Na terceira reunião deste ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou a taxa básica de juros da economia (Selic) em um ponto percentual, para 12,75%, o patamar mais elevado desde fevereiro de 2017, quando a taxa estava em 13%.
Da redação
Os analistas do mercado financeiro, que já esperavam o reajuste, agora apostam que o ciclo altista só deverá se finalizar em agosto, com a Selic podendo chegar a 14% diante de uma inflação oficial que já passou de 12% na prévia de abril.
Este foi o décimo reajuste consecutivo do arrocho monetário iniciado em março de 2021, quando a inflação começou a subir e a Selic estava no piso histórico de 2%. É o maior choque de juros desde 1999.
A conta desse arrocho monetário, é claro, vai para o bolso da população, pois a alta da Selic tem reflexo direto no custo da dívida pública, paga com recursos que poderiam ser utilizados em investimentos para reaquecer a economia. Também eleva o já exorbitante custo do crédito, retraindo investimentos e contratações por parte das empresas e encarecendo ainda mais o crédito para famílias já muito endividadas.
Conforme dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o endividamento das famílias atingiu novo pico histórico em abril, de 77,7%. E dados do BC apontam que o comprometimento da renda das famílias com dívidas chegou a 52,6% — maior patamar desde o início da série, em janeiro de 2005.
Fabio Bentes, economista sênior da CNC, prevê mais uma ou duas altas da Selic. “E ainda temos a deterioração das condições econômicas”, lembra. “O emprego tem recuado lentamente e o rendimento do trabalhador está caindo. Isso significa um estímulo a menos para a ampliação do consumo, que também se retrai diante de um cenário com juros cada vez mais altos”, finaliza o economista.
Pelas estimativas de Bentes, o consumo das famílias, principal motor do Produto Interno Bruto (PIB), não subirá neste ano. Mesmo com a ampliação de 25% para 35% do corte no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) recém anunciado pelo desgoverno Bolsonaro, o principal beneficiado pela inflação descontrolada, que leva ao aumento da arrecadação. Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes já estão gastando com medidas eleitoreiras por conta desse efeito perverso.