Evento que inicia em 22 de julho convida público a refletir sobre rumos da previdência pública no Brasil
Jornal da USP
Seja na Itália dos anos 50, seja na Inglaterra de 2017, a aposentadoria rende debate em diferentes locais e momentos, inclusive no Brasil atual. Pensando nisso, a nova mostra do Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp) evidencia a realidade do cidadão que não é mais parte ativa da força de trabalho. A Divina Previdência estreia no dia 22, segunda-feira, e fica em cartaz até 11 de agosto. Para Davi Morales, um dos curadores, “ressaltar e refletir a situação do País por meio da arte — que tem que ser política — de uma forma crítica é muito importante”.
“Refletir sobre como esse tema foi abordado nos filmes, em diferentes países e períodos, pode nos ajudar a pensar no que está acontecendo aqui, como e por quê”, afirma Wellington Gomes, que também faz parte da curadoria da mostra. Morales complementa: “É uma preocupação nossa diversificar para não ser algo pontual e que não tem reverberação, até porque esse é um tema recorrente do mundo como um todo”. Entre os destaques está Umberto D. O filme do neorrealismo italiano se passa na década de 50 e apresenta um aposentado que, mesmo sendo ex-funcionário público, é obrigado a viver na rua ao lado de seu cachorro. A mesma dificuldade é abordada sob cenário britânico e na década atual em Eu, Daniel Blake, do diretor Ken Loach, já conhecido por tratar de desigualdades sociais em seus filmes.
No território brasileiro, o documentário O Fim e o Princípio, de Eduardo Coutinho, conta a história de moradores de uma vila no sertão da Paraíba, abordando inclusive as dificuldades enfrentadas por idosos, em uma vivência bastante distinta de São Paulo. “É isso o que o cinema tem de bom. Coloca outras realidades que não a nossa para observar e considerar”, diz Morales. Ele destaca que o longa terá exibição especial em 35 mm, trazendo a experiência do cinema clássico.
A programação também conta com três curtas-metragens, que complementam a narrativa de três longas: A Casa dos Pequenos Cubinhos, animação asiática que ganhou Oscar e abre a sessão de Gray Gardens; Visões da Europa: Prólogo acompanha Umberto D.; e Divina Previdência, que dialoga com Eu, Daniel Blake. O agrupamento entre curta e longa não ocorre de forma aleatória. No caso da última combinação, ambos lidam com as dificuldades da burocracia, a qual existe para evitar que o cidadão consiga o benefício.
Por mais que a mostra tenha o título de Divina Previdência, Gomes e Morales enfatizam que não se trata de uma referência ao curta de Sérgio Bianchi. O nome do evento foi decidido durante a escolha do tema, há cerca de quatro meses, como uma ideia do diretor do Cinusp, Cristian Borges. “Só depois, durante a pesquisa de filmes, é que descobrimos o curta”, diz Gomes.
A produção da mostra, com pesquisa e seleção dos filmes, durou cerca de dois meses. A ideia foi trazer filmes que retratam a velhice e suas condições não ideais devido a fatores financeiros. Além de Borges, Morales e Gomes, participaram da curadoria Eric Santos e Lucas Silva.
A mostra Divina Previdência do Cinema Paulo Emílio (Cinusp) da USP acontece de 22 de julho a 11 de agosto. As sessões ocorrem de segunda a sexta-feira, às 16 e às 19 horas, no Cinusp (Rua do Anfiteatro, 181, Colmeias, Favo 4, na Cidade Universitária, em São Paulo), e às 14 às 16 horas, no Centro Universitário Maria Antonia da USP (Rua Maria Antonia, 258, Vila Buarque, em São Paulo). Para conferir a programação completa, acesse o site do Cinusp.
Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3091-3540.
(Imagem de abertura: filme Eu, Daniel Blake, do diretor inglês Ken Loach).