O GRITO DE DESESPERO QUE NINGÚEM OUVE.
Wanderley Parizotto – economista
Meu pai tem Alzheimer há mais de 20 anos. Sei dos gastos que minha família tem com ele.
Em dezembro ele foi infectado em Covid-19. Depois de 15 dias internado, saiu sem andar, falar, comer sozinho, enfim, perdeu toda sua já precária autonomia.
Aos gastos anteriores somaram-se novos, tais como cadeiras de rodas e outra de higiene pessoal, um enfermeiro para nos ajudar em tarefas que não sabíamos fazer como banho, avaliação das condições gerais e outros.
“Segundo o Dr. Leandro Minozzo, em uma das palestras na plataforma de ensino do Alzheimer360, estima-se que o gasto para cuidar de uma pessoa com Alzheimer no Brasil seja de, em média, 35 a 40 mil reais por ano. Nos Estados Unidos, a estimativa é de 50 mil dólares anuais. Entram nessa conta todos os custos com medicações, alimentação, tratamentos e cuidados médicos.
Segundo um levantamento da Alzheimer Association, organização norte-americana de combate à doença, os gastos com um idoso com Alzheimer são 3 vezes maiores do que com idosos que não tem a doença. “ (Dados de 2017).
Diante disso, levantei custos diretos e indiretos para cuidar de alguém com Alzheimer, valores médios mensais, incluindo tudo, inclusive, o médico do SUS. Adicionei o custo de um cuidador profissional ou familiar. Considerei que no caso do cuidador familiar, esta pessoa deixou alguma atividade remunerada para cuidar, tendo como perda de remuneração um salário mínimo somente.
Na melhor das hipóteses, sem psicólogo para amparar a família, sem geriatra, sem clínica nos casos mais agudos, sem alimentação especial, ou seja, o básico necessário, cheguei ao valor de R$ 2.000,00 por mês, aproximadamente.
Se o salário médio do brasileiro é de R$ 2.300,00 e a maior parte de aposentados recebe, em média, um salário mínimo mensal, como cuidar de alguém acometido pelo mal de Alzheimer por anos?
Esta é uma das questões de saúde pública mais graves e importantes do país.
Contudo, o tema passa invisível pelas autoridades competentes. Ele também não existe nas discussões de política pública, com raras exceções.
Campanhas para diagnóstico precoce, informações para esclarecer sobre a doença, sobre os cuidados, como mitigar seus efeitos e etc., ações de caráter informativo simplesmente, que custam quase nada e poderiam usar a facilidade de informar via mídias sociais e outros meios, deveriam ser implementadas, caso houvesse vontade política.
Qualquer governo, nas três esferas – Federal, Estadual e Municipal – poderia fazer. Sei que é pouco, mas já seria alguma coisa.
Atualmente, existem mais de dois milhões de brasileiros com idade acima de 60 anos, com algum tipo de demência. Destes, cerca de 1,3 milhão possuem Alzheimer.
Como cuidar de uma pessoa com demência com a renda média de um brasileiro? Como cuidar de uma pessoa com Alzheimer quando metade da população brasileira, apta a trabalhar, ou está desempregada ou vive de bicos?
Mas são velhos não é ?
Quem se importa, a não ser aqueles que sofrem diretamente com o problema?
Quem tem dinheiro cuida, sem maiores problemas financeiros.
Quem não tem cuida também, abdicando de tudo.
Estes gritam todo dia, pedindo ajuda, mas ninguém ouve.