Havia um skate no caminho das pedras: conheça a história do escritor (e skatista) Régis Adriano

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Escritor, palestrante, ex-dependente químico e, principalmente, alguém que tenta superar, através do esporte e da escrita, os muitos obstáculos diários: são muitas as facetas do skatista Régis Adriano.

No meio do caminho de Régis Adriano tinha um skate: podemos resumir  assim a história desse paulista de 49 anos. Ex-dependente químico, ele já morou na Cracolândia, passou fome, viveu nas ruas e foi  com muita força de vontade que conseguiu resgatar sua autoestima e escrever  o livro “Skate no caminho das pedras”. Hoje ele também faz palestras em escolas e busca, através das redes sociais, fortalecer dependentes químicos que lutam contra a doença do vício em drogas.

Regis, como surgiu a ideia de criar a página no facebook para oferecer apoio aos usuários?

A ideia surgiu da vontade de querer contar a minha história, de mostrar um outro olhar.  Não o olhar que a sociedade julga e diz que o cara usou droga porque quis, que é vagabundo e não tem força de vontade. Resolvi contar a minha história para mostrar que o uso de drogas na minha vida foi consequência de uma série de fatores. Fui um menino que se sentia rejeitado até pela família,  achava que as pessoas não gostavam de mim, que não era querido,  fora outras coisas, tipo, não achar que era bonito, com a autoestima baixa, eu tinha vários complexos, entende? Então, esse foi um dos motivos que me fizeram usar drogas, fora que eu já não tinha credibilidade, desde pequenininho era um cara mentiroso. Então,  também usei drogas para atingir minha mãe, porque ela não acreditava em mim.

Você tem algum tipo de apoio de ONGs ou poder público para fazer o trabalho de conscientização sobre o uso de drogas que realiza em escolas?

Eu tenho apoio de Deus. Deus me dá força, só que de uns tempos pra cá eu tô passando por uma crise emocional, financeira, existencial, pois não é porque parei de usar droga que  não tenho toda aquela confusão que um usuário de droga tem, a única diferença é que eu não uso mais, entende? Então, eu tenho todas essas problemáticas. Tem dia que acordo achando que  sou o herói, tem dia que eu acordo achando que o cocô, então,  fico me vitimizando, entro nas minhas crises, nos meus delírios loucos,  e é justamente por isso que me sinto extremamente frustrado. Pô, minha história já passou em vários veículos, no canal OFF, no UOL, na revista SP Invisível três vezes, já saiu no site Razões para Acreditar, só que em momento algum alguém me deu um apoio. Eu tenho apoio dos caras do skate que me ajudam a vender o livro (saiba mais sobre o livro no final da matéria), eu tenho apoio agora de um doutor dentista aqui de Caieiras, que está ajudando a arrumar meus dentes, mas financeiro, infelizmente, eu não tenho.

 

Pô, minha história já passou em vários veículos, no canal OFF, no UOL, na revista SP Invisível três vezes, já saiu no site Razões para Acreditar, só que em momento algum alguém me deu um apoio. Eu tenho apoio dos caras do skate que me ajudam a vender o livro

 As escolas que você visitou  ficam aqui na região? 

Não, elas não ficam aqui na região. São duas escolas em Mairiporã e outra na zona oeste de São Paulo, na região da Vila Sônia. Então, até o momento eu posso dizer que eu fiz visita a essas três escolas. Eu fiz o EJA aqui nas escolas de Caieiras, conheço o diretor, o professor, o coordenador, só que eu não sei qual é a política, pois para eles minha história não parece interessante. Nunca nem propuseram desenvolver algo. Por exemplo, eu cheguei na delegacia de ensino com meus dois livros, a atendente falou “ ah, faz uma proposta”. Eu soltei dois livros na mesa dela para fazer um barulho.  Eu falei “ poxa, escrevi esse conteúdo, você quer que eu faça uma proposta? Está vindo com burocracia, beleza, tá bom. Aí eu fui embora, virei as costas e fui embora”.

Eu fiz o EJA aqui nas escolas de Caieiras, conheço o diretor, o professor, o coordenador, só que eu não sei qual é a política, pois para eles minha história não parece interessante. Nunca nem propuseram desenvolver algo.

 

Você gostaria que seu trabalho de esclarecimento sobre a  dependência química se ampliasse? Se sim, deixe aqui um recado para nossos leitores.

 É lógico que eu gostaria. Em tudo quanto é tipo de plataforma que você procurar aí na internet, você vai ouvir o Régis contando a história dele. Sabe por quê? Eu queria que alguém encontrasse a minha história e falasse “eu vou ajudar esse cara aqui, mano”. Esse cara merece ser ajudado. Não  esses caras aí, que essas influencers que as pessoas ajudam e fazem tudo aqui, que tem um cara que merece. Um cara que precisa, além de tudo. Por que merecer não merece nada. Hoje eu conto a minha história pra quê? Você sabia que até o Abílio Diniz já contou a minha história? Várias pessoas já contaram a minha história. Várias pessoas já falaram sobre a minha história, várias já falaram ” que incrível a história desse cara”, só que eu continuo aqui.

O fato de ter escrito o livro “Skate no caminho das pedras” e de falar abertamente sobre sua vida, expondo todas as consequências de sua dependência química, foi uma maneira de mostrar que este é um caminho que não compensa?

Sim, claro que foi uma maneira de mostrar que essa vida é uma vida sem futuro, uma vida onde a gente troca nossos sonhos imensos por algo tão pequeno. Eu  não tive tempo de te falar, mas eu escrevi uns poemas, inclusive daqui uns 60 dias eu espero conseguir publicar meu livro de poemas, né, que é pra  quê? Pra trazer esse olhar, o quanto a gente se diminui ao usar droga, o quanto a gente se afasta de quem a gente quer ser quando a gente usa drogas, só que eu só percebi isso quando eu já estava morando lá na Cracolândia,  quando a sociedade me via como um lixo. O (ex-governador) João Dória mandou a invasão do choque lá e deu tiro em todo mundo, jogou bomba, deu borrachada. A violência não faz com que as pessoas parem de usar drogas, nem faz com que elas mudem, faz com que elas só se tornem mais amargas. Então, hoje eu conto a minha história justamente pra isso, pras pessoas aprenderem a se cuidar, a se amar, têm várias mães que dão um telefone pro filho e falam “olha, tô te amando, vou te dar um like que eu tô te amando”, mas não fala pro filho “filho, eu te amo, eu te adoro, você é importante pra mim”, então as pessoas crescem vazias,  não sabem nem o que é amor. Você acha que elas vão ter amor pra oferecer pra outras pessoas? Então, como elas se sentem vazias,  vão se encher de droga, de álcool, de sexo, de joguinhos do tigrinho, as pessoas estão se perdendo. Então hoje eu vim contar a minha história justamente por isso. Eu sei que infelizmente várias pessoas acham que eu sou nóia, acham que eu só sou um cara que fez escolhas erradas, mas sei o quanto que eu sofro, eu sei o quanto as mães que tem um filho lá na Cracolândia já sofrem, então eu conto a minha história justamente pra que as pessoas saibam viver e se amar.  Quando eu comecei a contar minha história, isso de certa forma trouxe esperança para várias pessoas e também trouxe um outro olhar, uma outra perspectiva, né? As pessoas passaram a entender alguns motivos que levavam ao uso de drogas. Então, para mim, o mais importante é atingir os jovens, porque os jovens não experimentaram as drogas ainda. Eu comecei a usar drogas na juventude. Então, fazer o trabalho com os jovens é muito vital. Pra quê? Pra que quando eles tiverem a oportunidade de usar, entre os amigos, eles saibam refletir. Todo mundo fala que as drogas matam, mas por que todo mundo usa drogas? Ah, as drogas são ruins,  mas por que todo mundo usa? Eu contando a minha história, meio que vou trazer essa perspectiva. Além de trazer essa perspectiva, eu mostro as consequências. Eu falei, eu fiquei 30 anos usando. Então, fazer o trabalho com os jovens é a forma de tentar resgatá-los, porque depois que eles começam a usar, fica difícil. Então, eu tentei ir nas escolas, só que as escolas não abrem as portas pra mim. Essas que eu consegui, foram os próprios professores que falaram, “mano, desculpa, ninguém tá fazendo nada, o cara tá aí falando, nós mesmos não vamos fazer”. Então, as escolas me pagam. Os professores se juntam entre eles e fazem ali um rateio, compram três, quatro livros meus, né;  aí já me dá uma condição de me locomover, porque eu não tenho emprego, eu não tenho nada, eu não tenho ajuda de ninguém. Então, diante disso, eu vou lá, conto a minha história e eu tenho recursos pra continuar vendendo meus livros e seguindo, pagando minha internet e assim que eu faço.

O (ex-governador) João Dória mandou a invasão do choque lá e deu tiro em todo mundo, jogou bomba, deu borrachada. A violência não faz com que as pessoas parem de usar drogas, nem faz com que elas mudem, faz com que elas só se tornem mais amargas. Então, hoje eu conto a minha história justamente pra isso, pras pessoas aprenderem a se cuidar, a se amar, têm várias mães que dão um telefone pro filho e falam “olha, tô te amando, vou te dar um like que eu tô te amando”, mas não fala pro filho “filho, eu te amo, eu te adoro, você é importante pra mim”, então as pessoas crescem vazias,  não sabem nem o que é amor.

 

Hoje como você tem vivido sua vida? Continua andando de skate?  Podemos dizer que o skate também ajuda na sua recuperação?

Minha vida é bastante complexa, né? Porque até hoje eu nunca consegui me colocar no mercado de trabalho. Eu tenho 50 anos, entende? Então, é… Eu me sinto culpado de várias coisas.  O skate sempre foi uma fuga para mim, desde pequeno. Desde que eu tinha 14 anos eu andava de skate, mas só que eu já gostava de skate bem antes. Eu não era bom com as coisas, em esporte coletivo e tal. Eu lembro que uma vez eu fui tentar o judô e o cara deu uma rasteira em mim bem rápido e eu caí. Parece que eu nunca consegui levantar daquela queda. Sempre na minha vida parece que as pessoas eram melhores do que eu, eram mais capazes. Parece que eu nunca ia conseguir nada. O meu irmão tem várias medalhas, ele foi bom no vôlei, no judô. Eu tentei ir no judô também, mas eu não consegui. Aí eu nunca fui bom em nada, tá ligado? Então o skate parece que me trazia algo. Foi até por causa do skate que eu voltei da rua, né? O skate hoje me ajuda demais na minha recuperação. Ele é o meu norte, o skate foi a ferramenta que Deus me deu para me salvar. Nem casa de recuperação me salvou. Um dia eu encontrei com a minha mãe na rua e ela falou “vou embora filho, eu tô te procurando faz tempo”. Eu falei “ mãe, arruma cinco reais para mim”, ela falou, dinheiro eu não vou te dar não. Então essa é a minha vida hoje.

Eu lembro que uma vez eu fui tentar o judô e o cara deu uma rasteira em mim bem rápido e eu caí. Parece que eu nunca consegui levantar daquela queda. Sempre na minha vida parece que as pessoas eram melhores do que eu, eram mais capazes. Parece que eu nunca ia conseguir nada. O meu irmão tem várias medalhas, ele foi bom no vôlei, no judô. Eu tentei ir no judô também, mas eu não consegui. Aí eu nunca fui bom em nada, tá ligado? Então o skate parece que me trazia algo. Foi até por causa do skate que eu voltei da rua, né? O skate hoje me ajuda demais na minha recuperação. Ele é o meu norte,

Muitos religiosos dizem que a fé em Deus pode fazer uma pessoa deixar o vício. Você viveu esta experiência?

 Então, na primeira vez que eu quis parar de usar droga, me levaram pra igreja, dizendo que Jesus salva, cura, liberta, que vai transformar a sua vida. Passei vários anos na igreja e eu não encontrei esse Jesus aí que as pessoas falavam. Hoje eu acredito muito em Deus, acredito que eu sou uma ferramenta do Senhor. Mas não é do jeito que as pessoas falam na igreja. E o que acontece? Eu vejo muita mãezinha falando “não acredito que Deus vai salvar meu filho”. Não estou falando que Deus não salva, mas se a pessoa não fizer nada, ela vai morrer naquela condição. E eu vejo várias pessoas, infelizmente, indo embora nessa condição. Sabe por que elas vão embora nessa condição? Porque elas não se ajudam. Elas colocam lá, ah, vou pôr na mão de Deus e Deus que se vira. Infelizmente, não é assim. Eu passei quase 30 anos usando droga. Em vários momentos, eu fiquei lá dentro da igreja e falei “vai Deus, faz aí a tua obra, o teu milagre”. Só que, infelizmente, eu descobri que não é assim. Até isso eu falo no meu livro, das vezes que eu fui pra igreja, que aceitei Jesus um milhão de vezes. Entra na minha casa, entra na minha vida, saía da igreja e fumava a pedra. Então, é bastante difícil. Só que nós vivemos numa sociedade religiosa. Então, dependendo da forma como você fala, tem umas consequências, né? É um peso.

Eu passei quase 30 anos usando droga. Em vários momentos, eu fiquei lá dentro da igreja e falei “vai Deus, faz aí a tua obra, o teu milagre”. Só que, infelizmente, eu descobri que não é assim. Até isso eu falo no meu livro, das vezes que eu fui pra igreja, que aceitei Jesus um milhão de vezes. Entra na minha casa, entra na minha vida, saía da igreja e fumava a pedra. Então, é bastante difícil.

Para comprar o livro do Régis Adriano acesse:  https://afonteskateshop.com.br/produtos/livro-skate-no-caminho-das-pedras/

Para assistir ao documentário feito pelo Canal OFF, acesse aqui

Saiba mais no Instagram  @gringo_skt100pre/reel/C51ogS6A0RK/

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