Agenda comemorada anualmente de 21 a 28 de agosto traz à tona a necessidade de ampliar oportunidades para este público em diferentes dimensões da vida social e profissional. Instituto Serendipidade aponta desafios para além do diagnóstico
As várias dimensões que formam o ser humano vão muito além de qualquer diagnóstico. Esse é o ponto de partida para compreender as chamadas deficiências múltiplas, quando duas ou mais condições coexistem em uma mesma pessoa, afetando de forma distinta o desenvolvimento, a comunicação, a autonomia e a interação social.
O tema ganha destaque anualmente nos últimos dias de agosto, durante a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla — agenda que busca ampliar o debate sobre inclusão e acessibilidade no Brasil.

Para o Instituto Serendipidade, organização da sociedade civil que atua no apoio a pessoas com deficiência e suas famílias, é fundamental que o olhar sobre as deficiências múltiplas seja pautado por uma visão holística, que considere o modelo biopsicossocial. Esse conceito parte do princípio de que o ser humano é um conjunto de dimensões biológicas, psicológicas e sociais, e que a deficiência não pode ser reduzida a uma limitação, mas compreendida a partir de suas potencialidades e interações com o meio.
“Assim como todo indivíduo é múltiplo em suas capacidades, interesses e formas de ser, as pessoas com deficiências múltiplas também carregam em si diversas formas de expressão e desenvolvimento. O desafio não é apenas reconhecer suas limitações, mas sobretudo enxergar suas possibilidades”, afirma Marina Zylberstajn, coordenadora do Projeto Laços, uma das frentes voltadas para a inclusão de pessoas com deficiência, desenvolvido pelo Instituto Serendipidade.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que mais de 18,6 milhões de brasileiros declararam ter pelo menos duas deficiências, considerando aspectos visuais, auditivos, motores e intelectuais. Esses números evidenciam a urgência de políticas públicas, práticas pedagógicas inclusivas e iniciativas sociais que garantam dignidade e participação plena.
É levantando essas bandeiras que a atriz e escritora Tathi Piancastelli marca sua presença tanto no mundo digital quanto no offline. “Eu tenho síndrome de Down. A sociedade precisa mudar e nos dar chance de mostrarmos quem somos. Assim fica melhor para todo mundo. Tudo junto e misturado”, pontua.
Pensar em deficiências múltiplas é também um convite a ampliar a concepção de diversidade humana.
“Não estamos falando apenas de diagnóstico, mas de histórias de vida que se constroem com resiliência, apoio e oportunidade. Cada pessoa, independentemente das condições que apresenta, tem direito a desenvolver suas potencialidades, ser ouvida e ocupar espaços na sociedade, garantindo um envelhecimento saudável não apenas do ponto de vista físico, mas também emocional, de integração social”, destaca Cristina Fava, coordenadora da Associação para Profissionalização e Integração do Excepcional (Apoie-SP).

Esse movimento de transformação também precisa estar presente no ambiente corporativo. Fernanda Cammarota Rodrigues, mãe de Miguel Rodrigues, um adolescente que tem síndrome de Down e Moyamoya (síndrome vascular cerebral, que causa AVC de repetição), é também coordenadora do Projeto Laços – Outros Diagnósticos que se ocupa de acolhimento de pessoas com deficiências diferentes da síndrome de Down no Instituto Serendipidade.
Ela reforça que o mercado de trabalho ainda tem barreiras a superar, mas também um grande papel a cumprir na mudança de paradigma. “Acredito que as maiores dificuldades estão relacionadas a barreiras estruturais e culturais, não fornecendo principalmente um ambiente físico e emocional que considere a diversidade. Hoje muitas empresas praticam a inclusão não no seu sentido mais amplo, com indivíduos capazes de agregar e contribuir, e sim pelas isenções tributárias ou por obrigações legais. Por outro lado, há grandes oportunidades, já que a convivência com a diversidade sempre nos ajuda a ampliar a compreensão do mundo, tornando-o mais empático, forte e justo. O diferente nos ajuda a ampliar a nossa capacidade de compreensão e contribui para que tenhamos relações interpessoais mais saudáveis, reduzindo a intolerância e o preconceito”, afirma.
Sobre o Instituto Serendipidade
O Instituto Serendipidade é uma organização sem fins lucrativos que potencializa a inclusão de pessoas com deficiência, com propósito de transformar a sociedade através da inclusão. Visa ser impulsor de impacto social relevante, colaborativo e inovador, sempre prezando pela representatividade, protagonismo, de forma transversal e acima de tudo, com muito respeito. As iniciativas que atendem diretamente o público são: Programa de Iniciação Esportiva para crianças com síndrome de Down e deficiência intelectual, de famílias de baixa renda; Programa de Envelhecimento que atende mais de 60 idosos com algum tipo de deficiência intelectual para promoção do bem-estar; e o Projeto Laços, que acolhe famílias que recebem a notícia de que seu filho (a) tem algum tipo de deficiência. Atualmente, o Serendipidade impacta mais de um milhão de pessoas, criando pontes, gerando valor em prol da inclusão e através do atendimento direto a pessoas com deficiência intelectual e suas famílias.
Mais informações em www.serendipidade.org.br E nas mídias sociais @institutoserendipidade
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Jornalista com experiência sobretudo em redação de textos variados - de meio ambiente à saúde; de temas sociais à política e urbanismo. Experiência no mercado editorial: pesquisa e redação de livros com focos diversos; acompanhamento do processo editorial (preparação de textos, revisão etc.); Assistência editorial free lancer. Revisora Free Lancer das editoras Planeta; Universo dos Livros e Alta Books. Semifinalista do Prêmio Oceanos 2020.