Pesquisa aponta percepção negativa sobre as condições de vias e calçadas.
A pesquisa inédita conduzida pela Fundación MAPFRE sobre mobilidade urbana chama a atenção para as conquistas da longevidade e suas potencialidades, mas também apresenta as dificuldades enfrentadas pelas pessoas idosas ao se locomoverem em São Paulo. O aumento da expectativa de vida torna fundamental avaliar os riscos aos quais essa parte da população está exposta nas cidades, já que a redução de capacidade funcional aumenta as chances de acidentes de trânsito.
O trabalho foi desenvolvido em quatro partes: análise da mortalidade por acidentes de trânsito no Brasil e na capital paulista; pesquisa quantitativa com 1.102 pessoas de 60 anos ou mais; entrevista em profundidade com 20 idosos e 20 especialistas no tema da mobilidade da pessoa idosa; e levantamento das condições da infraestrutura urbana.
“As opiniões dos entrevistados revelam suas percepções como pedestres e usuários de transporte público e dão importantes subsídios para a criação e aperfeiçoamento de políticas públicas focadas na mobilidade de pessoas, e alertas sobre respeito e solidariedade. É de conhecimento que nos próximos 20 anos, aproximadamente, um em cada quatro brasileiros será idoso. Então, é necessário falar sobre essas questões o quanto antes, porque todos serão beneficiados em algum momento”, aponta Fátima Lima, diretora da Fundación MAPFRE no Brasil.
Para a coordenadora da pesquisa, Leides Barroso Azevedo Moura, esse documento é inovador e extremamente relevante para que sociedade e governos reflitam sobre as condições dos deslocamentos a partir do olhar dos idosos. “O enfrentamento ao ageísmo por meio da criação de uma cultura de respeito intergeracional é tão importante quanto promover políticas públicas para a segurança na mobilidade da cidade. Os resultados evidenciam as condições precárias de nossas ruas e calçadas para garantir um deslocamento seguro, bem como a falta de respeito de motoristas e usuários de transporte público com a pessoa idosa. É evidente a falta de ações específicas que busquem trazer mais segurança para a mobilidade de pessoas acima de 60 anos”, completa.
No geral, a percepção do trânsito é negativa. A pesquisa apontou que idosos se descolocam geralmente a pé ou por ônibus e frequentemente por regiões próximas às suas residências. Eles também se queixam da condição das calçadas, da falta de gentileza no transporte público e da falta de políticas públicas em favor da mobilidade. Mais da metade tem medo de sofrer acidente no trânsito.
Os principais pontos levantados na pesquisa foram:
Meios – Os deslocamentos são feitos com maior frequência à pé ou por ônibus (81%);
Calçadas – 80% dos entrevistados relataram que existem muitos buracos nas calçadas, um dos principais motivos de quedas e tropeços. Para 50%, a infraestrutura das ruas é ruim ou péssima;
Iluminação – Na percepção dos idosos, a iluminação das ruas é insuficiente (34%) e parcialmente suficiente (20%);
Ônibus – Muitos pontos não têm abrigos para sol ou chuva;
Gentileza – No ônibus, é frequente a pessoa idosa não ter assento cedido por outra pessoa. Além disso, 30% disseram que muitos motoristas sempre dirigem de forma agressiva, com freadas bruscas. Na pesquisa quantitativa, alegaram que muitos condutores de carro e de moto não respeitam o pedestre, nem esperam o idoso atravessar a rua;
Medo – 56% dos entrevistados têm medo de sofrer um acidente de trânsito, evidenciando a percepção de risco elevado fora de casa.
A avaliação de infraestrutura in loco confirmou muitas das percepções das entrevistas quantitativas e qualitativas. Nos 50 pontos de observação, foram mapeados 1.974 obstáculos dos mais variados tipos, ou seja, 12 a cada 100 metros de caminhada. Entre eles estão: postes e placas de trânsito atrapalhando a livre circulação, barracas ou camelôs, lixeiras, vasos de plantas, materiais de construção, entre outros.
Políticas públicas
O resultado das entrevistas em profundidade mostra também que os idosos conhecem algumas políticas públicas, a exemplo do Estatuto do Idoso. Porém, relata que as iniciativas são pouco divulgadas e colocadas em prática. Abaixo as principais mencionadas:
• Academia da cidade e centros comunitários que oferece atividades físicas e de convivência para idosos;
• Vagas reservadas em estacionamentos;
• Gratuidade no transporte público;
• ILPIs (Instituição de Longa Permanência para Idosos);
• Salário mínimo garantido para o idoso;
• Prioridade nas filas;
• Projetos de arquitetura nas cidades que garantem a acessibilidade dos idosos;
• Prioridade para idosos no tratamento de câncer;
• Atendimento médico domiciliar para o idoso;
• Prática de Lian Gong nos postos de saúde;
• Órgãos públicos específicos – Secretaria da Proteção do Idoso e Coordenação do Ministério da Saúde.
Os especialistas entrevistados avaliam que a mídia se torna uma grande aliada para conscientizar a sociedade e pressionar o poder público por melhorias das políticas voltadas à terceira idade. Ao mesmo tempo, o estudo mostra que existe uma perspectiva de melhoria dessas políticas nos próximos anos.“De tudo o que apuramos e observamos, além de melhoria na estrutura de vias e calçadas, é fundamental que a própria sociedade esteja mais atenta a esse público, sendo respeitoso e tolerante em meio ao dia a dia tão dinâmico numa cidade como São Paulo”, completa a executiva.
Sobre a Fundación MAPFRE
Com sede na Espanha e atuação em 33 países, a Fundación MAPFRE é uma instituição sem fins lucrativos, que tem o objetivo de promover, fomentar e investir em pesquisas, estudos e atividades de interesse geral da população. No Brasil atua para disseminar valores, promover o acesso à informação, cultura e visa contribuir com o bem-estar da sociedade, apoiando e desenvolvendo iniciativas nas áreas de Ação Social, Prevenção e Segurança Viária, Seguro e Previdência Social, Promoção da Saúde e Cultura. Em 2018, suas iniciativas impactaram cerca de 2 milhões de brasileiros. Site: http://www.fundacionmapfre. com.br
fonte: CDN Comunicação