A vida não foi nada fácil na lida do cultivo de café. O trabalho era árduo e a relação com o barão do café era difícil, pois este que não sabia a diferença entre o trabalho escravo e o remunerado no trato com os imigrantes. Depois de alguns anos, a família de Antonia mudou-se para São Paulo. Antonia já havia se casada com Pedro, rapaz que conhecera na fazenda.
Na capital, Pedro encontrou emprego em uma fábrica de vidro e Antonia todos os dias
saía logo cedo da Vila Ipojuca, pertencente ao Bairro da Lapa, onde morava o casal, ia até onde está hoje instalado o CEAGESP para coletar lenha na mata, voltava carregando a lenha nas costas e vendia nas casas da vizinhança. Nesta época, as famílias usavam fogão a lenha ou uma lata de serragem socada que permitia que os mais pobres cozinhassem e mantivessem o fogo aceso durante todo o dia.
Com o tempo, a chegada dos filhos, a perseverança e concentração no trabalho, o casal comprou um terreno e construiu uma casa com amplas janelas, sala e quartos. Ali também havia um quintal enorme onde Antonia criava galinhas, porcos e cabritos, além de uma pereira e outras árvores frutíferas. A água era retirada de um poço e a energia elétrica era precária.
Nessas primeiras décadas do século XX, na cidade de São Paulo existia um único grande hospital, a Santa Casa de Misericórdia, o serviço público de saúde era praticamente inexistente. Quando havia alguém doente na família, apelava-se para as benzedeiras ou para o farmacêutico
do bairro. Há 80 anos, quando foi criada a primeira emissora de televisão no Brasil, o primeiro aparelho que existia estava no bar, da esquina da casa de Antonia, onde os vizinhos se reuniam para assistir a grande novidade. Na farmácia da vila, estava instalado o único telefone. Se a Nona Antonia, lenhadora e benzedeira, depois de 121 anos, desembarcasse novamente no Porto de Santos e se deparasse com fogões a gás ou elétrico, microondas, telefone celular, água e luz elétrica dentro de casa à vontade e inúmeras outras modernidades que a tecnologia nos proporciona hoje, o que será que ela diria ??