Posted by O mineiro P.C se envolveu com o crime ainda na adolescência e passou por diversas situações difíceis desde então. A mais recente, ocorrida em 2021, o levou de volta às grades, mas ele conseguiu se manter longe de problemas dentro da cadeia e hoje, livre, busca reconstruir sua vida honestamente. Veja o depoimento que ele concedeu ao PortalPlenaGente+
Neste depoimento eu havia pensado em utilizar meu nome verdadeiro, mas como sei que o preconceito social é grande, estou reconstruindo minha vida e careço da confiança das outras pessoas, vou usar apenas as iniciais do meu nome: P.C.
Hoje quero me apresentar a você que lê este texto e mostrar que um ex-presidiário pode ser uma pessoa ‘do bem’ sim, que algumas situações da vida podem nos empurrar para o ‘lado errado’, principalmente quando somos muito jovens. Este é o meu caso. Não quero a pena de ninguém, mas quero ter o direito de reconstruir minha vida com dignidade, pois já paguei pelo que fiz. Atualmente tenho 46 anos de idade. Nasci em Belo Horizonte , sou pai de três e filhos e avô de cinco netos.
Perdi meu pai aos 13 anos de idade e, anos mais tarde, aos 16, acabei me envolvendo com o crime. Hoje, neste 2023, sou um ex-presidiário. Saí a pouco menos de dois meses de uma penitenciária da grande São Paulo, após ter ficado 1 ano e 2 meses encarcerado. Minha pena foi dada porque cometi um crime em 2016 e, por já ter pago uma pena anterior nesse mesmo processo, tive a prisão revogada em 2021. Nessa ocasião, já estava vivendo fora do crime desde 2017. Foi nesse ano que fiz um curso de taxista em Foz do Iguaçu e, desde então, trabalhava nesta profissão. Trabalhei como taxista até 2019, no Paraná, depois segui para Belo Horizonte e continuei fazendo isso até 2021, contudo, nesse mesmo ano resolvi ir para São Paulo em busca de melhoria no trabalho e na vida.
Foi assim que fui preso em março de 2021, fui levado até uma delegacia e ali permaneci por seis dias esperando transferência para Minas Gerais. Mas não pude ter esse beneficio e acabei sendo levado para uma penitenciária da grande São Paulo. Ali eu permaneci por 1 ano e 2 meses, e como toda minha família mora em BH, e eles não tinham como me visitar, fiquei sem contato com meus filhos neste período. Esse fato também fez com que perdesse todos meus documentos, mala de roupas, enfim, tudo o que eu tinha na vida. Na penitenciária onde estive a disciplina dos pavilhões é regida por uma facção criminosa conhecida em São Paulo. Devo dizer que foi difícil, mas consegui não me envolver com esta ‘engrenagem’, pois meu objetivo ali dentro era somente um: sair e continuar minha vida longe do crime, algo que como expliquei, já estava fazendo desde 2017.
Um fato que quero contar aqui é que ter tido a oportunidade de estudar dentro da penitenciária, foi muito importante para que me mantivesse firme no meu propósito de ficar longe do crime. Eu tive a oportunidade de ser selecionado para estudar e isso me ajudou muito, pois conheci um professor de matemática que pediu para que fizéssemos um projeto no qual tivéssemos vontade de trabalhar quando saíssemos da penitenciária. Motivado por ele, elaborei um projeto chamado ONG Fundação Recomeço que tem como objetivo ajudar ex-presidiários que querem sair do caminho do crime. Minha ideia também é, através da ONG, ajudar as mulheres e filhos dos presidiários que estão aqui fora e vivem com muita dificuldade. Sei que muita gente acha que nós, presidiários, não somos boas pessoas, mas lembro que cada pessoa faz o seu caminho e da mesma forma que há presos que vão seguir no crime, muitos não querem mais esse tipo de vida. Hoje estou ‘falando’ somente por mim. Tenho tentado de muitas maneiras levar uma vida correta, trabalhando e me mantendo longe de qualquer coisa errada. Atualmente, com o apoio de algumas pessoas que confiam em mim e no meu desejo de mudança, consegui um emprego e estou firme no meu objetivo que é trabalhar, ganhar meu dinheiro honestamente e ficar perto da minha família.
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