Ouro para Rebeca Andrade: o que torna ginasta a maior atleta olímpica do Brasil de todos os tempos, segundo treinadora que a descobriu

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Uma série de “acasos” marcou a iniciação de Rebeca Andrade na ginástica artística, ainda aos 6 anos de idade, em Guarulhos (SP).

Vitor Tavares/ BBC News Brasil em São Paulo

Era início dos anos 2000, e a nova turma de crianças do projeto social da Prefeitura da cidade na Grande São Paulo já estava praticamente selecionada ― sem o nome de Rebeca, filha de uma mãe solo, empregada doméstica, que pouco tempo tinha para pensar em carreira esportiva dentro da família.

Mas uma tia de Rebeca, Cida, havia acabado de começar a trabalhar como cozinheira no ginásio de esportes. E pediu para a professora e técnica Monica dos Anjos dar uma “olhadinha” naquela sobrinha espevitada que já gostava de pular os móveis em casa.

“Quando vi aquele corpinho forte, torneado, cheio de musculatura que a gente busca em crianças da ginástica, eu já sabia que tinha algo especial”, lembra Monica sobre a decisão de abrir espaço para mais uma aluna nas classes.

Rebeca Andrade se tornou nesta segunda-feira (5/8) a maior medalhista da história olímpica brasileira, ao ganhar o ouro no solo da ginástica, superando a americana Simone Biles. Ao todo, ela já subiu em seis pódios olímpicos.

A medalha histórica da ginasta de 25 anos em Paris se somou às pratas no salto e no individual geral, além do bronze com a equipe brasileira.

Nos Jogos de Tóquio, em 2021, Rebeca ganhou a prata no individual geral e o ouro no salto.

Com as conquistas em Paris, Rebeca também se tornou a maior medalhista brasileira em uma única edição dos Jogos.

Rebeca criança e Monica se abraçam num ginásio
Rebeca e sua primeira treinadora, Monica dos Anjos/ Foto acervo pessoal  

Para a professora que acompanhou os primeiros saltos de Rebeca, as subidas cada vez mais frequentes ao pódio rebobinam um filme.

“Vem na memória quando ela veio pequenininha com tia. Eu segurei a mão dela e pedi para ela pular no tablado. Pensei: temos aqui uma nova Daiane dos Santos“, diz Monica dos Anjos, lembrando outra ginasta vitoriosa brasileira, também negra e da periferia, que vivia seu auge na época.

Tanto o sucesso de Daiane quanto o de Rebeca, duas mulheres “carismáticas e que carregam a alegria do esporte”, vêm consolidando cada vez mais o Brasil na ginástica mundial, avalia Luisa Parente, a primeira ginasta do país a participar de duas olimpíadas: Seul 1988 e Barcelona 1992.

No projeto social de Guarulhos, para onde ia andando com o irmão mais velho, um dos oito filhos de dona Rosa, o talento de Rebeca se sobressaiu e ela passou a ser acompanhada pelo treinador Chico Porath, com ela até hoje.

“Era difícil manter ela focada, porque ela achava tudo fácil. Eu botava as meninas em fila e ‘cadê a Rebeca?’ Ela estava vendo as mais velhas, imitando os passos de dança, os movimentos”, lembra Monica dos Anjos

A ginasta se mudou então para Curitiba aos dez anos e, depois, ao Rio de Janeiro, onde entrou para Clube de Regatas do Flamengo, do qual é atleta até hoje.

Mas ― além da coincidência de morar numa cidade com um projeto social relevante na ginástica, contar com o “empurrão” do sucesso de Daiane e ter uma tia que cozinhava para os atletas mirins ― o que faz de Rebeca uma atleta tão “genial”, a ponto de ser a única atualmente a bater de frente com Simone Biles, a superginasta americana?

São três fatores principais apontados pelas ex-técnicas: a força e potência física; o equilíbrio mental; e o carisma.

Logo após ganhar a medalha de prata nesta quinta, Rebeca respondeu a uma pergunta feita pela BBC News Brasil: qual dessas três características mais a ajudou a chegar aonde chegou?

“As três me ajudaram, o equilíbrio de tudo. E claro, todo o trabalho da minha equipe, o Chico [técnico] olha para mim e sei que confia em mim. Eu olho para ele e confio nele. Se acontecer qualquer coisa, a gente vai se sentir sempre orgulhosos. Isso me tranquiliza”, disse Rebeca.

Rebeca Andrade em salto com as pernas esticadas
Hannah Mckay Rebeca se tornou a mulher com mais medalhas olímpicas do Brasil                   

 

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