HISTÓRIAS PLENAS: Conheça Amauri Marcondes, um pedreiro que (sim!) também é escritor

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Com uma trajetória atípica, sua história comprova: a melhor forma de começar a gostar de ler é através de gibis e quadrinhos

Ana Claudia Vargas – PortalPlenaGente+

Como você imagina o dia a dia de um escritor? Quando ouve dizer que ‘aquela pessoa escreve livros’ logo a imagina em uma escrivaninha, com ares de intelectual, escrevendo de forma obstinada e distante da realidade? Muitos clichês envolvem a literatura e é normal que estas imagens apareçam em nossa mente. Em um país no qual a leitura continua sendo (infelizmente) um hábito de poucos*, tudo que se associa a ela também permanece distante da realidade ‘real’.

Nesse contexto, escritores ainda são vistos como seres que vivem reclusos em ambientes repletos de livros e que têm como única ‘função’ na vida escrever e escrever… Mas e se eu lhe dissesse que esta imagem nada tem a ver com a vida do escritor paranaense Amauri Marcondes Oliveira? Que ele escreve livros, sim, mas que sua profissão principal é a de pedreiro? Que devido à sua condição social, ele não pôde terminar  o ensino fundamental, mas é um leitor incansável desde criança? Você ficaria espantado? Pois, esta é a exata realidade de Amauri. Ele é autor de _ até o momento _ cinco livros;  também é pedreiro e, como tal, executa todas as funções árduas que este trabalho exige.

Mas como ele consegue conciliar a pesada  rotina de sua profissão com  a tarefa de escrever histórias, de imaginar personagens e de inventar tramas e narrativas para estes personagens? Na entrevista a seguir, Amauri conta como começou sua ‘paixão’ pelos livros, relata as dificuldades que enfrentou desde a infância _ pois cresceu em uma zona rural e livros não faziam parte de seu cotidiano _ e, sobretudo, nos mostra que inserir o hábito da leitura no dia a dia não requer nenhuma ‘mágica’ ou grande esforço: basta apenas se interessar pelo primeiro livro, se ‘perder’ nas páginas de uma boa história e pronto! Como bem comprova a história de Amauri, a literatura tem o dom de nos envolver e levar para ‘mundos’ que podem se transformar na matéria de nossas próprias narrativas. Na verdade, a literatura talvez seja a arte mais inclusiva e imaginá-la de difícil acesso ou ‘para poucos’ é um grande erro! A literatura está em toda parte, em todo canto e sua história nos mostra que vivenciá-la é algo que pode nos transformar em bons leitores e (quem sabe?) em autores de nossos próprios escritos. Em um país que continua sendo um túmulo para as artes literárias*, a trajetória de Amauri, um brasileiro que ‘constrói’ seus livros enquanto também executa tarefas árduas em sua rotina como trabalhador braçal, nos oferece alento e certa esperança de que um dia o Brasil deixe de ser este país que tanto desprezo tem pelos livros.

Acompanhe a conversa que o PortalPlenaGente+ teve  com Amauri:

Qual foi o seu primeiro contato com um livro?  Você se lembra do título? Se sim, por que o considera marcante?

Amauri Marcondes: O primeiro livro que li foi “Tubarão”, de Peter Benchley, e foi um marco na minha trajetória de leitor. Uma narrativa instigante e empolgante. Comprei o livro na banca de jornal, uma edição simples de papel jornal. Tenho ele guardado até hoje. E olha que já se vão quase quarenta anos disso.

Livro: Tubarão - Peter Benchley | Estante Virtual
Tubarão: o livro que ‘fisgou’ Amauri / Imagem Estante Virtual

Você cresceu numa zona rural e não terminou o ensino fundamental. De que forma surgiu o gosto pela leitura? Alguém o incentivou?

Amauri Marcondes: Passei uma breve temporada na casa de meu irmão Tonho, casado, que morava na cidade. Ele tinha uma coleção de gibis do faroeste “Tex”. Foi com esses gibis que ingressei no mundo dos quadrinhos e não parei mais. Anos mais tarde, quando comecei a trabalhar e ganhar meu próprio dinheiro, comprava todos os tipos de gibis, tanto de faroeste quanto de super-heróis.

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Stephen King: outro autor que inspirou Amauri Marcondes – Imagem divulgação

O que o levou a querer escrever suas próprias histórias?

Amauri Marcondes: Com o passar dos anos comecei a ter algumas ideias (não muito originais) e comecei a colocar no caderno. Queria criar minhas próprias estórias. Não foi nada fácil conseguir tornar minha escrita em algo que se pudesse ler.

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Seus livros são influenciados por suas vivências, memórias etc.? Fale sobre isso.

Amauri Marcondes: A experiência de vida foi e é fundamental na hora de escrever. Mas a influência mesmo é as leituras de gibis, livros e filmes. Como nunca tive preconceito com nenhum gênero, acredito que isso tem me ajudado na hora da escrita. Sempre gostei de ler ficção cientifica, terror, aventuras, mistérios, dramas etc. Se o livro é bem escrito e tem um tema interessante, eu leio.

“Com o passar dos anos comecei a ter algumas ideias (não muito originais) e comecei a colocar no caderno. Queria criar minhas próprias estórias.”

 

Amauri nasceu em Corbélia, no interior do Paraná.  De família pobre, teve poucas oportunidades de estudo, por isso, tornou-se autodidata após terminar o ensino fundamental. Hoje, trabalha como mestre de obras na construção civil para conseguir o sustento diário, mas também trabalhou ‘duro’ para desenvolver seu estilo como autor. Amauri é autor dos livros “Trajetória rumo ao desconhecido”; “O regresso”; “A jornada” ; “O homem anônimo” e ‘No tempo que o rei jogava”. (imagem arquivo pessoal)

Você já escreveu cinco livros, o que não é pouca coisa. Conte um pouco sobre seu dia a dia enquanto escritor: dias e horários que escreve; se tem algum hábito para organizar sua rotina…

Amauri Marcondes: Geralmente escrevo nos finais de tarde, quando chego do trabalho principal. Minha renda ainda vem do trabalho de pedreiro. Mas, às vezes, quando estou com algumas ideias martelando incessantemente na cabeça, escrevo nos finais de semana também e abdico do ócio.

Amauri durante sua ‘jornada’ como autor em evento de divulgação de seu último livro “No tempo que o rei jogava” . Imagem arquivo pessoal

De que forma concilia a escrita com o trabalho pesado que realiza como pedreiro?

Amauri Marcondes: Às vezes, não estou com disposição para escrever, por isso não o faço todos os dias. Quando não consigo colocar a ideia do dia no caderno (ainda escrevo no caderno até hoje. Flui melhor a escrita. Só depois que reescrevo no computador), faço anotações para não correr o risco de esquecer e perder uma boa ideia.

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Tex, um dos personagens de westerns mais longevos dos quadrinhos, começou a ser publicado no Brasil em 1951. Também foi um dos muitos livros lidos por Amauri Marcondes.

 

No seu site está escrito que você ‘trabalhou duro’ para desenvolver sua escrita: gostaria que contasse mais sobre como foi esse ‘trabalho duro’.

Amauri Marcondes: Como eu lia muitos gibis no começo, não tinha muito claro como desenvolver uma narrativa em texto. Quando comecei a ler livros, passei a ter mais noção. Só que ler é uma coisa, alinhar seus pensamentos e colocar no papel é outra coisa bem diferente. Requer prática e treinamento. Foi o que fiz. Levei muitos anos praticando até sair algo valesse a pena alguém ler.

O escritor ao lado dos filhos que, segundo ele, já possuem o hábito da leitura. Imagem arquivo pessoal.

Você também informa que leu muitos gibis e livros para se aprimorar. Quais foram estes gibis e livros? Poderia citá-los?

 Amauri Marcondes: Como já informei, li livros como “Tubarão” de Peter Benchley, “Assassinato no Expresso do Oriente”, de Agatha Christie (li muitos livros dela), e também li muitos livros do Stephen King. Sidney Sheldon, George R.R. Martin, José de Alencar, Jorge Amado, Machado de Assis e tantos outros… É impossível enumerar todos. Nos quadrinhos, li muito Tex, Zagor, Ken Parker, oriundos dos quadrinhos italianos. Dos quadrinhos americanos, li muito Homem Aranha, Capitão América, Hulk, Vingadores Super-Homem, Batman e muitos outros.

“Como eu lia muitos gibis no começo, não tinha muito claro como desenvolver uma narrativa em texto. (…) ler é uma coisa, alinhar pensamentos e colocar no papel é outra bem diferente. Requer prática e treinamento. Foi o que fiz.” 

O último trabalho de Amauri conta a história de Léo, um jovem fanático por futebol que tem a chance de assistir uma partida na qual seu ídolo, Pelé, é um dos jogadores. (imagem – divulgação editora Telha)

Hoje você incentiva seus filhos para que desenvolvam o hábito da leitura?

Amauri Marcondes: Sim. Meus filhos cresceram me vendo  ler e, talvez por isso, todos gostam de ler.

Sua família o apoia em sua ‘jornada de escritor’?

Amauri Marcondes: Apoia, claro. O incentivo é primordial em qualquer empreitada.

Quais são seus escritores (livros) favoritos?

Amauri Marcondes: Ainda hoje leio muito Stephen King, Edgar Rice Burroughs ePaulo Coelho. Mas meus livros favoritos ainda são os primeiros que li: “Tubarão”, “Assassinato no Expresso do Oriente” e “Tarzan”.

Há novas histórias sendo escritas? Se sim, poderia ‘falar’ um pouco sobre isto?

Amauri Marcondes: No momento, dedico meu tempo livre a desenvolver a segunda parte do livro “Maxyon”, intitulado “A Espada da Vingança” com coautoria do meu amigo Eduardo Paiva, desenhista e designer gráfico. A trama desse livro acontece 200 anos no futuro pós-guerra em um país fictício. A estória gira em torno de uma espada milenar desaparecida há um milênio. Encontrada numa caverna submersa, ela atrai a atenção de muita gente gananciosa que busca por ela motivada pela lenda que diz que seu possuidor terá poderes sobre-humanos. Apesar de ser no futuro, é um caminho aberto para falar sobre a guerra e seus malefícios, a maldade humana, a falta de esperança e a miséria que uma guerra traz a toda uma nação. Como tem uma pesquisa que diz que leitores de e-book preferem livros curtos de até 25 mil palavras, resolvi dividir Maxyon em duas partes. A primeira parte intitulada  “O despertar da Justiça” se encontra à venda na Amazon.

Se há algo que não foi perguntado e queira informar, fique à vontade.

Amauri Marcondes: Têm trechos de todos os meus livros no meu site: amaurimarcondes.com.br para quem quiser conhecer meu estilo de escrita. Tem ainda alguns artigos e contos. Obrigado pala oportunidade de falar sobre meus trabalhos.

*Segundo a pesquisa ‘Retratos da Leitura no Brasil’ nosso país “perdeu 4,6 milhões de leitores entre 2015 e 2019. O levantamento, feito pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural, foi realizado em 208 municípios de 26 estados entre outubro de 2019 e janeiro de 2020” (fonte O Globo). 

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