De acordo com Pablo González Blasco, fundador da Sobramfa, estar disposto a ouvir os idosos da família é o melhor presente para comemorar a data. O médico ainda sugere rever o filme “As filhas de Marvin”, para refletir sobre generosidade, amor e amizade
No dia 26 de julho, brasileiros e portugueses comemoram o Dia dos Avós. Apesar de não ser uma data forte para o comércio, trata-se de um dia importante para valorizar a presença de muitos idosos na vida de tantas famílias – o que deve aumentar, tendo em vista o aumento da expectativa de vida. Essa data foi escolhida em razão da comemoração do dia de Santa Ana e São Joaquim, pais de Maria e avós de Jesus Cristo. Por isso, é ainda mais comemorada pelos cristãos. Mas nem tudo é festa. É crescente a queixa de idosos que se sentem relegados a segundo plano não apenas pela família, mas pela sociedade de modo geral – como se fossem invisíveis.
Estudo realizado na Universidade de Oxford (Reino Unido) revelou que 40% dos avós de quase 1.600 crianças tomavam conta delas com alguma frequência e que 33% das avós maternas se dedicavam diariamente a seus netos. Essa amostragem revela a importância da parceria entre os avós e os pais que trabalham fora e enfrentam uma rotina de trabalho e deslocamento cada vez mais estressante. Os mais velhos interagem muito mais com as crianças e adolescentes da família, estando aptos para resolver desde problemas corriqueiros até conversar com seus netos sobre planos para o futuro e ainda aconselhar sobre namoro e tudo o que envolve as amizades. Mesmo diante de uma crise familiar ou separação dos pais, os avós costumam oferecer alguma estabilidade aos mais jovens.
De acordo com Pablo González Blasco, fundador da Sobramfa – Educação Médica & Humanismo, as queixas dos idosos se intensificam bastante depois dos 70 anos, quando os filhos ainda estão absorvidos com questões de trabalho, relacionamento e finanças, e os netos já conquistaram alguma independência. “É justamente nesse ponto que tem início uma das piores crises da terceira idade. É quando o idoso deixa de sentir-se útil e, pior, percebe que ninguém presta atenção nele. Culturalmente, os idosos não estão no radar dos mais jovens. É como se eles tivessem de ocupar um espaço para envelhecer sem causar muitos inconvenientes. Parece cruel, mas é a realidade de muitas pessoas – principalmente dos homens, que têm menos intimidade com os membros da família”.
Na opinião do médico, que atua fortemente na formação de jovens médicos humanistas, capazes de compreender que os idosos experimentam os mesmos anseios por aceitação, amor e significado, um dos melhores presentes para o Dia dos Avós é estar disposto a ouvir sem julgamentos e sem pressa o que os membros mais velhos da família têm a dizer. “À medida que envelhecemos, perdemos força e habilidade, perdemos pessoas queridas, perdemos o controle e a saúde. Quando o indivíduo idoso encontra respaldo da família para sentir-se amado, respeitado e acolhido, consegue enfrentar as perdas do envelhecimento com mais razões para ser grato”.
Especialista em utilizar o Cinema como metodologia de ensino da medicina centrada no paciente, Blasco chama atenção para temas importantes largamente abordados no filme “As filhas de Marvin”. Lançado no Brasil em 1997, o filme conta a história de duas irmãs de meia idade – interpretadas por Meryl Streep e Diane Keaton. Enquanto uma deixou a cidade e foi viver sua vida, a outra cuidou do pai que há muitos anos sofreu um derrame e é totalmente dependente. O problema central é que a filha cuidadora está com leucemia e, além de lidar com sua própria doença e angústias, precisa superar a mágoa e garantir que sua irmã saberá cuidar do pai caso ela não possa mais. “Desde o início, encontramos um diálogo difícil. Ao longo do filme, temos uma aula sobre a ciência do cuidar – neste caso, com muita dedicação e pouca técnica. O desempenho fabuloso das atrizes é apenas a ponta do iceberg de um outro duelo, mais apaixonante do que a representação cênica. As brigas entre amor e egoísmo, personificadas nas duas irmãs, são batalhas diárias que cada um deve travar consigo mesmo, pois todos carregamos, de algum modo, essas irmãs dentro de nós”.
Na opinião do médico, que atua fortemente na formação de jovens médicos humanistas, capazes de compreender que os idosos experimentam os mesmos anseios por aceitação, amor e significado, um dos melhores presentes para o Dia dos Avós é estar disposto a ouvir sem julgamentos e sem pressa o que os membros mais velhos da família têm a dizer.
O médico argumenta que as pessoas não são quimicamente puras, não nascem boas ou más, mas se constroem no acontecer humano. “É preciso cruzar verticalmente a tendência negativa do egoísmo e transformar em algo positivo. É preciso, primeiro, modificar a sintonia e situar o amor no seu verdadeiro âmbito, no governo da vontade, abandonando a tirania do gosto, abandonando a toca do egoísmo que nos isola dos outros – que nada mais é do que um túmulo de quem vive para si mesmo e desconhece que o amor nos torna felizes quando o entregamos aos semelhantes. A mensagem que sobrevive ao filme é essa: somos mais felizes quando conseguimos amar e nos doar, muito mais até do que nos sentirmos amados. Por isso, trazendo esse exemplo para nossa vivência, a dica não é dar atenção aos avós e idosos de modo geral apenas numa data comemorativa, mas sempre que for possível”.
Fonte: Assessoria de Imprensa Sobramfa