No livro “Seguindo a Linha – trabalhos manuais tecidos pela vida”, Anita Guimarães revisita técnicas conhecidas e outras nem tão populares numa publicação caprichada, permeada de detalhes, fotografias, aquarelas e passo a passo
Ana Claudia Vargas
Um livro também pode ser uma lição de amor à vida. Um livro pode servir para ensinar, cativar e, sobretudo, para mostrar que viver é, realmente, um aprendizado contínuo (e isto independe da idade que se tenha).
Pois este primeiro livro da escritora mineira, Anita Guimarães, é tudo isso: numa linguagem simples, a publicação apresenta técnicas de artes manuais como crochê, tricô, bordados, macramê, entre outras, enquanto ‘tece’ as variadas lembranças do muito que esta professora aposentada já viveu (e continua vivendo com interesse e curiosidade).
Talvez você pense: mas hoje posso aprender tudo isso simplesmente acessando a internet, assistindo vídeos e etc. E sim, você tem razão, afinal, hoje temos ao alcance do mouse uma infinidade de vídeos sobre tudo (mesmo), inclusive, sobre as boas e tradicionais artes manuais.
Mas quantos livros ou vídeos você já viu que apresentam, além do passo a passo do crochê, as lembranças e vivências de alguém que mescla suas técnicas enquanto relembra ‘causos’ da infância vivida nos interiores de Minas Gerais?
O que você acharia de aprender a tricotar enquanto revisita os cenários belos e antigos de tempos que já se foram mas que se renovam aqui, nas páginas de um livro que, ao resgatar memórias, reforça a importância (hoje infelizmente esquecida) que as artes manuais têm para tornar a vida mais prazerosa e instigante? Com um projeto gráfico caprichado que inclui aquarelas e fotografias antigas; este livro é bem mais que um manual de artes manuais, é talvez um manifesto de amor à vida e aos muitos aprendizados que ela nos oferece.
Acompanhe abaixo, a entrevista que a autora, Anita Guimarães, concedeu ao Portal Plena.
Anita, ‘fale’ um pouco de você.
Nasci em 16 de maio de 1929, em Engenheiro Corrêa, distrito de Ouro Preto (MG), sou mãe de 6 filhos (sendo o último aos 50 anos!). Atualmente aposentada, atuei como professora de classe para alunos de diversas idades e também tive uma vida muito ativa junto a movimentos sociais, filantrópicos e religiosos.
Pelo que percebi, o interesse pelos trabalhos manuais esteve sempre presente em sua vida. De que modo esse interesse foi benéfico para sua qualidade de vida?
Sim, sempre me interessei pelos trabalhos manuais… incentivada pela minha mãe, desenvolvi um olhar curioso e uma vontade de aprender desde muito pequena. Aos 7 anos, já me interessei pelo crochê e desde então venho ‘seguindo a linha’ dos trabalhos manuais à medida que vão chegando a mim ao longo da vida. Esse interesse pelo novo se fundiu à minha personalidade. Mesmo aos 90 anos, me mantenho atualizada com os assuntos cotidianos e com as tecnologias. Isso é muito importante para mantermos nossa autonomia, mesmo estando com mais idade. Os trabalhos manuais são uma ótima companhia, mantêm a mente ocupada, exercitam a persistência, e ainda, ao aprendermos e compartilharmos o que sabemos, geram um sentimento de auto realização. Tudo isso, reflete positivamente na qualidade de vida.
Quais são os trabalhos que a senhora mais gosta de fazer e porquê?
Gosto muito do tricô e, com essa técnica, me alegra bastante tecer sapatinhos de bebê recém-nascidos que encaminho à maternidade para doação. Crochê, trançados e frivolité também são técnicas que gosto de fazer. Além disso, a costura sempre foi uma prática que me interessou, tendo realizado diversos trabalhos para toda a família e pessoas próximas. Por fim, descobrir como são feitas novas receitas de trabalhos manuais é algo que me motiva muito! Chego a desmanchar inúmeras vezes até conseguir.
Como nasceu a ideia deste livro? A senhora sempre quis escrever um livro sobre artes manuais?
Sempre comentava sobre a diversidade de trabalhos manuais que aprendi e sobre minha vontade de passar esse conhecimento para frente. Com isso, um dia, meu filho e minha nora me fizeram esse convite: “Vamos então transformar isso em um livro!”
A senhora gosta de outras artes? Música, literatura…etc. Há algum artista que a tenha inspirado?
Nossa! Se gosto! Tanto de música quanto de literatura!
Minhas inspirações (e exemplos) não foram artistas… e sim meus pais. Os exemplos deles foram decisivos em minha formação. Cresci, presenciando meu pai escutando música clássica em seu lindo gramofone e minha mãe estudando violino. Era comum ainda termos saraus em nossa casa.
Aos 13 anos, comecei a estudar piano com minha prima Rosita (Rosa Trópia), exímia pianista. Muitos anos depois, já com mais de 60 anos, ela novamente me incentivou de forma decisiva e, com satisfação, retomei meus estudos. Quanto a leitura, também foi algo sempre presente em minha vida… ainda hoje, chego a ficar lendo até bem tarde da noite.
Gostaria que a senhora deixasse uma mensagem para quem já passou dos 50 e anda desanimado ou tem ‘medo’ da velhice. Algo que seja encorajador.
Primeiramente, acredito que há muitas possibilidades… não há um único jeito de lidar com esse momento… Muitas pessoas ao verem um estereótipo de idoso “modelo” podem não se reconhecer naquele modelo. Respeitar seu estilo e personalidade é um bom ponto de partida. Quando fazemos algo que não gostamos, só para ter a aprovação do outro, não nos realizamos e ficamos infelizes… e isso sim é pior do que qualquer problema de velhice. Já quando buscamos nos realizar, a felicidade vem e isso é percebido e atrai pessoas e bons momentos. Preocupar (pré-ocupar) significa ocupar-se antes, não é mesmo? Então ocupe-se desde já de cuidar da sua saúde física e mental que não será necessário preocupar-se com a velhice. Gosto muito de uma frase: “Quem sabe onde quer chegar escolhe o caminho certo e o jeito de caminhar.” E para os que estão achando que já está tarde para realizar algo, deixo meu exemplo: tive um filho aos 50, fiz curso de informática aos 70 e agora publiquei meu primeiro livro aos 90…
JÁ PENSOU EM ESCREVER UM LIVRO? POSSO AJUDAR VOCÊ…
Livro: um registro realmente atemporal, duradouro, eterno…
Você acha exagero dizer que o livro é um registro eterno? Mas saiba que sim, é!! Quantos autores que já se foram ainda estão por aqui, sendo lidos e comentados, mesmo séculos depois de suas mortes?
Só pra citar alguns: Machado de Assis (1839-1908); José Saramago (1922-2010); 3. William Shakespeare (1564-1616); Fiódor Dostoiévski (1821-1881) ; . Jorge Luís Borges (1899-1986); . Franz Kafka (1883-1924); Gabriel García Márquez (1927-2014); Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944) e etc. etc.
Escrever, deixar o registro de um trabalho, ideia, projeto, memórias ou o que quer que seja (sim, livros permitem muita liberdade e criatividade) em UM LIVRO, é algo que mudará para sempre sua vida!
Esteja certo disso!
Vamos conversar? Sou escritora e meu primeiro livro de contos foi semifinalista do Prêmio Oceanos 2020. Uma grande honra.
an********@po*********.com