Por Marcus Farbelow – Sociólogo
O aumento da desigualdade e do número de moradores de rua não é um efeito colateral do capitalismo financeiro contemporâneo, o resultado passageiro de uma crise igualmente passageira.
Ao contrário, a produção de miséria, desemprego, fome etc. é a consequência lógica e inescapável do neoliberalismo. Não se pode esconder o problema atribuindo-o apenas à pandemia. Esta, é evidente, piorou significativamente a situação de milhões de brasileiros, sobretudo devido à catástrofe engendrada não pelo vírus, mas pelo governo brasileiro em sua desastrosa e errática “gestão” da pandemia. Para além da questão sanitária, é imperioso reconhecer que o sistema capitalista é estruturalmente produtor de desigualdade e intrinsecamente antidemocrático.
Os avanços alcançados nos anos subsequentes ao pós-guerra, especialmente verificados nos países da Europa Ocidental e nos Estados Unidos, foram todos desconstruídos. O mesmo ocorreu no Brasil, com a diferença que, aqui entre nós, nunca se chegou a constituir um verdadeiro Estado de Bem-Estar Social.
O neoliberalismo apregoa que, em nome da austeridade fiscal e da confiança do Mercado (esse ser metafísico, que tem Vontades Próprias), não se pode gastar um único centavo com as populações mais carentes e vulneráveis – os desempregados, os idosos, os moradores de rua etc. Deve-se, pois, destruir todo o sistema de seguridade social, abandonando os indivíduos à própria sorte – ou, para utilizar um eufemismo covarde bem característico do Mercado – à condição de “empresários de si mesmos”. Os únicos que têm o direito de se locupletar são os investidores, os especuladores, aqueles gordos e lustrosos senhores engravatados capazes de sugar a riqueza de um país sem lhe darem nada em troca (não produzem um único botão de camisa).
A situação é tão triste que os “perdedores” da competição feroz pela sobrevivência são vistos por parcela não desprezível da população como indignos de piedade, compaixão ou solidariedade. “Não se deve gastar um centavo com eles” é o que repetem os papagaios do Mercados Financeiro, simplesmente porque não merecem. Não percebem os incautos o óbvio: num jogo, o pódio é ocupado apenas por três competidores. Todos os demais são condenados ao limbo do esquecimento.
Imagem de abertura – reprodução internet
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