretação coletiva, não necessariamente consensual e muitas vezes desprovida de qualquer embasamento técnico ou científico.

Algumas pessoas são capazes de promover verdadeiros linchamentos virtuais com base em informações de senso comum e, ao manifestarem seus posicionamentos, fazem-se reféns de uma racionalidade binária que limita a capacidade de raciocínio.

Inseridos na política do cancelamento, o mais importante é deturpar o que foi dito e o que foi feito pelo outro, utilizando argumentos avessos para construir uma falsa representação do real, ou uma verdadeira representação do imaginário para manchar reputações.

O discurso de ódio ganhou um destaque tão grande com o advento das redes sociais que a mera condição de aliado ocasional de quem é alvo do discurso já basta para fazer da pessoa um alvo do mesmo ódio. É um fenômeno comunicativo epidêmico, de injúrias e de desinformação, que dilacera o equilíbrio das relações sociais.

Sabemos que nenhum direito é absoluto e que o discurso não é neutro, pois todo ato de fala designa um posicionamento. Entretanto, posicionar-se com respeito e sem ofender os demais é uma premissa que deve ser seguida não só nas redes sociais, mas na vida social como um todo.

As ferramentas de comunicação hoje disponíveis tornam muito fácil a disseminação do ódio, a fim de destruir a imagem de pessoas e instituições escolhidas como desafetas. Para tanto, basta utilizar o discurso oral, escrito ou imagético, por meio de quaisquer meios, para fomentar ideias contrárias a determinados e diferentes alvos. No entanto, também é possível fazer parte da contracorrente e propagar o debate crítico arejado, a informação em vez da desinformação, o respeito em contraposição à aversão.

Não se constrói liberdade a partir da segregação, nem se promovem direitos excluindo direitos de outrem. A liberdade de expressão não pode ser usada como justificativa para aniquilação do outro. Respeitar os diferentes posicionamentos é fundamental para a construção de uma sociedade efetivamente plural e livre de preconceitos. Pois a história demonstra que a imposição de um discurso de ódio traz consequências catastróficas e irreparáveis para a humanidade.

É preciso fazer diferente. É preciso checar a informação para compartilhá-la, é preciso respeitar opiniões para poder opinar. Afinal, não há liberdade de expressão quando se tira a liberdade do outro!

*Thays Carvalho Cesar – Mestranda em estudos de Linguagem. Professora do curso de Letras, área de Linguagens e Sociedade do Centro Universitário Internacional – UNINTER

*Crisbelli Domingos – Doutoranda em Linguística. Professora do curso de Letras, área de Linguagens e Sociedade do Centro Universitário Internacional – UNINTER

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