Impactos da guerra no Brasil: preço do potássio explode e agrava crise dos fertilizantes. Os preços dos produtos agrícolas deverão explodir

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Da redação:

Em 2006 o país já produzia 42% do produto, conforme dados do Sindicato Nacional das Indústrias de Matérias-Primas de Fertilizantes. Hoje, com o desmonte da Petrobras, importa 96%.

O país continuará, literalmente, pagando caro pelo desmonte  da Petrobras promovido por Michel Temer e Jair Bolsonaro. Um dos três componentes dos fertilizantes NPK utilizados na agropecuária de larga escala, o potássio (K) teve o preço mais do que triplicado em um ano. Totalmente dependente de importações, o Brasil compra de outros países 96% da demanda nacional por esse insumo, que corresponde sozinho a entre 30% e 40% do custo de produção dos cultivos.

Desde o início de 2021, a cotação internacional da tonelada de potássio subiu de US$ 300 para US$ 1,1 mil. Pico semelhante ocorreu entre 2008 e 2009, auge da super crise econômica global. No entanto, na ocasião a tonelada do insumo não passou dos US$ 700 e, com a economia ajustada, o dólar valia R$ 2,20. Hoje, constata reportagem do Estado de São Paulo, os US$ 1,1 mil são convertidos com o câmbio em torno de R$ 5.

Maicon Cossa, vice-presidente comercial da norueguesa Yara Fertilizantes, disse que a companhia tem feito o possível para garantir a entrega do insumo. “Temos investido para aumentar a produção, mas o que podemos garantir, no curto prazo, é rodar com a eficiência máxima possível a nossa estrutura”, afirmou, genericamente. “O que a Yara está fazendo, sendo uma empresa global, é buscar o melhor possível para minimizar os impactos no Brasil”, contemporizou.

O executivo revelou que o Brasil é o maior cliente individual da Yara no planeta e compra 20% de toda sua produção, vendida para mais de 150 países. A empresa traz da Noruega e da Holanda 80% do potássio entregue no país, e 20% são produzidos em bases de exploração em Rio Grande (RS) e Cubatão (SP).

O país também precisa importar 85% do nitrogênio e fósforo necessários para abastecer o campo de NPK. Terceiro maior produtor de alimentos e quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, o Brasil importa quase um terço desses insumos agrícolas de apenas dois países: Rússia (22%) e Belarus (6%).

As sanções impostas pelo Ocidente às duas nações fizeram com que a cotação dos fertilizantes subisse em proporção inversa à da disponibilidade deles no mercado internacional. Como o estoque nacional é suficiente para apenas três meses, agricultores e pecuaristas, além de já sofrerem com a alta abusiva dos preços, também se preocupam com a disponibilidade de insumos para as próximas safras. O risco de queda de produção e aumento da fome está no horizonte.

Coordenador técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Alfenas (MG), Kleso Silva Franco Júnior constatou uma variação de 150% a 180% nos preços entre fevereiro de 2021 e 2022. “Um fertilizante tradicional de café custava em fevereiro de 2021 cerca de R$ 2,4 mil. Já em outubro, o valor chegou a R$ 5,5 mil e agora, em 2022, já temos preços em torno de R$ 6,5 mil”, afirmou ao G1.

E os reajustes continuam, diz o agrônomo. “O cafeicultor que quiser garantir seu estoque vai pagar mais caro. A única vantagem é que o café só precisa de adubo no início das chuvas, em setembro e outubro. Até lá, temos que torcer para ter fertilizantes.”

Desmonte da Petrobras levou à plena dependência de importações

Nem sempre foi assim. Em 2006 o país importava 58% da demanda por fertilizantes de seus agricultores e já produzia 42%, conforme dados do Sindicato Nacional das Indústrias de Matérias-Primas de Fertilizantes (Sinprifert).

Para abastecer o crescente setor do agronegócio e também a agricultura familiar, a Petrobras passou a investir na ampliação do seu setor de Fertilizantes Nitrogenados e, em 2014, já mantinha três fábricas – uma em Sergipe, uma no Paraná e uma na Bahia.

A obra da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN III), em Três Lagoas (MS), avançava. Também havia planos de construção de mais três plantas do tipo – uma em Uberaba (MG), uma em Laranjeiras (SE) e uma em Linhares (ES).

Sob pressão máxima do lawfare promovido pela força tarefa da lava jato, a Petrobras sofreu uma inflexão estratégica em 2015, e os planos para a área de Fertilizantes Nitrogenados foram abandonados em 2016, pelo Michel Temer. Naquele ano, o Brasil já importava 73% de todos os fertilizantes que consumia.

Hoje, as unidades do Nordeste estão arrendadas para a Proquigel, do Grupo Unigel, e a do Paraná está parada, ou “hibernada”, como dizem os comunicados da Petrobras. A obra da UFN III foi interrompida em 2015, já 80% concluída, sob a alegação de superfaturamento – o que nunca foi demonstrado. Agora, a gestão bolsonarista da Petrobras, ironicamente, negocia a venda da unidade para um grupo russo (Acron).

O resultado desse desmonte se apresenta no dia a dia de engenheiros agrônomos como Elber Caixeta, administrador da produção de uma lavoura cafeeira que ocupa 221 hectares em Paraguaçu (MG).

“Antes, a gente via o que ia precisar e ia nos parceiros fazendo a cotação da melhor condição de preço, prazo, entrega… Normalmente, ocorria desta forma. Então você tinha um poder de barganha melhor. Você pechinchava de porta em porta para conseguir uma melhor condição. Este ano foi totalmente o contrário disso”, disse ao G1.

“Alguns insumos dobraram de preço, como a ureia. Em 2021, a tonelada do produto era comercializada numa margem de preços que variava entre R$ 2,8 mil e R$ 3 mil. Hoje, o valor gira em torno de R$ 6 mil por tonelada. Uma alta muito significativa”, lamentou o agrônomo.

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