…e aprendem a ouvir música no YouTube, encontram amigos nas redes sociais, fazem novas conexões e descobrem novos jeitos de realizar antigos prazeres.
Ana Claudia Vargas
Eles são de uma época na qual as relações sociais eram feitas por meio de visitas, cartas ou telefonemas e, naturalmente, tudo era mais demorado. Amizades costumavam ser duradouras e parecia existir mais comprometimento em todas as relações, fossem elas familiares, amorosas ou profissionais.
É que no tempo deles (e delas) as relações sociais levavam mais tempo para serem construídas, ninguém arrumava um emprego sem estar diante do empregador e pensar em relações amorosas que começam diante de uma tela então, seria algo ‘do outro mundo’.
Mas o tempo passou, trouxe inúmeras inovações tecnológicas em todos os setores e de um momento para outro eles se viram diante de computadores e telefones leves e móveis através dos quais é possível trabalhar (mesmo que seu empregador esteja em outra cidade, estado ou país), comprar qualquer produto (qualquer um mesmo), começar um empreendimento (a palavra da moda), fazer um curso de jardinagem ou gastronomia e por aí afora, tudo isso, enfim, que antes era feito somente de ‘corpo presente’.
Sim: talvez a ‘revolução digital’ não seja assim tão difícil de entender para aqueles que a vivenciaram trabalhando, estudando ou exercendo quaisquer atividades profissionais; aqueles que ainda estavam na chamada idade ativa mas, e para aquelas pessoas que já estavam aposentadas e longe do mercado de trabalho ou dos bancos escolares quando tudo isto começou?
E para aqueles que foram surpreendidos por crianças da família que, ostentando tablets, celulares e notebooks, vinham falar desse ‘mundo’ no qual era possível fazer tudo (mesmo) que até há pouco tempo era possível fazer somente ‘ao vivo’?
Um mundo novo
Pois para estas pessoas só restavam/restam duas opções: ou permaneceriam alheias a tudo isso e olhariam esse mundo de longe como se fosse algo distante e inacessível ou aceitariam o convite que deve ser feito pelos filhos e netos ou por outros colegas e amigos mais ousados, e mergulhariam nesse ‘mundo’ e descobriam os muitos benefícios que ele tem a oferecer.
Benefícios como reencontrar aquele amigo ou amiga dos tempos idos que era tão legal mas que se perdeu na poeira do tempo e agora pode ser que ele/ela esteja no tal Facebook e então, todas aquelas histórias do colégio da década de cinquenta ou sessenta podem ser revividas, fotos podem ser trocadas instantaneamente, lembranças podem, de repente, se tornar de novo, reais.
Benefícios como aprender (finalmente) a preparar aquele prato saboroso cuja receita havia se perdido na memória; benefícios mais práticos como pagar contas, comprar roupas, sapatos, produtos de beleza etc. e etc.
Enfim: as possibilidades de interação que a internet possibilita são inúmeras e hoje já se sabe que a faixa etária dos 60+ está cada vez mais conectada, mas é importante ressaltar que entre os mais velhos as vantagens oferecidas pelo conhecimento das ferramentas existentes na WEB vão além do imediatismo, pois o estímulo cognitivo que essas atividades proporcionam também favorece o cérebro e impede ou retarda o aparecimento de doenças mentais como já mostramos no Plena aqui e aqui.
Diante disso, é cada vez mais comum que algumas instituições, como os residenciais para idosos, ofereçam entre as atividades diárias, oficinas semanais de tecnologia e informática, algo bem melhor, realmente, do que simplesmente ligar a televisão e deixá-los lá, como infelizmente, acontece na maioria destes lugares.
Mas este não é o caso do Residencial Santa Cruz, de São Paulo, que passou a oferecer oficinas de aprendizado de novas tecnologias e tem proporcionado aos seus moradores verdadeiras ‘descobertas’. Segundo o gerente de tecnologia da informação do local, Alexandre Nadalutti, a ideia das oficinas surgiu quando ocorreu a percepção de que a maioria dos residentes “não utilizava os equipamentos disponíveis na biblioteca por falta de conhecimento”.
A partir daí verificou-se que alguns deles nunca haviam tocado em um teclado ou mouse, enquanto que outros já utilizavam smartphones e redes sociais.
No entanto, apesar do desinteresse inicial detectado, alguns moradores começaram a participar das oficinas e, atualmente, segundo a instituição, já “realizam jogos de memória, pinturas de mandalas e desenhos na tela do computador. (…) Embora os avanços sejam geralmente lentos, algumas oficinas têm poucos participantes mas a constância e a própria troca de informações entre os residentes fortalece o projeto semana a semana”, ressalta ele.
E, além de se tornarem mais sociáveis, as atividades também funcionam como estimulantes mentais e emocionais, pois, segundo Nadalutti “é impressionante ver o ganho dos residentes mais afeitos à tecnologia em utilizar redes sociais como Facebook, WhatsApp ou jogos de raciocínio”.
Nadaluti também destaca que a estratégia utilizada pela equipe que gerencia as oficinas, é “buscar na vivência do residente o que atrai sua atenção e daí aplicar a tecnologia mostrando a versatilidade do computador. Sobre isto, ele também conta o seguinte: “Uma das residentes, dona Marlene, tinha dificuldades motoras e não falava, mas com o apoio das cuidadoras descobrimos que adorava música italiana. Com esse dado, selecionamos alguns vídeos do Andrea Bocelli no YouTube. Para nossa surpresa, além de acompanhar o ritmo da canção com a cabeça, ao final da play list, a vimos tentando usar o mouse para encontrar outras músicas”, exemplifica. Outro residente, que nunca havia tido contato com computadores, senhor João Toríbio, recentemente falecido, em conversa durante a oficina, falou com muita nostalgia de sua infância numa fazenda e com a ajuda do Google Maps, localizamos a propriedade e sua cidade natal, o que o tocou bastante”.
Nadaluti também destaca que a estratégia utilizada pela equipe que gerencia as oficinas, é “buscar na vivência do residente o que atrai sua atenção e daí aplicar a tecnologia mostrando a versatilidade do computador. Sobre isto, ele também conta o seguinte: “Uma das residentes, dona Marlene, tinha dificuldades motoras e não falava, mas com o apoio das cuidadoras descobrimos que adorava música italiana. Com esse dado, selecionamos alguns vídeos do Andrea Bocelli no YouTube. Para nossa surpresa, além de acompanhar o ritmo da canção com a cabeça, ao final da play list, a vimos tentando usar o mouse para encontrar outras músicas”, exemplifica
Acompanhe a conversa que tivemos com o gerente de tecnologia Alexandre Nadalutti.
Quantos idosos participam das oficinas?
R. Varia de semana para semana. São quatro as residentes mais frequentes, mas a média é de duas a três pessoas
Quais as médias de idades?
R. Terezinha, 85; Leik, 87; Ney, 82 e Regina, 92.
O interesse despertado foi maior entre homens ou mulheres?
R. Mulheres, pois atualmente este é o público do Residencial Santa Cruz. O único participante masculino faleceu recentemente.
Em relação aos assuntos tratados durante a oficina “ jogos de memória, pinturas de mandalas e desenhos na tela do computador”: quais são os que despertam mais interesse?
R. Certamente são as redes sociais com destaque para o WhatsApp que várias residentes já utilizam como forma de comunicação com familiares.
Você diz que “ é impressionante ver o ganho dos residentes mais afeitos à tecnologia em utilizar redes sociais como Facebook, WhatsApp ou jogos de raciocínio”, gostaria que ‘os ganhos’ fossem detalhados, se possível com exemplos e personagens.
R. Percebe-se um ganho sobretudo na interação desses idosos. Seja com a própria família ou conhecidos. O preenchimento do tempo ocioso e o aumento da curiosidade sobre o que mais o computador pode oferecer também são considerados ganhos. Por exemplo, posso citar a Dona Terezinha que veio pedir ajuda para interagir com um site de uma entidade da qual ela é sócia e apoiadora. Queria saber se existe algum aplicativo daquela entidade que poderia ser colocada diretamente no celular e outros questionamentos que demonstram um interesse crescente pelo assunto.
Sobre o uso do Facebook: há alguma história que queira ressaltar? Algum idoso que tenha encontrado um antigo amigo ou algo assim? Ou algum outro caso?
R. A dona Ney encontrou amigos que há décadas não via através do Facebook e WathsApp.
Fonte: Assessoria de Imprensa InFato