DEPOIMENTO: Ele se tornou cuidador de idosos humanizado por ‘necessidade e amor’

Você sabe o que é cuidador de idosos ‘humanizado’? Leia a matéria e descubra!

 

Ana Claudia Vargas

O baiano André Olímpio se tornou cuidador de idosos, segundo ele, por necessidade e amor ao ato de cuidar. Em um tempo em que a necessidade destes profissionais se amplia, é importante conhecer a história de um profissional que se define como ‘cuidador humanizado’. 

Veja o depoimento que ele concedeu ao PortalPlenaGente+. 

O começo

“Comecei a  trabalhar como cuidador por necessidade e por amor. A oportunidade surgiu quando ainda existia o curso de cuidador dentro da Faculdade, e eu me encantei. Vi ali um caminho onde eu podia trabalhar com dignidade e, ao mesmo tempo, cuidar de vidas que precisavam de calma, paciência e presença. Desde o primeiro estágio, senti que era meu lugar. Na minha época, fiz o curso completo em instituição de ensino superior, com estágio prático e formação teórica forte. Hoje é preciso fazer um curso reconhecido e buscar qualificações constantes, porque cuidar de pessoas exige conhecimento.  A profissão ainda não é regulamentada como deveria, e isso deixa muitos cuidadores desprotegidos. Mas o cuidado é sério e exige preparo, responsabilidade e ética.

 

O cuidador de idosos André Olímpio _ foto arquivo pessoal

Sobre a  remuneração

 Aqui na Bahia o piso salarial é baixo, muito abaixo da responsabilidade que
carregamos. Já passei aperto, já trabalhei mais do que devia para dar conta das contas. Já recebi, 80, 90 e 120 reais em plantões muitas vezes de 12 a 24h sem direito a transporte e alimentação. Hoje sou contratado como  CLT numa clínica,  consigo respirar melhor e me sinto mais valorizado. Ainda assim, a remuneração no estado precisa melhorar muito.

Um dia típico de trabalho

O meu dia típico é assim: chego cedo, organizo o ambiente, acolho meu paciente e observo seu estado emocional e físico. Auxilio nos cuidados básicos, na medicação, na alimentação e, principalmente, ofereço presença. Em clínica psiquiátrica cada detalhe importa. Passo o dia atento, acompanhando sinais, conversando, acalmando, e encerro o expediente fazendo relatórios e garantindo que o próximo plantão receba tudo alinhado.

A parte emocional pesa bastante. A gente vê dor, solidão, regressões, crises. Fisicamente também cansa: levantar, apoiar, conduzir. Às vezes falta reconhecimento de modo geral, principalmente das famílias que acompanham de perto, porém o que me deixa triste é a sociedade que ainda não entende o peso da nossa profissão.

Valorização profissional

 Hoje me sinto valorizado. A Clínica em que trabalho me trata com respeito e reconhece minha conduta profissional. Com o tempo e os pacientes atendidos, conseguir fazer meu nome na cidade e ser uma referência, isso faz diferença. Mas sei que muitos colegas não têm a mesma sorte ou posso chamar a força de vontade que tive em me superar e mostrar aos meus assistidos qualidade de trabalho e mostrar que tenho valor e não preço.

Momentos marcantes

Foram muitos. Já segurei mãos em despedidas e já dancei com idosos nos dias bons. Já vi pessoas que não falavam há semanas sorrirem pra mim. Cada afeto, cada vitória pequena, cada perda… tudo me marcou e me tornou o profissional que sou. É impossível não se envolver. A gente aprende a colocar limite, mas não a virar
pedra. Eu cuido com o coração, mas sempre com a responsabilidade de quem sabe
que está ali para ajudar, não para carregar tudo sozinho.

Tenho mãe idosa e com saúde em deficiência, então eu cuido dos pais, mães e avós dos outros para poder manter a minha e seria hipócrita em dizer que não sinto junto com eles, mas uso do meu profissionalismo para ser a luz que eles me ajudam a levar à minha casa e sustentar a minha mãe. Faço por eles e ganho subsistência para cuidar e fazer pela minha.

E no tempo livre?

No meu tempo livre eu tento descansar, cuidar da minha saúde e estar com minha família. Às vezes, o corpo pede cama, às vezes o coração pede silêncio. Mas aprendi que, se eu não me cuidar, não consigo cuidar de ninguém.

O que deveria mudar na profissão?

Para começar, é preciso que haja regulamentação de verdade, piso salarial digno, formação séria e fiscalizada. Que a ABC Cuidadores fosse ainda mais conhecida e apoiada para nos representar de maneira integral em nosso país. Que existam condições de trabalho humanas. E, acima de tudo, respeito. Porque sem cuidador, muitas famílias não conseguem viver.

Mensagem a quem quer atuar na área

Se você busca somente um emprego, procure outra área. Cuidar exige alma. Mas, se o coração bater forte quando você olhar para um idoso e reconhecer ali uma vida inteira, venha. É uma profissão que transforma a gente e o mundo ao redor!

(imagem de abertura:freepick)

Portal Plena Gente+: informação que você usa e abre possibilidades de crescimento pessoal e profissional.   Compartilhe nossas publicações. Comente, curta!  Nós agradecemos!

Siga o PortalPlenaGente+ no Instagram e no FacebookPortal Plena Gente+

ana.vargas@portalplena.com | Website |  + posts

Jornalista, autora de 5 livros, um deles semifinalista do Prêmio Oceanos 2020.

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *