EVENTO EM SP DEBATE MEMÓRIA E PRESERVAÇÃO DO BAIRRO DO BIXIGA

Debate é organizado pelo CPC-USP

O Centro de Preservação Cultural da USP/Casa de Dona Yayá (CPC-USP) vai discutir arqueologia urbana, memória negra, manifestações culturais e gestão do patrimônio cultural no espaço urbano da região paulistana conhecida como Bixiga no II Seminário Bixiga: território cultural. O evento é organizado em conjunto com dois dos movimentos sociais que vêm protagonizando as resistências de memória e contra a transformação do bairro-patrimônio, o Mobiliza Estação Saracura Vai-Vai  (que atua em defesa do legado do Quilombo do Saracura e preservação do sítio arqueológico na Linha 6 do Metrô, no Bixiga) e o Salve Saracura (coletivo multidisciplinar de cuidado das águas e território do bairro). O evento acontecerá na próxima semana, de 28 a 30 de novembro, com apoio do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, onde serão realizadas as mesas-redondas dos dias 28 e 29. O debate do dia 30 e o encerramento ocorrerão na Casa de Dona Yayá, sede do CPC-USP. As atividades serão presenciais e a participação é gratuita, com inscrições no local.

Sobre o Bixiga

Região da área central da cidade de São Paulo marcada pela forte presença de povos de muitas origens (italianos, negros, nordestinos, entre outros) e de referências culturais diversas, o Bixiga foi tombado pela Resolução 22-2002 do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), que garante a preservação do seu traçado viário e de uma relação de bens imóveis significativos. Ainda assim, é histórica a disputa entre os movimentos pela preservação do bairro e o mercado imobiliário na região. A construção de grandes empreendimentos ameaça desde a geomorfologia até as práticas cotidianas de vida na paisagem, apagando esquinas, teatros e memórias, num processo de elitização que expulsa a população de baixa renda que construiu o perfil do bairro.

Recentemente, a chegada da Linha 6 do metrô levou à demolição de lugares de referência, como a sede da Escola de Samba Vai-Vai, na Praça 14 Bis. Com as escavações vieram à mostra centenas de peças e fragmentos de louças, utensílios e vestimentas que constituem vestígios arqueológicos do Quilombo Saracura, um dos principais quilombos da capital que existiu entre o século XIX e início do século XX. Essa descoberta gerou nova disputa entre o avanço das obras pela concessionária do metrô e os movimentos populares que reivindicam a preservação da memória do bairro. Outros impasses já se pronunciavam em 2017, quando o CPC-USP realizou a primeira edição do seminário “Bixiga: território cultural”. À época discutia-se a construção de um empreendimento imobiliário de grande impacto negativo para o bairro e a reivindicação de que o terreno em questão, na Rua Jaceguai, ao lado do prédio do Teatro Oficina e próximo da Casa de Dona Yayá fosse desapropriado para a criação do Parque do Bixiga. O projeto chegou a ser aprovado na Câmara Municipal, mas até hoje não se concretizou.

A professora Flávia Brito do Nascimento (Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Design da USP), diretora do CPC-USP, ressalta que o órgão tem histórica relação com os movimentos de bairro no Bixiga. “Desde a vinda do CPC para a Casa de Dona Yayá, no início dos anos 2000, as sucessivas gestões fizeram aproximações significativas com os temas, lugares e moradores, por meio de exposições, seminários, atividades de educação patrimonial, visitas mediadas, entre outras. A segunda edição do Seminário Bixiga: território cultural dá continuidade aos debates de 2017, com foco na temática do patrimônio, nas suas múltiplas camadas de disputas e dissensos, cuja urgência se dá pelas obras do metrô e os achados arqueológicos ligados à memória negra do bairro”, diz ela.