Daniel Cara diz que o Brasil, hoje, é o segundo país no mundo onde esses ataques mais ocorrem e fala sobre a influência da internet e o papel primordial de educadores e pais no contexto da violência escolar
Jornal da USP
Falta uma política pública forte e sólida para frear a onda de ataques e manifestações de ódio nas escolas e creches que tomou conta do País nas últimas semanas, gerando preocupação, principalmente, em pais, alunos e professores, disse o professor Daniel Cara, da Faculdade de Educação da USP, em entrevista à Rádio USP, nesta quinta-feira, 13/4.
“O mundo sempre conviveu com a violência nas escolas, aquela que ocorre dentro do ambiente escolar e que, muitas vezes, é até promovida pela instituição escolar”, destaca o professor, doutor em Educação, mestre em Ciência Política pela USP e dono de um extenso currículo e atividades nessas áreas.
Daniel Cara relembra que, desde o massacre de Columbine, nos EUA, em 20 de abril de 1999, no qual 15 pessoas foram brutalmente assassinadas, surgiu um novo fenômeno de violência nas escolas. “A partir da experiência de violência que os jovens sofrem, eles respondem na forma de vingança contra a escola e contra a comunidade escolar, praticando atentados em massa”.
Nesta quinta-feira (ontem), realizou-se uma primeira reunião do Ministério da Educação com especialistas e entidades de gestão da educação pública e da sociedade civil que se dedicam ao tema, para construir estratégias e protocolos para as escolas enfrentarem esse problema. “Será preciso desenvolver protocolos sobre como as escolas devem agir no momento em que percebem que há um risco iminente de ataques e como deve ser dada a resposta”, explica Cara.
Possíveis soluções
Segundo Cara, além de desenvolver os protocolos, as escolas devem promover debates sobre o assunto: “Os protocolos visam condenar esse tipo de violência junto aos adolescentes. Um trabalho que envolve também os pais e os profissionais da educação.
Outra alternativa importante é acolher os jovens em situações vulneráveis: “Ouvir os jovens que sofrem bullying para que eles percebam que qualquer tipo de vingança ou qualquer discurso de ódio contra o bullying precisa ser trabalhado de maneira séria e concreta, para que não gere novas perspectivas de ataque”.
“É importante frisar a pequena dificuldade que se impõe, atualmente, ao acesso à arma de fogo no Brasil, o que faz com que esse tipo de fenômeno tenha menor letalidade aqui em relação ao que ocorre nos Estados Unidos”, lembra o professor. Segundo ele, a política de acesso às armas tem que ser ainda mais rigorosa. O País parece seguir a trajetória dos Estados Unidos em relação a esse tema, frequentemente marcado por atentados.
Daniel Tojeira Cara – Foto: Reprodução/Twitter
Segundo Daniel Cara, muitos ataques foram evitados nos últimos dias graças à iniciativa de pais e mães, que detectaram discursos de ódio sendo manifestados pelos seus filhos, na exaltação a ataques. “Esses pais avisaram as escolas e então os Conselhos Tutelares, forças de segurança e professores entraram em contato com os alunos e com os pais e conseguiram desestruturar os ataques.” No entanto, segundo ele, falta uma política pública forte e sólida para freá-los e “para que as escolas sejam de fato um ambiente pacífico pautado no processo de ensino-aprendizado”.
E o fenômeno da internet?
Os grupos de ódio e violência se organizam por meio das redes sociais – Foto: tracy-le-blanc/Pexels
A internet é o veículo, por excelência, de divulgação desses atos violentos, anunciados amplamente por meio das redes sociais. Por isso, é essencial controlar o acesso à internet e refletir sobre como a escola, assim como outros agentes, podem monitorar esse conteúdo partindo de seus próprios alunos.
“As comunidades de ódio e violência utilizam a internet tanto como um meio de recrutamento de jovens, como também um meio de propagação do discurso de ódio e também de articulação de ataques.”
Num passado recente, a deep web – um ambiente não controlado – era utilizada para a organização, recrutamento e mobilização desses ataques, além do espalhamento de ideologias violentas. Mesmo naquela época, era possível monitorar esses grupos, o que foi muito dificultado atualmente pelas plataformas de uso franco, como o Discord, Instagram, Twitter e Snapchat, muito utilizadas pelos jovens.
“É importante citar que esses grupos se organizam por meio de estratégias e de culturas que articulam a misoginia, a cultura neonazista e fascista, e também todos os mecanismos relacionados a um discurso pautado no ódio às mulheres, mas também no racismo”, diz Cara. Essas culturas obscuras se encontram para planejar os ataques. “O fundamental a ser feito é monitorar a internet e contar com o apoio das plataformas para eliminar as contas que articulam discursos de ódio”, explica. (imagem de abertura: https://www.freepik.com/author/rawpixel-com)
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Jornalista com experiência sobretudo em redação de textos variados - de meio ambiente à saúde; de temas sociais à política e urbanismo. Experiência no mercado editorial: pesquisa e redação de livros com focos diversos; acompanhamento do processo editorial (preparação de textos, revisão etc.); Assistência editorial free lancer. Revisora Free Lancer das editoras Planeta; Universo dos Livros e Alta Books. Semifinalista do Prêmio Oceanos 2020.
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