Se vivo fosse, o que Nelson Rodrigues diria do atual cenário da política nacional?
Por Wanderley Parizotto*
Nelson Rodrigues (1912-1980) foi um dos maiores dramaturgos, escritores, jornalistas e cronistas brasileiros. Torcedor fanático do Fluminense, com raro humor ácido, era também criador de frases genais.
Talvez o melhor frasista do Brasil, Nelson nos deixou algumas pérolas como estas:
“Invejo a burrice, porque ela é eterna”; a humanidade fracassou; subdesenvolvimento não se improvisa, é obra de séculos”. Entre outras tantas.
Há uma em especial que retrata bem o momento do Brasil: ” Os idiotas vão tomar conta do mundo, não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”. Nosso país, nos últimos quatro anos, principalmente, se dedicou árdua e diuturnamente, de forma incansável até, na criação e proliferação de idiotas públicos com suas idiotices.
Fica até difícil destacar o melhor. São todos muito bons na área. Creio que se houvesse um prêmio mundial para os maiores idiotas, o Brasil seria o principal favorito e, com certeza, angariaria do primeiro ao centésimo prêmio, desde que fossem premiados só 100. Se fosse mais, também ficaria com os demais.
De fato é complicadíssimo escolher os maiores idiotas e seus ditos imbecis. O pior é que tem muito brasileiro que acredita nessas figuras e nas suas falas despropositadas. E, de fato, eles (e elas) perderam a modéstia. Toda e qualquer bizarrice pode ser dita publicamente, por pessoas públicas e formadoras de opinião. Só para lembrar, sem querer tirar os méritos de tantos outros, pois não seria justo, na medida que todos são muito bons nesta área:
A ministra Damares Alves, da pasta Mulher, Família e Direitos Humanos, disse que se encontrou com Jesus em cima de uma goiabeira. É verdade, ela afirmou o encontro. E ela não parou por aí. Porém, não conseguiu a mesma ‘performance’ nas outras falas.
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse que homossexuais são frutos de famílias desestruturadas, que faculdade não é para todos, que crianças portadores de deficiência física e mental atrapalham. Foi fundo o ministro.
Já o pastor evangélico, Valdemiro Santiago, vendeu feijão abençoado para combater a COVID_19. O preço? 100 gramas por R$ 1.000,00. E conseguiu vender. Brilhante, não?
Agora uma celebridade: a atriz global, Elisângela, afirmou nas redes sociais que não se vacinaria porque a vacina era prejudicial. Contraiu a COVID e quase morreu. Passou perto.
O ex-ministro da saúde, Eduardo Pazuello (acima), se auto intitulou ‘especialista de quatro costados’ em Logística. Mas confundiu o clima do norte do país com o clima do hemisfério norte e mandou para Macapá (AP) as vacinas que deveriam ir para Manaus (AM). Quase acertou, faltou pouco.
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), ao lado, por sua vez, acaba de lançar um aplicativo para orientar as pessoas que não querem se vacinar. É isso mesmo. Não abri o aplicativo, mas imagino que contenha promoções de urnas funerárias, ofertas de enterro, serviços de carpideiras (e etc.), de fato, produtos muito úteis para quem for contaminado com o coronavírus.
A relação é muito grande. Impossível relatar tudo. Mas, claro, o campeoníssimo é o Sr. Jair Bolsonaro, tanto pela quantidade como pela qualidade das asneiras.
Não há como catalogar tudo dito por ele, sem o auxílio de um supercomputador chinês.
Ele acha que há comunistas no Brasil.
Você conhece algum? Quis vender cloroquina para combater a COVID. Disse que iria invadir a Venezuela com apoio dos Estados Unidos, para defender a democracia…
Aqui ele foi muito bem: não só não invadiu, não só não recebeu apoio estadunidense, como também não foi recebido pelo atual presidente norte americano, Joe Biden. E teve que engolir a visita de comitiva de altos funcionários americanos à Venezuela, na semana passada, com direito a toda pompa e bandeiras dos dois países, lado a lado.
Contudo, se é que é possível escolher a maior idiotice, com certeza, o pronunciamento feito depois da viagem à Rússia, seria séria candidata: ” Graças a Deus, depois que conversamos (ele e o Putin), a Rússia resolveu recuar suas tropas. Levamos a paz”.
Pois é.
Nelson Rodrigues, além de tudo que fez, também foi vidente. E dos bons.
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