Por que somos atraídos por notícias ruins e 5 formas de evitar o ‘efeito deprê’

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Consumo de notícias negativas foi ampliado durante a pandemia de coronavírus

MediaTalks

Londres – É quase impossível deixar de acompanhar notícias sobre tragédias, desastres naturais e crimes violentos, mas o consumo excessivo de informações negativas pode ter grande impacto sobre a saúde mental.

O hábito é chamado de doomscrolling, expressão que vem de “doom”, de destruição, algo sombrio; e “scrolling”, de rolando. Ou seja, doomscrolling é a tendência de navegar ou rolar a tela do smartphone acompanhando notícias sombrias.

A prática foi bastante acentuada na pandemia, pois havia a necessidade de saber, em tempo real, o desenrolar dos eventos relacionados ao coronavírus no mundo. Mas os cientistas já revelavam preocupações com a persistência do consumo de notícias ruins em altas doses.

Por que é preciso gerenciar o consumo de notícias negativas

O doomscrolling tem muita relação com a ideia de vício em redes sociais, que ainda não foi comprovado por pesquisas. Mas também está associado a uma característica inerente ao ser humano. Ficar alerta ao perigo faz parte do nosso mecanismo de sobrevivência, afirma Christian van Nieuwerburgh, professor de Coaching e Psicologia Positiva da Universidade de Medicina e Ciências da Saúde, na Irlanda, em artigo no portal acadêmico The Conversation.

Ele explica que o hábito de consumir notícias negativas é uma forma do subconsciente reunir informações e estar preparado para enfrentar ameaças das mais diversas.

Nos últimos anos, pesquisas científicas apontaram os efeitos negativos do doomscrolling. Apesar disso, poucas pessoas parecem dispostas a diminuir a prática. Nieuwerburgh aponta o motivo: 

“Primeiro, bloquear notícias em tempos de crise pode não ser uma boa ideia. Em segundo lugar, muitos de nós não reagimos bem quando nos dizem o que podemos ou não fazer. Finalmente, ser solicitado a não fazer algo pode piorar as coisas. Isso pode nos levar a um estado de espírito negativo e nos tornar menos propensos a mudar nosso comportamento.”

O especialista diz que a melhor forma de lidar com o “vício” em doomscrolling é aprender a gerenciá-lo para reduzir seus impactos. Afinal, notícias sobre a pandemia, guerra e uma iminente catástrofe climática, entre outras de teor negativo, não sumirão da noite para o dia.

A mudança deve partir das nossas interações com elas. Para ajudar nisso, o professor Nieuwerburgh formulou cinco sugestões:

1. Escolha quanto tempo diário será dedicado ao consumo de notícias. Se você é desses que acorda e já procura as principais notícias do dia no celular ou na televisão, tente resistir a esse impulso estabelecendo um período do dia para acompanhar notícias — o que, não necessariamente, precisa ser a primeira tarefa da manhã. Ao estabelecer uma quantidade de tempo por dia para se informar, tente cumprir o que foi definido e incorporar a prática à sua rotina, evitando entrar nas redes sociais ou sites de veículos o tempo todo em busca do que está acontecendo;

2. Cuidado com o viés de confirmação: O especialista destaca que é preciso ficar atento a uma tendência que os psicólogos chamam de “viés de confirmação”. É quando favorecemos informações que apoiam nossas crenças ou pontos de vista existentes. Ou seja, às vezes buscamos notícias que confirmem o que já acreditamos. Por isso, é preciso estar ciente dessa tendência e de que seu subconsciente, e não você, está escolhendo o que ler. Se a preocupação com as mudanças climáticas é de extrema importância para você, talvez ler notícias sobre eventos naturais que resultaram em tragédias estimule o viés de confirmação (ao evidenciar as transformações do clima), ao mesmo tempo em que alimenta o doomscrolling.

3. Verifique a fonte da notícia: Saber a fonte de qualquer notícia, artigo de opinião, pesquisa e textos em geral é essencial. Isso ajuda na reflexão sobre: quem postou essa informação? Por que eles estão compartilhando isso agora? Estão tentando convencê-lo de algo? Estão tentando manipulá-lo para pensar ou se comportar de uma maneira específica? Saber as respostas a essas perguntas o ajudará a manter o controle de como você usa as informações coletadas e se relaciona com elas.

4. No mundo polarizado, nem tudo está num extremo: A polarização está presente em nossas vidas: seja na política ou na defesa de comportamentos pessoais. Segundo os psicólogos, o “pensamento polarizado” é uma distorção cognitiva (um erro de pensamento) que pode ocorrer quando estamos sob pressão. É a tendência de ver as coisas como “preto ou branco”, em vez de reconhecer que vivemos em um mundo com muitas cores e tons de cinza. Dessa forma, ao consumir notícias, busque pontos de vista fortes e permaneça aberto sobre outras opiniões. A seleção e consumo de informações que representam opiniões divergentes pode apoiar isso e minar a tendência de buscar se informar exclusivamente somente sobre um tema ou em uma fonte.

5. Ajuste o foco para notícias positivas: O doomscrolling pode ser prejudicial porque muitos de nós somos atraídos por informações negativas. Psicólogos chamam isso de “viés da negatividade”. Nieuwerburgh explica que, de uma perspectiva evolutiva, tem sido importante para priorizar estímulos negativos (ameaças como predadores) sobre estímulos positivos (aproveitar o calor de um dia de verão). Para contrabalançar essa tendência, podemos adotar um viés positivo à medida que consumimos notícias. Em termos práticos, isso significa buscar notícias positivas para equilibrar a experiência de nos mantermos atualizados.

Não é possível nem prudente “excluir” o consumo de notícias das nossas vidas, pois saber o que está acontecendo ao redor nos deixa informados e preparados para responder caso seja necessário. Mas a prática do doomscrolling pode ser amenizada percebendo conscientemente o desejo de buscar por informações negativas e, aos poucos, reverter isso, recomenda o professor Christian van Nieuwerburgh.

foto:Malcolm Lightbody/Unsplash

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