Todas as semanas vemos a mesma cena: José Dionísio dos Santos, 73 anos; e sua esposa, Maria do Carmo Silva, 67; andam pelas ruas do bairro em busca de latinhas de alumínio para vender.
Faça chuva ou faça sol, lá vão os dois, descendo e subindo ladeiras.
Ana Claudia Vargas
Ali pelo meio da tarde, dependendo da quantidade arrecadada, os dois vão se ajudando na tentativa de seguir caminhando com uma enorme quantidade de latas acomodadas em um grande saco.
Tentamos conversar com os dois há muito tempo, mas tempo para eles é algo escasso; é preciso andar depressa _ na medida do possível _ para recolher as latas antes que a empresa de coleta seletiva apareça para fazer o mesmo serviço. A competição, como devem imaginar, não é nada justa.
Apesar disso, a gente conseguiu conversar com ‘seu’ José Dionísio rapidamente, entre uma rua e outra, e ficamos sabendo um pouquinho de sua história: José é alagoano, veio para São Paulo em 1978 e trabalhou como pedreiro e cozinheiro. Ele nos conta que pagou o INSS durante 20 anos e hoje recebe um salário mínimo que mal dá para o básico. Tem cinco filhos adultos, oito netos e cinco bisnetos. Os filhos não podem ajudar em nada; daí a necessidade de recolher latas para ganhar alguns trocados. Ele e a esposa fazem esse trabalho há oito anos e costumam ganhar 200 reais por mês (!!) com a venda do material que é recolhido na cidade de Caieiras (grande São Paulo). A esposa de José ainda não conseguiu se aposentar.
Mas porque estamos contando a história de José Dionísio dos Santos e de sua esposa?
Porque não há como vê-los e não pensar em como será a vida deles e de outros milhões de brasileiros, caso a reforma da previdência (como está sendo proposta) seja aprovada.
Se a vida para eles sempre foi difícil e ‘obriga’ os dois a caminharem horas e horas em busca de latas de alumínio para complementar o salário mínimo que somente ele recebe como aposentado; você já pensou como será quando os próximos Josés e Maria tiverem que trabalhar por mais tempo, ainda que não tenham condições de saúde para isso, para complementar um benefício que será menor do que o que é pago hoje?
Haja latinhas de alumínio pra tanta gente!