“O Fim do Envelhecimento” – Um livro útil e necessário

Um livro surpreendente – este é o adjetivo que se impõe ao se tratar de “O Fim do Envelhecimento”, de Aubrey de Grey e Michael Rae – lançado, inicialmente, em 2007, na Inglaterra e que em 2019, ganhou sua tradução para o português  depois de já ter sido traduzido para o espanhol, alemão, russo e italiano.

Christiane Brito*

É surpreendente por duas razões: o aparente paradoxo de seu título e tema, e a leveza do tratamento de um tema tão árido.

“O fim do envelhecimento” – “Ending Aging”, no idioma original – não indica, como se poderia supor, o término de um processo inexorável, inerente ao passar do tempo, mas investiga e propõe formas para se lidar com os males a ele associados. Seria, para se dizer assim, uma proposta de rejuvenescimento, mas vai, além disso, pois é solidamente baseado nas conquistas mais avançadas da ciência.

O cientista e autor Aubrey de Grey.

Este livro – que, em sua trajetória de pouco mais de uma década, já é visto como um clássico em sua especialidade –  apresenta uma profunda e acurada investigação em torno dos processos celulares ligados ao envelhecimento. A ação dos radicais livres a nível celular, a produção de resíduos tóxicos no metabolismo e seus resultados maléficos, alterações nos genes que resultam em cânceres e moléstias cardiovasculares, a formação de placas de dejetos celulares acumulados que resultam em males como o Alzheimer ou Parkinson – estes são alguns dos temas investigados.

Os defeitos dos mecanismos celulares que resultam nestas moléstias, estão no alvo de Aubrey de Grey, o bio-gerontologista da  Universidade de Cambridge (Reino Unido) cujas idéias revolucionaram a concepção do que seja o envelhecimento e a forma de lidar com ele.

Capa do livro ‘O fim do envelhecimento’.

Aubrey de Grey propõe uma “guerra” ao envelhecimento que, em sua opinião, deve ser encarado  e combatido como uma doença, e não como um fim irremediável dos seres humanos. 

Mobiliza, nessa guerra, os mais avançados recursos e conhecimentos da ciência – mas os apresenta num texto brilhante, didático sem perder o rigor da ciência, usando metáforas compreensíveis para expor a dimensão dos problemas provocados quando há mal funcionamento celular. Por exemplo, quando trata da profusão do “lixo” gerado no processo metabólico, ele chega a comparar a situação das células com os problemas de grandes cidades como Londres ou Nova York quando ocorre uma greve de lixeiros – os resíduos  se acumulam e os problemas são facilmente compreensíveis.

Aubrey de Grey demonstra conhecer seu tempo e os preconceitos existentes, que podem ser obstáculos à pesquisa científica, sobretudo nesta área tão sensível que diz respeito à duração da vida humana, em que atuam processos vistos por muitos como “naturais” e “imexíveis”.

Por isso, em certa altura, faz quase um apelo aos leitores para que se dirijam a governos e autoridades (deputados principalmente) para pressioná-los a favor de pesquisas médicas e biológicas, como aquelas que são feitas com células tronco, vitais para a ampliação do conhecimento e da ação humana para deter o envelhecimento e combater os males que provoca, numa ação em que o conserto de peças e processos defeituosos, a nível celular, facilitaria o não envelhecimento de corpos e mentes.  “Conserto” cujo resultado poderia impedir o aparecimento de doenças degenerativas como mal de Alzheimer, mal de Parkinson, câncer e doenças cardiovasculares.

O livro apresenta também, logo nos primeiros capítulos, o centro de pesquisas criado por Aubrey de Grey, na Califórnia (EUA), em 2009, para expor, difundir e aprofundar suas idéias – a SENS Research Foundation (“Fundação de Pesquisa SENS”).

Aubrey de Grey demonstra como os males do envelhecimento resultam do acúmulo de danos causados pelo metabolismo nas células e moléculas do corpo. A “guerra ao envelhecimento” que propõe tem o objetivo de consertar estes estragos celulares e moleculares, evitando e combatendo as moléstias que causam.

A proposta é ousada, como o são aquelas que visitam e ultrapassam as fronteiras do conhecimento científico. Mas a leitura de “O Fim do Envelhecimento” pode ser prazerosa e muito útil para estudantes, especialistas, pesquisadores ou aqueles que querem conhecer mais sobre a vida humana.

*Christiane Brito  é jornalista.

(imagem de abertura pixabay/geralt)

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