A educadora física Andrea Maria Amora Gomes, de 60 anos, mantém alimentação saudável e associa equilíbrio físico, mental e espiritual: “Penso que deveríamos usufruir da sabedoria dos mais velhos para nos guiar como sociedade” – Foto: Paulo Márcio/Encontro
Campanha internacional defende que ‘velhice não é doença’ e especialistas revelam que a idade cronológica não é um bom parâmetro para se definir o idoso
De repente, do vigor dos 30 anos de idade você se vê transportado para os 40, 50, 60… É comum ouvir, de quem já chegou lá, que o tempo parece passar num piscar de olhos. E passa mesmo. Mas é cada vez mais corriqueiro se deparar com frases como “a vida começa aos 50” ou “os 60 são os novos 40”. Embora no Brasil, por lei, o indivíduo já seja considerado idoso aos 60 anos, no dia a dia o que se vê são pessoas com essa idade (ou bem mais) cada vez mais ativas. “É importante reconhecer que a idade cronológica não é um marcador preciso para as mudanças que acompanham o envelhecimento”, diz Luane A. Dantas de Oliveira, médica da equipe de Clínica Médica e Cuidados Paliativos do Hospital Madre Teresa. “Existem diferenças significativas relacionadas ao estado de saúde e níveis de independência entre pessoas da mesma idade.”
A observação vai ao encontro da mudança de expectativa de vida da população brasileira.
No início do século XX, segundo o IBGE, a média era 33,7 anos. Em 2020, saltou para 76,8 anos, o que corrobora a afirmação dos especialistas de que a idade cronológica não é um bom parâmetro para se definir o idoso. Para o médico Marco Antônio Marques Félix, geriatra da American Heart Association, é preciso entender que o envelhecimento é uma consequência de como se administra a própria vida no presente e das expectativas que se tem para o futuro. “Não importa a quantidade de anos que o indivíduo tem, mas sim o que ele fez nos anos vividos”, afirma ele. O administrador de empresas aposentado José Orlando Júnior, de 64 anos, colhe hoje o resultado dos cuidados que adotou desde sempre. Para ele, a juventude começa por se manter uma mentalidade jovem. “Vemos com frequência pessoas bem mais novas com atitudes e comportamentos esperados dos mais velhos, como sedentarismo, isolamento e desatualização tecnológica.” Além dos serviços de marcenaria que realiza como hobby, pratica pilates e mountain bike. Imagine, então, qual não foi a sua surpresa ao receber a notícia de que a partir de janeiro deste ano a nova Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID 11), da Organização Mundial da Saúde (OMS), teria a velhice como sinônimo de doença. A polêmica gerou indignação mundial e resultou na campanha “Velhice Não é Doença”, que fez com que a OMS revisse sua decisão, não mais associando “velhice” à causa de morte de pessoas com idade a partir dos 60 anos.
Vencida a batalha, a velhice passou a constar como possível fator associado à morte e não mais como a causa definida a ser registrada no boletim médico. Uma medida que, segundo as entidades envolvidas, também combate o chamado etarismo, preconceito sofrido pelas gerações mais experientes. Em maio de 2020, a Assembleia Geral da ONU já havia declarado 2021-2030 a Década para um Envelhecimento Saudável, em um movimento globalizado que prevê dez anos de esforços para melhorar a vida dos idosos, de suas famílias e de suas comunidades. Para especialistas, a velhice não pode ser definida pela simples cronologia, mas também pelas condições biológicas, psicológicas, sociais e ambientais em que cada indivíduo está inserido.
Coordenadora da geriatria do Instituto Orizonti, a médica Juliana Elias Duarte explica que o processo de envelhecimento natural, fisiológico, e que não costuma trazer limitações é chamado de “senescência”. Já o envelhecimento que vem acompanhado de adoecimento e que, por último, tira a capacidade de se viver com autonomia e independência é denominado “senilidade’’.
“A longevidade é uma construção feita ao longo da vida e quanto mais jovem o indivíduo adotar hábitos saudáveis, melhor.” Para se envelhecer bem, diz ela, também é preciso controlar doenças já existentes. O elixir da longa vida não é segredo para ninguém: alimentação saudável, boas noites de sono, praticar atividade física, ter bom convívio social, evitar álcool e cigarro, entre outras drogas, além de cuidar da mente. O geriatra Marco Antonio reforça: “Somos o que comemos, pensamos e fazemos com o nosso corpo. A genética carrega a arma, o estilo de vida aperta o gatilho”.
Especializado em treinamento para idosos, o personal trainer Níkolas Chaves Nascimento lembra a importância do fortalecimento muscular em qualquer idade.
Segundo a OMS, entre 2000 e 2019 as quedas causaram a morte de 18,8 mil pessoas no Brasil, sendo 15,1 mil vítimas com mais de 60 anos. “O treinamento funcional melhora a coordenação motora, o equilíbrio e a orientação, além de dar mais flexibilidade e velocidade à marcha, diminuindo a incidência de quedas”, afirma. Foi nos cuidados com os avós que ele decidiu se especializar na área. Aos 102 anos, sua avó Zilda Franco Chaves é ovolactovegetariana, faz caminhadas diárias, pratica exercícios físicos três vezes por semana ao seu lado, devora clássicos da literatura e tem até Instagram. Ao longo de sua vida, foi professora de ioga, acompanhou o marido em sua carreira de magistrado e criou cinco filhos. “Enxergo a vida com muita gratidão e busco sempre o caminho para o crescimento espiritual”, diz ela.
Bem mais jovem que dona Zilda – apesar de leis a qualificarem como idosa -, a educadora física Andrea Maria Amora Gomes, de 60 anos, está cheia de vida. Sem exageros, mantém uma alimentação saudável e associa equilíbrio físico, mental e espiritual. Para ela, é preciso seguir o exemplo das culturas indígena e oriental nas quais os anciãos são valorizados e respeitados. “Penso que deveríamos seguir o caminho oposto do sugerido pela OMS e usufruir da sabedoria dos mais velhos para nos guiar como sociedade”, afirma. Com toda a razão.
O que é envelhecer
Para os especialistas, a velhice não pode ser definida pela simples cronologia. Saiba quais são os tipos de envelhecimento:
- Biológico: conjunto de mudanças físicas e orgânicas que resultam na redução da capacidade fisiológica do organismo
- Cronológico: identifica apenas o passar do tempo, determinando a idade que cada indivíduo tem
- Social: alterações nos papéis sociais que podem levar o idoso a se sentir excluído da sociedade, deixando de interagir com o outro e com o mundo
- Psicológico: alterações cognitivas (atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem), intelectuais, comportamentais e emocionais.
Fonte: Daniela Costa – Encontro
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