A partir de hoje o Portal Plena cria um espaço para discutir o papel dos profissionais de gerontologia no processo do envelhecimento humano.
Este espaço será destinado para todos que atuam na área: estudantes, profissionais, professores e entidades que tem como objetivo contribuir para que o envelhecimento ocorra de forma saudável não só fisicamente, como também social e economicamente.
Para iniciar, convidamos a jovem Areta Dames Chapuz Novaes que, aos 20 anos, é estudante de gerontologia da Universidade Federal de São Carlos (SP). Nessa entrevista, Areta fala sobre a importância da atuação do profissional da Gerontologia na vida de quem está envelhecendo.
O Portal Plena dá as boas vindas à Areta que será, a partir de hoje, nossa colaboradora, algo que nos estimula bastante a continuar nosso trabalho jornalístico.
Gerontologia: uma profissão promissora e muito necessária
A estudante Areta Dames Cachapuz Novaes é graduanda pela Universidade Federal de São de Carlos (UFSCar), sempre estudou em escolas públicas e ingressou na instituição através do Sistema de Seleção Unificada (SISU), por meio da cotas raciais. Nascida em Barueri, cidade metropolitana de São Paulo, sempre se identificou com o público +60, além de conviver com avós e bisavós que influenciaram diretamente na escolha de sua profissão. Atualmente é membro do Laboratório do Estudo da Dor e Funcionalidade no Envelhecimento (LADORFE), e faz parte de um projeto de iniciação científica com o tema de prevenção de quedas em idosos caidores da comunidade.
O que é Gerontologia? Porque é tão importante?
A gerontologia é uma área muito ampla que em poucas palavras estuda o processo de envelhecimento. Considerando que todo idoso passa por um declínio funcional que afeta todos os aspectos de sua vida, o gerontólogo é capacitado para atuar de uma maneira biopsicossocial, buscando melhorar a qualidade de vida do idoso e promover o envelhecimento saudável.
Devido ao baixo número total de profissionais aptos para lidar com as adversidades do processo de senescência, a importância do profissional é inquestionável.
O curso é oferecido em apenas duas instituições públicas, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de São Carlos (UFScar) na qual eu tenho a oportunidade de estudar. Mas mesmo não sendo um curso muito popular, já começa a ser oferecido em faculdades privadas.
Conheci o curso de Bacharelado em Gerontologia em uma das feira de profissões que tive a oportunidade de participar durante o ensino médio e como dito anteriormente, minha proximidade com esse público apenas confirmou minha escolha de profissão. O curso é considerado novo no país e devido ao crescente aumento da população +60, é considerado muito promissor .
Como aluna e, futuramente, pesquisadora da área, só tenho elogios a fazer, tanto pela maravilhosa proposta do curso, quanto pelo empenho de toda a comunidade acadêmica de introduzir o profissional na comunidade.
Embora nossa presença na rede pública de saúde seja de extrema importância, a profissão ainda não é regulamentada, por isso, é classificada como uma ocupação pela CBO (Classificação Brasileira de Ocupações -131220/ Gerontólogo). Com muita propriedade, posso afirmar que o mercado de trabalho é umas das grandes preocupações do estudante e um maiores motivos de desistência do curso. Além disso, a falta de popularidade não estimula positivamente o ingresso de jovens no curso.
Gerontólogo, Geriatra e Especialista em gerontologia
Resumidamente, o gerontólogo é o profissional da saúde formado e Bacharel em Gerontologia. Estudamos todas as vertentes relacionadas ao processo de envelhecimento, visto que a gerontologia em si, engloba muitas áreas de estudo. É um profissional generalista e multidisciplinar apto para atuar em diferentes contextos e cargos (principalmente em equipe).
A geriatria no entanto, é uma especialização médica que integra o cuidado à saúde do idoso, além do geriatra ser, atualmente, o profissional que tem mais conhecimento sobre os gerontólogos e em diversos momentos ambos atuam em conjunto. Já o especialista em gerontologia, é um profissional de outra área ou profissão, como nutricionistas, educadores físicos, fisioterapeutas e etc., que estudam o processo de envelhecimento e possuem título fornecido pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
Como imagino o cenário do envelhecimento no futuro
Sem dúvida alguma, é uma questão extremamente ampla, no entanto, pensando nas mudanças dos últimos tempos, não acredito que o futuro será generoso com a população idosa, o cenário atual já nos faz ter essa mesma conclusão.
Levo em consideração, as várias modificações das estruturas sociais que ocorreram e estão ocorrendo na nossa sociedade, e isso inclui por exemplo, pessoas que escolhem não ter filhos. É claro que isso não é uma crítica mas, será que o nosso governo terá plenas condições de fornecer, completamente todas as necessidades da população sem o apoio de uma família?
E aqueles jovens de hoje que já possuem doenças crônicas, serão idosos saudáveis no futuro? O que faremos se nos próximos anos perdemos o Sistema Único de Saúde? Considere que mais de 75% da população brasileira não possui convênio médico e que quase 13 milhões não têm emprego. Veremos uma tragédia.
E não apenas isso, penso nos profissionais que não tem a mínima habilidade e conhecimento geral para lidar com um idoso sozinho, pobre e com fome.
É triste que o envelhecimento no Brasil esteja sendo deixado de lado. São muitas questões com as quais teremos problemas e que poderiam ser evitadas desde já, discutir e promover esse tipo de educação é imprescindível.
O que é Estimulação cognitiva e o projeto de extensão?
A cognição é a capacidade de reter informações, interpretá-las, formar pensamentos, aprender, ter atenção e etc. Já o declínio cognitivo é a perda dessas funções (sensação e percepção, linguagem, funções executivas, memória, atenção e cognição social), é a principal caracterização de demências na população idosa.
Pensando nisso, os docentes do Departamento de Gerontologia vem trabalhando com vários projetos de extensão com estimulação cognitiva. Os projetos de extensão são aqueles onde os estudantes se aproximam mais da comunidade, colocando seus conhecimentos em prática e mostrando a população um pouco do que está sendo produzido na universidade. Atualmente, com as oficinas de treino cognitivo paradas por conta da pandemia, surgiu a oportunidade de produzir um material para esses idosos continuarem com a estimulação.
O ebook “COVID-19 E OS IDOSOS” foi pensado desta maneira. ACESSE AQUI Ele conta com diversas atividades e um conteúdo informativo adaptado para uma linguagem mais simples voltada para estes idosos. Felizmente, tivemos uma boa divulgação e esperamos que muitos idosos tenham sido alcançados e beneficiados.
Já o segundo livro “TEMAS SOBRE ENVELHECIMENTO” (que você poderá acessar a partir da próxima semana) conta com assuntos que geram mais dúvidas entre os idosos e população em geral como, doenças crônicas, demências, dores crônicas etc.
Neste momento estamos produzindo também um guia para estimular a mobilidade de idosos institucionalizados e expor outras alternativas além da restrição física, muito recorrente nas ILPI’s do país.
O material foi produzido por alunos e docentes do departamento de Gerontologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e contou com a parceria da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e a Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP/USP).
Seu objetivo é fornecer informações aos idosos acerca da COVID-19 e propor algumas atividades de estimulação cognitiva para realizar durante o período de quarentena.
A obra foi escrita por gerontólogos para os idosos (as) e concentra temas que se relacionam com o processo de envelhecimento. Por meio de capítulos que versam, por exemplo, sobre os direitos dos idosos, qualidade de vida, envelhecimento saudável, doenças crônicas e saúde emocional, os autores propuseram mais de 80 atividades de estimulação cognitiva. Além de informativa, esta obra busca conduzir a pessoa idosa na prática de atividades cognitivas.
Acesse o currículo Lattes da Areta AQUI
foto de abertura: arquivo pessoal.