O cheiro do Brasil…

Nestes tempos no Brasil…

Wanderley Parizotto

Nestes tempos no Brasil…

Quando o cheiro de pessoas mortas pela peste, empilhadas em caminhões frigoríficos, a espera de uma vala nos cemitérios,  mistura-se com o ar 
Quando o cheiro da pólvora que assassina crianças negras, mistura-se com o ar
Quando o cheiro da ignorância mistura-se com o ar
Quando o cheiro do vírus mistura-se com o ar
Quando o cheiro da falsa fé mistura-se com o ar
Quando o cheiro das horríveis bestas fascistas mistura-se com o ar
Quando o cheiro da grana suja do pseudo-empresário, mistura-se com o ar
Quando o cheiro do sangue vertido das veias pela repressão, mistura-se com o ar
Resta ao vento soprar…

Soprando Ao Vento

Quantas estradas um homem precisará andar

Até que possam chamá-lo de homem?
Sim, e quantos mares uma pomba branca precisará sobrevoar
Até que ela possa dormir na areia?
Sim, e quantas balas de canhão precisarão voar
Até que sejam para sempre banidas?
A resposta, meu amigo, está soprando ao vento
A resposta está soprando ao vento
Sim, e quantos anos uma montanha pode existir
Antes que  seja dissolvida pelo mar?
Sim, e quantos anos algumas pessoas podem existir
Até que seja permitido que sejam livres?
Sim, e quantas vezes um homem pode virar sua cabeça
E fingir que ele simplesmente não vê?
A resposta, meu amigo, está soprando ao vento
A resposta está soprando ao vento
Quantas vezes um homem precisará olhar para cima
Até que ele possa ver o céu?
Sim, e quantas orelhas um homem precisará ter
Até que ele possa ouvir as pessoas chorar?
Sim, e quantas mortes ele causará até saber
Que pessoas demais morreram?
A resposta, meu amigo, está soprando ao vento
A resposta está soprando ao vento…

Bob Dylan: músico, compositor e escritor. Prêmio Nobel de Literatura 2016.

imagem de abertura – pixabay/2704056

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