Cohousing: modelo de moradia que combina o hardware da construção com o software da comunidade

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E se você estiver se perguntando: mas como os cohousings se diferenciam dos condomínios, faremos  uma analogia com os primórdios da era digital…

Edgar Werblowsky**

Temos que reinventar a maneira de viver e  morar para que, assim, possamos  recuperar a convivência que existia antigamente entre vizinhos, antes que  esta atual individualização extremada tomasse conta das nossas vidas e nos deixasse no deserto árido do isolamento e da solidão.

Muitos de nós podemos até ter sonhado ou idealizado um modo de morar e viver com amigos. E, por mais que esta hipótese se pareça mais com um sonho nunca realizável, existe sim, um modelo de moradia que busca recriar esse sonho e dá a ele contornos práticos e factíveis.

 

Cohousing nos EUA – foto divulgação

Tudo começou  na Dinamarca durante os anos 1970.

Foi ali que este sonho ganhou nome,  tecnologia, e passou a se chamar ‘cohousing’. Sua pedra de toque seria a combinação entre a vida privada e a vida comunitária. Isto para que as pessoas pudessem desfrutar do melhor de cada uma delas de uma forma cooperativa e na qual pudessem oferecer, mutuamente, suporte e apoio. Dessa forma,  a potencialização dos talentos individuais e o desfrute de uma vida em comum ocorreriam naturalmente.

Almoço coletivo  em uma moradia compartilhada. (foto divulgação).

Nesse cenário, a vida privada se mantém e a ela seria adicionada uma espécie de ‘alma’: como se esta fosse o ‘recheio’ do bolo ou como o software ‘existe’ para o hardware… Esta alma, por sua vez, é que faria dessa união de casas ou apartamentos uma verdadeira comunidade.

E tudo isso ocorreria através de interações intencionais por meio, por exemplo, de  jantares comunitários; cuidados compartilhados com a horta em equipe; organização de reuniões, cursos ou palestras variadas que atendessem aos interesses individuais; atividades como  trabalhos manuais, paisagismo ou de apoio aos membros, entre muitas outras possibilidades.  Tudo isso  seria possível e dependeria apenas dos respectivos interesses e  personalidades de cada morador (cohousing).

E dessa forma a vida vai ficando muito mais agradável e colorida, pois  cada membro da comunidade é reconhecido pela sua individualidade, habilidades, interesses e participação no todo.

Quitanda de um cohousing nos EUA.

O resultado: o desenvolvimento de um senso de pertencimento, uma das nossas
supremas necessidades, no alto da hierarquia da pirâmide de Maslow.
Pois, a partir dessa premissa, foram surgindo  diversas modalidades de cohousings, como os cohousings seniors ( para membros acima dos 50 ou 55 anos); os cohousings multigeracionais; cohousings urbanos e os cohousings rurais (para os adeptos de uma vida  em contato com a natureza).

Cohousing é uma experiência de moradia compartilhada que favorece e estimula amizades, afinidades e encontros agradáveis e inspiradores como este da foto acima. ( imagem-divulgação)

E se você estiver se perguntando: mas de que forma os cohousings se diferenciam dos condomínios, para facilitar a compreensão, faremos  uma analogia com os primórdios da era digital.

No começo, quando o foco residia  na criação dos primeiros microcomputadores, os  fabricantes acreditavam que estes seriam  o grande ativo  e, portanto, os grandes geradores de caixa e lucros para empresas. Isto foi levado tão a sério que eles relegaram a criação dos códigos para sua utilização, a linguagem, a interface entre os humanos e as máquinas; para empresas juniores que se propunham a aceitar contratos de criação desses softwares (os chamados sistemas operacionais).

Contudo, em uma reviravolta da história, podemos dizer que ‘ Davi engoliu  Golias’ e se transformou no novo ícone desta era, fator que acabou relegando as empresas fabricantes das máquinas ao segundo plano.

Voltando ao  cohousing: esta forma de moradia combina o hardware dos condomínios (casas, apartamentos, vias de circulação, salas comuns, piscinas, ateliês etc) ao software da criação da comunidade.

Vale lembrar que quando falamos sobre criação da comunidade, estamos falando de um processo, de uma sucessão de encontros, conversas, alinhamentos, descobertas, discussões, consensos, risos e choros, todos focados na direção da consecução do objetivo de criação do cohousing.

Estes encontros, por sua vez, aproximarão as pessoas e vão transformá-las, lentamente, de simples candidatos a morar juntos, em verdadeiros membros de uma comunidade que possuem laços em comum e constroem uma relação baseada no respeito, na troca de experiências e nas afinidades mútuas.

Termino esse artigo com uma frase que explicita bem esse processo e a
transformação gerada nas pessoas por parte de um participante destas reuniões: “No início, eu queria saber e decidir onde iria morar. Depois de tantos momentos juntos, eu reformulei meu desejo: não importa mais onde, desde que seja com vocês”.

Ou seja, a alma da comunidade foi criada!

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**Edgar Werblowsky é coordenador do Curso Internacional de Cohousing 
www.cursocohousing.com.br

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