Em tempos de excesso de informação, ou informações pontuais e muito bem direcionadas, estamos assistindo a construção de um cristianismo ultraconservador ou, até mesmo, a desconstrução do cristianismo da partilha e da solidariedade. Mas não se engane…
Lucas Ferreira *
Claro que a religiosidade e o ensinamento de Jesus ainda contam muito. Até porque Cristo optou pelos mais pobres, pelos excluídos da sociedade de seu tempo e os defendia de injustiças, males e hipocrisias. Podemos rapidamente lembrar de como impediu o apedrejamento da “adúltera”, do comércio que utilizava-se do templo para explorar a fé alheia, dos hipócritas de plantão que subiam no altar e batiam no peito
vociferando sua santidade, a quem Jesus comparou com sepulcros caiados.
A lista é imensa e está toda no evangelho.
Com tristeza assistimos hoje a uma desvirtuação do sentido do cristianismo para justificar condutas criminosas, para persuadir pessoas mais simples com promessas e ilusões, quando não para enriquecer e pregar o ódio.
Gente, pregar o ódio, logo em nome de Jesus que amou sem limites, que se entregou pelas pessoas, que conversou com a samaritana excluída, que sentiu compaixão pelos renegados coletores de impostos e leprosos…
Sim. Esse Jesus que alimenta igrejas nascidas da vontade de uma pessoa somente, não é o Cristo que ama. O Cristo que prometeu vida plena para todos, que partilhou o pão, que curou, que pediu a seus seguidores que não levassem nada além das roupas, não é esse ser estranho que dizem por aí, que promete casa, carro, luxo.
Liberte-se dos que falam sobre ele e conheça-o no evangelho. Você não vai ouvir da boca de Jesus, que bandido bom é bandido morto, que o LGBTQI+ deve morrer ou irá para o inferno.
Ao contrário, irá ouvir que venham até ele todos os cansados, oprimidos, que terão alívio. Ouvirá dele que as prostitutas precederão aqueles que dizem “Senhor Senhor” mas não entrarão no Reino dos Céus.
O Jesus verdadeiro, do evangelho, da história, não cometeu sequer um ato de violência, não cometeu sequer um ato de condenação dos pobres e vítimas.
Não se enganem. Os fariseus estão aí, os falsos profetas, da prosperidade e da cegueira estão se espalhando, aos montes, em algumas crenças religiosas. Apropriam-se da fé, da ingenuidade e vendem objetos, águas, óleos, cruzes e mais um monte de sinais que não são reconhecidos por Deus. Agridem, matam, são intolerantes à fé do outro. Enchem a boca para condenar aqueles que Jesus nunca condenou.
Jesus é o maior revolucionário da história e não aceita as correntes que impõem.
Ele fala por si, por sua vida e seus exemplos. Gritam nas TVs, maquiados por dentro e por fora, vendem vaidade, sobem nos palcos e ensurdecem a voz do mestre e se apresentam como porta vozes daquele que nasceu no abandono e na solidão de um estábulo.
* Lucas Ferreira é professor e escritor. Para saber mais sobre o trabalho literário dele acesse aqui https://clubedeautores.com.br/