Durante a live da ONG Oxfam Brasil, o médico também afirmou que é o Estado quem deve dar condições financeiras para que a população mais pobre consiga realizar o necessário isolamento social.
Bate-papo online da organização realizado nesta quinta-feira (14/05) pelo Youtube discutiu acesso à saúde e moradia e como isso interfere no combate ao coronavírus no Brasil. Participaram da live Carmen Silva, coordenadora do Movimento Sem-Teto do Centro de São Paulo (MSTC) e o doutor Drauzio Varella, com mediação da diretora-executiva da Oxfam Brasil, Kátia Maia.
Em live realizada nesta quinta-feira (14/5) no canal do Youtube da Oxfam Brasil, o médico Drauzio Varella afirmou que o debate entre o necessário distanciamento social e a proteção da economia brasileira é puramente político, não tendo base alguma em dados sérios.
“Respeitem o isolamento social. Essa discussão de que o país vai quebrar é artificial, política. Não é baseada em dados sérios”, afirmou. Segundo ele, não adianta querer liberar as pessoas para voltarem ao trabalho e para consumir. “Será uma grande tragédia coletiva e ineficaz. Porque não vamos conseguir ativar a economia no meio de uma pandemia”, declarou. “A troco de que outros países do mundo iriam decretar o isolamento se não houvesse necessidade? Eles são idiotas? Não. Eles se conscientizaram de que era necessário evitar uma grande tragédia”.
Para Drauzio Varella, é o Estado quem deve dar condições financeiras para que a população mais pobre consiga realizar o necessário isolamento social.
Carmen Silva, coordenadora do Movimento Sem-Teto do Centro (MSTC), de São Paulo, concorda com o médico. “A Covid-19 reverbera o que a gente vem dizendo há anos: quem não tem moradia, não tem saúde. Ter de pagar aluguel tira dinheiro da alimentação e da saúde. E as habitações precárias, com adensamento excessivo, em que várias pessoas compartilham o mesmo cômodo, provocam doenças”.
Para Carmen, quando as pessoas enfrentam uma fatalidade, elas logo pensam em criar regras novas. “Não precisa de nada disso. É só respeitar a Constituição, os direitos básicos dos cidadãos, como o direito à moradia. Já temos leis que nos garantem isso. Vamos aprender a exigir o que está na Constituição”.
Kátia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil, criticou a banalização da desigualdade no país. “É impressionante como a gente naturalizou a desigualdade. Como se ela fosse algo divino. Não é. As desigualdades são construídas socialmente. E precisamos lutar para reduzi-las.”
Na opinião de Drauzio, a população brasileira está pagando a conta da imensa desigualdade social do país. “Fizemos escolhas muito ruins ao longo de décadas e não priorizamos o combate à desigualdade”, disse, acrescentando que o Brasil será em breve o epicentro da pandemia mundial, ultrapassando o número de casos dos Estados Unidos. “Teremos o maior número de casos e seremos o local onde a epidemia se dissemina com maior rapidez”. Um dos motivos é a dificuldade de se manter o isolamento social por conta da condição de pobreza da maioria da população.
fonte: assessoria de imprensa