Por: Marcus Farbelow – Sociólogo
Tenho pensado em algo que me preocupa. Não sei se conseguirei me explicar. Vou tentar.
Existem várias sociedades (das quais o Brasil infelizmente não faz parte) que valorizam os idosos. Penso, por exemplo, em sociedades indígenas tradicionais ou no Japão moderno.
De fato, a experiência acumulada e uma espécie de “sabedoria” adquirida ao longo da vida podem ser muito “úteis” (sempre entre aspas, pois o conceito de utilidade é bastante problemático) aos mais jovens.
A minha preocupação advém do entendimento de que a afirmação anterior está cada vez mais questionável. O mundo muda tanto e tão rapidamente, que, ao contrário do que ocorria décadas atrás, o desvão intergeracional está se transformando em em verdadeiro fosso.
Tão grande que as gerações parecem viver paralelamente em universos distintos.
Vejo isso em relação ao meu filho, por exemplo. Tenho muitas vezes a impressão de que não compartilhamos mais aquele “terreno comum”, aquela base para um entendimento perfeito. E não me refiro apenas às novas tecnologias; refiro-me também à mudança célere dos valores – o tempo do mundo parece ter acelerado demasiadamente, e não é fácil acompanhá-lo, especialmente para os mais velhos (dentre os quais me incluo).
Se essas considerações tiverem algum sentido, o desafio, que já era grande, torna-se desmedido. Entendo que, apesar de todas as mudanças, algo permanece idêntico.
As “questões humanas essenciais” são basicamente as mesmas. É por isso que podemos compreender e nos emocionar com autores da Antiguidade, do Renascimento ou do século XIX. O problema, me parece, é que essas questões fundamentais estão sendo relegadas a um plano inferior. Discuti-las com seriedade está, aparentemente, fora dos planos. A velocidade é valorizada em si mesma. Nada dura nem merece reflexão. Num mundo assim, qual o papel dos idosos?
Essa é a minha preocupação, não sei se consegui me explicar. Não consigo pensar em uma resposta, a não ser na necessidade radical da revisão do conceito de “utilidade social”.
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