A afirmação é de Egídio Dórea, que comenta episódio ocorrido numa universidade de Bauru envolvendo jovens que debocharam em vídeo de uma colega apenas por esta ser mais velha
Jornal da USP
Em 2021, o Brasil tinha 14,7% da população com 60 anos ou mais, representando, em números absolutos, 31,23 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE. O aumento foi de 39% quando comparado aos nove anos anteriores à publicação da pesquisa, e projeções já indicam que não apenas o País está passando por uma transição demográfica, como até 2030 deverá ter a quinta população mais idosa do mundo. Mesmo assim, o etarismo, ou preconceito e discriminação por conta da idade é algo muito comum. O assunto tomou repercussão a partir de um vídeo no qual três estudantes mais jovens debocham de uma colega de classe por ter 45 anos, em uma universidade particular em Bauru, no interior de São Paulo.
Como explica o professor Egídio Dórea, coordenador do Programa USP 60+ da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP e da Comissão de Direitos Humanos da Universidade, o idadismo – outro nome para etarismo – é o mais frequente e universal dos preconceitos, porque não depende da cor da pele, nacionalidade, renda, orientação sexual ou religião.
“O mais prejudicial desse preconceito é que ele acarreta, para as vítimas, uma série de consequências dos pontos de vista de saúde mental”, relata o professor, como depressão, solidão e declínio cognitivo.
É algo que não deve ser considerado uma brincadeira qualquer, porque há o componente afetivo da pessoa que perpetua o preconceito de se sentir ameaçada pela velhice e não ver o envelhecimento como algo positivo. Um dos fatores de perpetuação desse preconceito, diz Dórea, é o estereótipo que cerca a velhice como sendo um momento debilitante, de doenças e aposentadoria, vista como negativa. “São pequenas ações que mostram o preconceito que, para você que está fazendo, não é importante, mas, para a pessoa que está recebendo e que já tem ela mesma esses estereótipos interiorizados, é muito importante”, alerta ele.
Como contornar esse problema?
O professor ainda lembra que, se o preconceito fosse com sexo ou raça, teria outra repercussão. Isso porque esses já têm respaldo jurídico, enquanto o etarismo encontra respaldo para continuar a acontecer e se perpetuar na sociedade. “Você expressa isso do ponto de vista ativo nesse comportamento discriminatório, que é lamentável, como é qualquer comportamento em relação a qualquer tipo de preconceito”, diz Dórea.
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Ele ainda elenca duas frentes de ação no combate a qualquer preconceito: o conhecimento e o convívio.
“As pessoas precisam ser educadas para o fato de que você envelhecer não traz somente questões negativas, mas muitas questões positivas: você está mais experiente, já passou por vários momentos na sua vida, é uma pessoa que sabe avaliar o seu eu de uma forma mais efetiva e você contribui para a sociedade”, explica. Ele também coloca que “é através do convívio que você conhece o que o outro te traz de positivo. Diversos estudos mostram que mais de 35% da população que trabalha é uma população 50+ e essa população agrega do ponto de vista de benefícios financeiros e benefícios organizacionais”, lembra Dórea.
As meninas mostraram a falta de empatia que elas têm e a falta de capacidade em se reconhecerem naquela que será elas no futuro. Elas podem, inclusive, ser vítimas desse preconceito. “Nós temos vários relatos na USP. Um dos nossos pilares sempre foi a questão da interseccionalidade. Então, esse compartilhamento da sala de aula de estudantes mais jovens com estudantes mais velhos traz efeitos positivos para ambos”, diz. Esse convívio intergeracional está se tornando cada vez mais frequente não somente aqui, mas no mundo inteiro, porque nós estamos vivendo a revolução demográfica. Nós temos que ter em consideração que o mundo está envelhecendo, o Brasil está envelhecendo”, fala Dórea.
O professor ainda diz que as meninas devem responder pelas suas ações, mas que todos estão suscetíveis a ações preconceituosas.
“Essa estudante de 45 anos continua sendo modelo e ela não é um caso isolado. Com o aumento da expectativa de vida, esse será o nosso presente, será nosso futuro: pessoas de 50, 60 anos que estão se capacitando”, finaliza.
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