Idosos tratados como móveis velhos: esse é o tema do filme “Mobília” que você assiste aqui no Plena

Idosos ‘transformados’ em mobílias: esse é o tema do curta-metragem ‘Mobília’.

Esta  história  é mais comum do que se imagina. É assim: uma família como qualquer outra _ marido, mulher, dois filhos adolescentes _  resolve ir para a praia, afinal, todos querem aproveitar o final de semana ensolarado. Nada mais normal e comum, certo?

Claro que isso é mais que comum e, inclusive, é algo bem legal de se fazer…

Mas o que não deveria ser comum, nem legal ou aceitável, é que deixassem para trás, como uma mesa velha ou um sofá antigo, uma senhora… Pois é, mas acredite: ninguém se lembrou de levá-la e, sozinha na casa vazia, ela parece ter se ‘transformado’ em mais um dos móveis que decoram a casa… Um móvel velho e abandonado, bem entendido! Um móvel daqueles que ninguém mais quer por perto. Um móvel antigo, que não combina mais com o restante da decoração e deve passar desapercebido… Não é assim que muitos jovens e até não tão jovens enxergam os que passaram dos mais velhos? Como peças indesejáveis e ‘fora de moda’?

Pois, esse é o ponto de partida do curta-metragem ‘Mobília’, dirigido pela cineasta Mariza Pinto*.

Um ponto de partida que embora pareça comum e banal, guarda surpresas que provocam reflexões importantes nesses nossos tempos de desapreço pela velhice…

Eu não vou dar spoiler, só um lembrete:  os ‘velhinhos’ do filme não são assim tão submissos e ‘bobinhos’…

Assista ao filme _ abaixo _ e depois, leia a entrevista que fizemos com a Mariza Pinto, diretora do filme:

1- Mariza, como surgiu a ideia do roteiro para o filme? De onde veio a inspiração?

No final dos anos 1990,  ministrei cursos de teatro no Centro de Cultura “Arte em Construção”, e em uma das turmas, que geralmente era formada por jovens, entraram três senhoras: 56, 60 e 79 anos. Tive que rever o curso e me adaptar aos novos desafios geracionais. Mas para minha surpresa, eles construíram uma relação linda, de afetos, de cuidados, realmente um grupo de teatro. Em um dos exercícios de improvisação, saiu uma cena de motel e mesmo com a diferença de idade, ficou muito criativa e, no final, a Alzira falou que nunca tinha entrado num motel e que não queria morrer sem conhecer.

2- Porque o nome “mobília”?

Final de ano a família gosta de estar junto, muitas vezes combinavam de viajar, mas ninguém perguntava para as velhas da família qual era a opinião delas. Nada. Simplesmente se resolvia,  depois comunicavam onde e como seriam as festas de final de ano e pediam que elas estivessem prontas . E um dia minha mãe, Alice, resolveu mostrar que estava viva e reclamou dizendo: “Vocês não podem nos tratar como objetos que vocês pegam, colocam no carro e levam! Eu não sou mobília!”

3- Vocês querem passar alguma mensagem? Gostaria que detalhasse.

Claro que sim. Todos os vídeos e filmes que produzi têm sempre mensagens e quase sempre de cunho social. A arte tem um compromisso com a vida, com a comunidade e as pessoas que vivem nela.

No caso do ‘Mobília’, aparece a importância dos cuidados com os idosos, de tratá-los como pessoas normais que pensam, que têm vontades, desejos, enfim, falamos de sonhos, muitas vezes simples, mas que são de uma importância vital para qualquer ser humano, para que se sintam vivos. Nas apreciações mediadas que fazemos, rola um bate papo muito bom. Algumas falam que saem até hoje, vão pro baile, piqueniques, fazem pequenas viagens e outras lamentam porque ‘abriram mão’ de ser mulheres e amigas para se enquadrarem nas “necessidades” da família. Também lamentam terem deixado de ser  pessoas ativas para, exclusivamente, se tornarem avós, mães e sogras. É triste que as pessoas  abram mão de suas próprias vidas.

Mariza Pinto-diretora do filme/foto Liliane Mantoni

4- A impressão é que o filme quer chamar a atenção para o desprezo que alguns idosos sofrem dentro de suas próprias casas. Faz sentido ou não?

Sim. No nosso país, alguém com 50 anos já é considerado velho. Lógico que sei que existem velhos que têm vidas ativas, mas muitos são ‘mobília’.

É como se fôssemos conhecer a casa de alguém e falassem assim: “aqui é a sala, tem sofá fofinho, as cortinas leves, televisão, puff, minha mãe, poltrona e quadros na parede.” Tratar qualquer pessoa com indiferença é uma violência, não é a toa que criaram uma delegacia especializada em casos envolvendo idosos.

5- Se quiser informar algo mais, fique à vontade.

Obrigada pela oportunidade de falar sobre o ‘Mobília’ e aproveito para convidar vocês a conhecerem nosso canal no You Tube que tem vários outros filmes pra vocês apreciarem.

Vou deixar alguns links para facilitar a procura, basta clicar neles que abrem os filmes.

Mobilia Apreciação Mediadahttps://youtu.be/CP0KqAOUYGk

Mobilia Apreciação Mediadahttps://www.youtube.com/watch?v=Qs9gobWXxro&t=8s

Fritando Ovohttps://www.youtube.com/watch?v=qX_-tXe9oAQ&t=1s

**Quem é a diretora Mariza Pinto

Professora licenciada em artes plásticas e cênicas, com especialização em Linguagens das Artes. Foi professora da rede particular e estadual de ensino; ministrou oficinas de teatro, audiovisual, Cinema na Escola (cineclube), Stopmotion e Roteiro. Filmografia: 2011 “Gênio da PET”/Documentário Ficcional; 2012 “Mansos”/Ficção; 2013 “Padre Befa”/Programa Eleitoral; 2014 “Fritando Ovo”/Ficção e 2017 “Mobília”/Ficção.

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