Volta ao século passado: com queda na cobertura vacinal infantil, especialistas alertam para aumento de doenças infecciosas e ressurgimento de outras erradicadas

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Os dados mais recentes do Ministério da Saúde apontam que o Brasil tem registrado uma redução nas coberturas vacinais infantis para doenças já erradicadas. É o caso dos imunizantes que protegem de doenças como o sarampo e a poliomielite.

Até o ano de 2018, a cobertura vacinal da BCG – vacina que previne formas graves de tuberculose – aplicada em crianças de zero a menores de cinco anos, tinha taxa acima de 95%. Em 2019, era de 86,67%. No ano seguinte, de 74,03% e, em 2021, a procura pela vacina caiu para 65,63%.

Já a vacina que previne contra a poliomielite, também chamada de pólio ou paralisia infantil, doença contagiosa aguda causada pelo poliovírus, também vem caindo desde 2018. Neste ano, a cobertura era de 89,54%. Em 2019, de 84,19%. No ano seguinte, de 76,05% e, em 2021, caiu para 66,62%.

O levantamento também mostra uma redução da cobertura vacinal das duas doses do tríplice viral, responsável por prevenir o desenvolvimento da caxumba, sarampo e rubéola.

A primeira dose teve queda de cobertura de 93,12%, em 2019 para 70,52% em 2021. No mesmo período, a segunda dose teve baixa de procura de 81,55% para 49,31%.

De acordo com a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, a pandemia e as restrições impostas pelas restrições sanitárias contribuíram para essa queda. Mas, ela chama atenção para o fato de os pais acharem que as doenças estão erradicadas e deixam de levar os filhos aos postos de vacinação.

“Existem diversos motivos que podem esclarecer essa queda nas coberturas vacinais. Nós vimos um descaso por conta do sucesso da própria vacinação. Quando as pessoas não escutam mais sobre casos de uma determinada doença, elas param de se importar. Hoje em dia, os pais não conhecem doenças como a poliomielite, que é grave e pode matar. Estamos percebendo um retrocesso na proteção coletiva e no risco de doenças. Basta uma pessoa infectada para começar novamente a ter novos casos”, explica.

A médica Tânia Petraglia, membro do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), corrobora esse argumento.

“A população não tem noção da gravidade, não tem essa percepção de risco. Essas doenças que, no passado, causavam terror, como sarampo e polio perderam a importância porque não estava tendo mais casos. Temos profissionais que nunca viram nenhuma dessas doenças, justamente por causa do sucesso das vacinas” conta.

Além disso, de acordo com a médica, essa diminuição ao longo desses anos, terá um impacto no aumento dessas doenças infantis no futuro.

“Com certeza, toda vez que você deixa de vacinar um grupo de pessoas, você fica com bolsões suscetíveis, essas pessoas são vulneráveis às doenças. Isso faz com que se tenha o retorno de velhas doenças. Ou seja, tudo o que ganhamos para trás até 2015, nós estamos começando a perder, principalmente com o cenário pandêmico que agravou mais a situação” ressalta.

A diretora da SBIm também destaca que a maior preocupação são doenças como poliomielite e o sarampo, que podem deixar sequelas ou evoluir ao óbito.

“A poliomielite é uma doença muito grave que já deixou milhares de pessoas com sequelas permanentes. A pessoa pode ficar com dificuldades para andar, usar perna mecânica e até mesmo necessitar de pulmão de aço, que é coisa de museu hoje em dia. Essa doença não tem tratamento e a geração de pais jovens não conhece. Essa baixa adesão é tão absurda que podemos ter novamente a volta. O sarampo também é preocupante por ser de alta mortalidade, principalmente nas crianças abaixo de um ano”

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