Vocês se lembram quando a atriz Isabella Rosselini foi demitida lá nos anos noventa, porque havia chegado aos 42 anos e a Lancôme disse, sem mais delongas, que ela estava velha?
Ana Claudia Vargas
Disseram ainda, mais ou menos isso: que ela representava ‘o sonho de juventude’ de toda mulher e como ela estava envelhecendo, não poderia mais representar esse sonho.
Isso aconteceu há 22 anos, hoje Isabella Rossellini está com 65 anos e foi, recentemente, convidada pela mesma Lancôme para assumir o papel de modelo da marca… Vejam, que grande mudança! Esse fato é bastante ilustrativo da mudança de percepção que ocorre, ainda lentamente, na cabeça daqueles que ‘mandam nos mercados’, cuidam do marketing e da publicidade etc., e perceberam o básico e simples: a vida não acaba aos 40 ou aos 50 e nem aos 60, tampouco aos 70 e, enquanto houver vida e desejo de viver, há que se (ao menos tentar) incluir todos os seres humanos que estão vivos, ora essa!
Fora do mercado? Só que não!
E como sabemos, as mulheres mais velhas sempre foram vistas como ‘fora do mercado’, de qualquer mercado, a não ser aquele relacionado ao papel social de mães, tias, avós (e etc.) nos quais só aparecem para servir aos mais jovens, como coadjuvantes. As atrizes que o digam!
Mesmo em Hollywood, a meca do cinema mundial, quantas vezes lemos sobre mulheres talentosas como Meryl Streep ou Susan Sarandon reclamando que não oferecem a elas papéis interessantes porque já passaram dos 50 anos? Papéis de mulheres que podem sim, ser tias e avós (nada contra isso, por favor) mas que estão bem ativas, cheias de projetos e não vivem ao redor da vida dos mais jovens?
Como vemos, há muito ainda para ser feito, mas a história da recontratação de Isabella Rossellini aos 65 anos, pela mesma empresa que a demitiu há mais de vinte anos é realmente um exemplo de mudança nesse cenário e isso deve ser visto com bons olhos.
Diante de tudo isso, constatamos que a inclusão das mulheres mais velhas em campanhas publicitárias é uma realidade cada vez mais presente e sim, há no mercado uma dinâmica que requisita mulheres maduras para campanhas que envolvem propagandas, desfiles, entre outras variadas publicidades. Mas este mercado é, como qualquer outro, exigente. Não basta somente ter mais de 40 ou 50 anos e ser considerada bonita por todos; é preciso empenho, dedicação e comprometimento.
Por isso, na segunda parte dessa matéria, a Maria Rosa Von Horn ‘fala’ sobre o trabalho dos bastidores e oferece novas dicas sobre esse inclusivo e representativo mercado das modelos 50+.
Para ilustrar de forma mais ‘real’ possível, escolhemos fotos dos bastidores desse trabalho que merece ser divulgado, pois além de ser representativo de uma bem vinda mudança de paradigmas, apresenta uma possibilidade de trabalho nesses dias complicados que vivemos e, sobretudo, inclui de forma mais que urgente, as mulheres maduras.
E mesmo aquelas que nunca serão modelos e nunca quiseram essa profissão, se veem representadas por mulheres que são da mesma faixa etária que elas; se sentem valorizadas e isso sim, faz toda diferença!
Segunda parte – Beleza, humildade e pés no chão; dedicação…
É, não há ‘mágica’ se você quer trabalhar como modelo 50+
Maria Rosa, você poderia citar alguma modelo da sua agência que trabalhe bastante, não tanto por sua beleza física, mas sim pela dedicação, profissionalismo ou ambos?
Não gosto de citar modelos porque TODAS têm muito potencial, cada uma com sua particularidade. Especificamente para esta pergunta, menciono a modelo Simone Lima que é deslumbrante, já avó de uma adolescente. Dedicada, não recusa jobs, faz curso e se recicla constantemente. Nunca perde a postura, a elegância e o profissionalismo nos jobs. Mas há outras que também se destacam, como Marina Pascon que, além da beleza única, tem muita atitude. A Luciana Mamanna, um exemplo de classe, elegância e beleza na maturidade, modelo de grandes marcas e de passarela. Beleza plástica de cair o queixo, destaco a Valderesa Rogério e a Carmen Rusanovsky. Simplesmente espetaculares. Mas há muitas outras, sinto que cometo uma injustiça por não falar de cada uma.
Você acha que o mercado _ de roupas, alimentos etc. _ está realmente se abrindo para os (as) maduros (as) ? Poderia citar algum exemplo de trabalho que tenha feito recentemente?
Sim, acredito que há uma evolução positiva e o mercado finalmente descobriu o potencial da consumidora da meia idade, na verdade, a com maior poder aquisitivo. Então está percebendo que é preciso representá-la com modelos iguais a ela.
Para terminar, queria que você desse o passo a passo para quem quer trabalhar como modelo, que respondesse elencando cada ‘passo’.
Para tentar a carreira de modelo é preciso investir num bom book, se possível, fazer cursos de passarela e fotografia, aprender a posar para as câmeras, treinar e treinar. Começar a observar as campanhas de moda e beleza, como são as modelos maduras que estão em alta. Como se vestem, como estão maquiadas, como são os cabelos, as poses que fazem. Ter humildade e os pés no chão. A concorrência é enorme mas o segredo é este. Se estiver no perfil e estiver disposta, siga em frente.
Ana, não tenho a formula mágica mas tenho a experiência diária de quinze anos desde quando eu era uma “jovenzinha de 47 anos” que, como elas, sonhava um dia me tornar modelo. Não saí desfilando , mas criei a FM.
E através da agência, abri portas para uma mudança de paradigmas divulgando e valorizando a nova madura nos restrito nicho da moda e da beleza. O caminho é longo, mas promissor e tantas descobertas sobre essas incríveis mulheres da maturidade me fizeram também escrever “Maria Lilith” uma obra de minha autoria em formato de romance que aborda exatamente esta fase em que não somos mais jovens e tampouco idosas. Aquela fase entre os 40 e 60.. E depois dos 60, se você souber levar, tudo vira festa ! Quais os ganhos desta fase?
Tudo que aprendi com elas esta aqui! https://www.amazon.com.br/Maria-Lilith-M-von-Horn-ebook/dp/B088PXXNNT
Todas as fotos: arquivos pessoais.