Por que Juliana Paes não foi ‘envelhecida’ na série Pedaço de Mim?

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O não envelhecimento da atriz expressa o quanto o ‘medo’ da velhice contamina até a ficção.

 

Ana Claudia Vargas*

Há alguns dias a série Pedaço de Mim, estrelada pela atriz Juliana Paes, tem sido motivo de variados artigos e matérias. Todos abordando de forma positiva aspectos como o roteiro que traz uma história peculiar, a boa atuação da protagonista e dos demais atores e por aí afora.

E, sim, a história é realmente interessante por tudo que apresenta, ali temos um variado ‘painel’ de tudo que as novelas costumam abordar desde sempre, para que os espectadores queiram acompanhar tudo até o final. Lembrando que, segundo críticos, a minissérie não passa de um novelão que foi adaptada, com sucesso, para esse formato.

Pessoalmente, nunca fui fã de novelas, mas acompanhei algumas na infância, adolescência, e fui percebendo, ao longo dos anos, que é preciso que haja pitadas de dramas enormes em todos os relacionamentos (familiares, profissionais, coletivos e etc.) para que a história  seja considerado boa em termos de índices de audiência. Mães separadas de filhos, mulheres traídas, homens ciumentos e também traídos; amizades ‘eternas’ que se desfazem, anos de ódio e amor intenso… Tudo isso parece ser a base de qualquer novela e tudo isso fez  e faz sucesso desde sempre. Nesse ponto, Pedaço de Mim está cumprindo seu papel direitinho, com todas as honras.

Quem entende de fato de novelas e escreve artigos melhores do que este que tento escrever, diz que a série está até renovando o segmento ao misturar com criatividade, todas as qualidades dramáticas que citei acima.

Ou seja, Pedaço de Mim parece ser mesmo um grande sucesso e ponto final.

Mas, para além do básico em se tratando de um produto de entretenimento que precisa ter qualidade (ainda mais em tempos de concorrência acirrada com as produções turcas e  doramas) em todas as etapas de produção, ouso apontar um grave defeito na série: o não envelhecimento da atriz Juliana Paes.

Achei realmente espantoso e um erro o fato de que a atriz atravessa os anos sem que seu rosto apresente sequer, algumas marquinhas que mostrem a passagem do tempo.

Então é assim: os anos se passaram, os bebês  se tornaram adolescentes, algumas pessoas ao redor mostram que envelheceram (como o ator João Vitti), a mãe da Liana (personagem de Juliana) falece (pois já mostrava sua velhice, afinal, era mãe de uma adulta), ou seja, tudo como é na vida real que, desde sempre, inspira qualquer produto de entretenimento, certo? E na vida real as pessoas envelhecem, certo? Umas envelhecem mal, outras vão conseguindo manter os ‘alicerces’ (como dizia meu pai rs), mas a Juliana Paes realmente nem passou perto da velhice e permanece com a juventude estampada na face, como vemos na imagem abaixo.

 

Se a arte imita a vida; é sempre bom lembrar que na vida a velhice acontece, quer queiramos, quer não. E, embora isso pareça  bobagem, a juventude de Juliana Paes, como se estivesse numa redoma, nos mostra o quanto a negação da velhice continua sendo algo ‘normal’, só que não… (imagem Netflix) 

 

 

Mas isso não é uma qualidade e, sim, um grande defeito.

É claro que não sei quais escolhas foram/são feitas pelos profissionais que trabalham nos bastidores de uma minissérie como esta. E é claro que o fato da série ser um grande sucesso mundo afora, mostra que ela está cumprindo todas as expectativas da Netflix, dos profissionais que trabalharam nela, dos espectadores e etc.

Pois é justamente por tudo isso que o não envelhecimento da  Juliana Paes se torna ainda mais estranho. Se a tivessem envelhecido, a história ganharia um ‘peso’ maior, penso eu.

Enfim, o que estou querendo dizer é que precisamos naturalizar a velhice, mostrar que uma mulher bonita como a Juliana/Liana também (!!) envelhece, que todas as pessoas envelhecem e que isso é algo ‘normal’ e aceitável.

Ao deixá-la jovem e imune à passagem do tempo enquanto tudo ao redor, muda; a história nos deixa com uma sensação de que o resultado deixou a desejar.

Se a arte imita a vida; é sempre bom lembrar que na vida a velhice acontece, quer queiramos, quer não. E, embora isso pareça  bobagem, a juventude de Juliana Paes, como se estivesse numa redoma, nos mostra o quanto a negação da velhice continua sendo algo ‘normal’, só que não… E, ao negá-la de forma tão veemente, continuamos negando a plenitude da vida.

 

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